Escritor propõe consciência intrauterina

por Aurea Caetano

“Encarcerado”, este é titulo do mais recente livro de Ian McEwan, renomado autor inglês. O livro é escrito a partir do relato em primeira pessoa, da “experiência” de um bebê, dentro da barriga da mãe, antes de seu nascimento.

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O texto desse autor está ancorado em dados recentes acerca do desenvolvimento neuronal da consciência e, de forma ficcional, amplia e propõe uma “consciência” intrauterina, a partir da qual o embrião/feto/bebê narra as experiências de sua vida.

De forma magistral, McEwan narra o momento no qual as redes neurais se constelam de forma a possibilitar o surgimento de um “eu”, o feto/narrador conta maravilhado este momento, ponto a partir do qual o feto começa a contar sua história.

 Pesquisas recentes demostram que o hemisfério direito do bebê está ativo desde o nascimento, prontamente disponível para a conexão afetiva entre mãe e filho, a qual gradualmente constrói o cérebro-mente do bebê.

Os estados emocionais da mãe determinam diretamente os primeiros estados emocionais de seu filho, construindo padrões na mente em desenvolvimento do bebê. Esses padrões vão ser utilizados para determinar a experiência relacional futura: uma mãe alterada transmitirá tristeza, raiva, frustração, ansiedade, medo ou terror diretamente para o seu bebê. Enquanto uma mãe alegre e feliz transmitirá sensações positivas e tranquilas.

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Em “Encarcerado”, o autor relata a relação do ainda feto com sua mãe, mostrando as ambivalências em relação a ela. O autor vai relatando a partir do ponto de vista de dentro da barriga como o feto vivencia e interpreta tanto as sensações quanto as percepções que tem do mundo; esta consciência flutuante “ouve” o que é dito perto dele e a partir daí vai construindo sua visão de mundo.

A partir do momento em que surgem seus primeiros flashes de consciência, o feto/narrador de McEwan vai constituindo o que será sua história e sua personalidade.  É uma totalidade construída e reconstruída a partir da relação entre a consciência primária e o mundo ao seu redor.

A genialidade do autor está em contar uma história a partir do ponto de vista de um narrador ainda não nascido mas “já vivo” e com vários esquemas mentais já em funcionamento.  Uma fábula que brinca com os limites do nascimento de uma mente incorporada, de um corpo ainda não nascido, mas que já interage com o mundo à sua volta.

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