Que vício te alimenta?

por Roberto Goldkorn

Recentemente assisti a um filme na TV, que gerou em mim contradições fortes. Era para ser um filme de terror, que eu gosto, mas na verdade era um filme de grande violência com corpos dilacerados e violência explícita e sem sentido. Enquanto assistia, me perguntava: “Por que estou vendo esse lixo?”. Mudava de canal, e como não tinha nada de bom, voltava quase como um viciado no filme “trash” sem final feliz.

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Porém, antes de dormir fiz uma meditação de limpeza para que o meu sono e meus sonhos não fossem obviamente contaminados com aquelas imagens toscas.

Tenho consciência de que como dizem os indianos Sarvam-annam, “tudo é alimento”, desde as conversas com os amigos, os filmes, que vemos, os textos que lemos, os lugares que frequentamos… Absorvemos, mais ou menos, tudo que nossos sentidos podem captar.

Se você está cercado por pessoas pessimistas ou negativistas, que têm uma visão tenebrosa do futuro, será muito difícil que esse alimento, não alimente alguma “doença” física ou emocional e gere em algum momento medos e apreensões.

Quando se tem consciência disso, beleza, algo sempre pode ser feito, podemos reagir, lutar, nos afastar, nos autoalimentar com o oposto dessa energia. Mas, a maioria das pessoas nem mesmo tem consciência de que está se empanturrando de ideias maléficas, pensamentos tóxicos, conceitos, no mínimo, equivocados, e como viciadas em junk food, continuam apreciando sem moderação e de forma compulsiva.

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Na década de 80, entrei em contato com o trabalho pioneiro do casal Simonton, do Texas (EUA). Eles trabalharam com pacientes terminais, os chamados desenganados pela medicina, a maioria com câncer em estágios avançados. Seu trabalho consistia em promover sessões de relaxamento e visualização criativa, onde guiavam os pacientes em “viagens” mentais recheadas de imagens de saúde, alegria, superação e esperança no futuro.

O que era para ser apenas uma terapia de conforto e alívio das dores, acabou se mostrando surpreendente, com a remissão e melhora de muitos pacientes “desenganados”. Quem se interessar mais pelo trabalho deles deve procurar no Google.

Projetar durante estados alterados de consciência, imagens e mensagens de otimismo e fé, parece ser um excelente remédio, e sem contraindicações. Isso é claro serve para a sociedade como um todo. Cada grupo social escolhe padrões de pensamento e de caminhos. Quando a escolha prevalente é pelo futuro, e nesse futuro há esperança, renovação e Vida, essa sociedade tende a ser mais saudável e a ter mais capacidade de sobrevivência diante das adversidades. Isso acontece em todos os níveis de organismos talvez até entre os mais primitivos.

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Claro que diante da aceitação dessas premissas, alguns dilemas surgem a exigir nosso raciocínio. Por exemplo: se os meios de comunicação entrassem nessa onda e passassem a diminuir a ênfase nas catástrofes, tragédias e no triste espetáculo da miséria humana. Isso nos deixaria menos informados ou sairíamos no lucro emocional e psicológico? Se os jornais e revistas tivessem menos sangue em suas manchetes e mais conquistas positivas, isso seria alienante ou construtivo para as milhões de pessoas que são influenciadas a nível subliminar pela dor humana que se propaga?

Poderíamos como sugere Peter Russell em seu livro “O Despertar da Terra”, nos juntarmos como um só organismo e visualizar nossos “exércitos do bem”, combatendo as células do câncer global das guerras, poluição, terrorismo e fome… assim como os pacientes do casal Simonton?

Não sei a resposta, se isso é possível ou não à aldeia global tão desunida, tão cheia de fronteiras, mas é possível ao indivíduo.

Outro dia, vi uma reportagem sobre um autor de 92 anos todo entusiasmado com o seu mais novo projeto editorial. Sua cabeça estava ocupada com os personagens, com a trama do livro e depois com os procedimentos de edição e comercialização. Pouco espaço sobrava para se ocupar com pessimismos e doenças e nuvens negras no horizonte. Chances de ver seu livro nas livrarias? Muitas.

Tudo é alimento. Podemos nos empanturrar como glutões insaciáveis de tudo que o mundo nos enfia goela abaixo, ou sermos mais seletivos, escolher, priorizar a nossa mente e o nosso espírito. Devemos nos perguntar: no que sou viciado?

Depois de meditar com honestidade na pergunta, olhar a resposta como se olha uma lâmina no microscópio, e examinar o mal que esse vício pode estar nos causando. Somos viciados em violência? Em pornografia? Em futilidades? Em comida? Tudo isso “alimenta” a Alma, lembremos sempre. Tudo que vicia compromete a nossa visão de futuro e vai condicionar nosso corpo e nossa mente a essa visão.

Quando tomamos consciência de que “somos aquilo que comemos”, e mais o que “comemos” estabelece o GPS do nosso futuro, aí poderemos começar a mudar o padrão alimentar.

Da minha parte já aviso aos produtores desses filmes sanguinolentos, não contem mais com a minha audiência – estou vacinado, quando estiver sem sono vou tomar um banho quente.