Xamanismo tradicional; entenda

por Carminha Levy

Voltemos um pouco no xamanismo tradicional. Convém lembrar que o xamanismo data da aurora da humanidade e de acordo com Mircéa Elíade (o maior pesquisador até hoje do Xamanismo e da História das Religiões), toda a cultura nasceu da atuação do xamã e que não é por acaso que ele é considerado por Erick Newman o Herói da Consciência.

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Na minha prática de 46 anos atuando como psicóloga na linha junguiana transpessoal e psicodramática fui reconhecendo toda a similaridade das técnicas cientificamente elaboradas com a simplicidade, rapidez e eficiência das práticas de cura xamânicas. Este processo foi muito rico e criativo, pois me permitiu descobrir primeiramente no cotidiano do consultório o infinito universo xamânico e seus recursos para (ao ser iniciada), encontrá-lo na tradição oral dos meus mestres internos e externos e ser literalmente tomada por esta sabedoria.

A mais tradicional técnica de cura, encontrada em todas as vertentes do xamanismo é o Resgate de Alma; em minha opinião de psicóloga, a mais completa, rápida e eficiente técnica de cura; batendo de longe com seu potencial de cura em qualquer moderna e sofisticada terapia.

Vejamos comparativamente o que ocorre na terapia "científica", seja em que linha o terapeuta trabalhe, inicia-se por uma anamnese (histórico de vida e relato de sintomas) e segue-se um número não determinado de sessões. É como se o paciente fosse formado por camadas de neuroses (o que é real) e estas tem que ser cuidadosamente retiradas, enquanto o ego vai sendo fortalecido e o núcleo da neurose surgindo. Este núcleo é invariavelmente causado por um trauma; o paciente, ao sofrê-lo, enviou ao inconsciente para ser esquecido por não agüentar a dor e violência da situação.

A terapia demora o tempo necessário para que a lembrança volte, isto em linhas gerais e esquemáticas.

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No Resgate de Alma este mesmo processo é realizado em poucas sessões, às vezes quatro, sempre com todo o cuidado com o paciente e contando com o auxilio dos animais e mestre xamânicos, paciente e xamã abençoados por seus eus superiores – terapia transpessoal.

O processo: após relatar seu problema dando ênfase ao sintoma, o xamã pede que o cliente se deite (como na psicanálise) e explica o que vai ocorrer, pois é imprescindível a confiança, entrega e fé no processo para que haja sua permissão à entrada no inconsciente por parte do xamã. Os Eus Superiores são invocados, o Xamã pede permissão a eles para executar a cura. O ambiente é sagradamente preparado, honrando as quatro direções sagradas, os quatro elementos estão presentes e o xamã purificado e integrado em seu corpo-mente-espírito.

A partir da queixa (sintoma aparente), o xamã, acompanhado de seu animal de poder, vestido ritualisticamente e levando um "apanhador de alma", tal qual uma cestinha de pegar borboletas, no qual o pedaço de alma perdido (devido ao trauma) irá voltar.

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O animal de poder leva-o onde se encontra o pedaço de alma. Se o trauma ocorreu na infância, o xamã será levado à caverna das crianças perdidas. Lá, ele chama pelo nome do paciente e fica atento que a criança encontrada terá algo que ele viu no paciente; um anel por exemplo, um sinal de nascença, etc

O pedaço de alma (na forma da criança) não quer voltar, pois receia passar pela dor que cindiu sua alma. O xamã afirma que hoje o paciente é um adulto que saberá tomar conta e proteger a parte criança e finalmente a convence, ela diminui (no mundo xamânico tudo é possível) e ele traz para o paciente soprando no chakra do coração o pedaço de alma, selando com a maracá, sopra no chakra da cabeça, idem e diz: bem-vindo à sua casa. A cura está feita e é partilhada com o cliente.

No próximo texto farei as comparações com as técnicas científicas; os cuidados que o paciente terá com seu pedaço de alma e relatarei um caso específico detalhadamente. Veremos o que a psicologia herdou do Xamanismo. Axé na Luz!