O treino da escuta

por Lilian Graziano

Ser psicólogo ou coach demanda uma habilidade específica que é a de saber escutar o outro, sem julgamentos, com empatia, mas sem transferir para si a responsabilidade do outro em ressignificar seus problemas, conceitos, ideias, passado, presente ou futuro.

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Antes que o leitor(a) se pergunte o que isso tem a ver com outras profissões – e com a sua, em particular – peço que faça o exercício de lembrar-se quantas ocasiões poderiam ser melhor vividas, aproveitadas, ou quanto aprendizado se daria, a partir da escuta ativa naquele momento em que acolhia um colega de trabalho, amigo ou parente.

Rapidamente o leitor(a) deve ter chegado à conclusão de que é melhor ouvir do que falar, em certas ocasiões. Mas talvez não tenha se dado conta que o benefício não é só o que se proporciona ao outro ou ao coletivo naquela hora – acolhimento, suporte, tempo, solução efetiva de conflitos – mas o que também absorvemos dessas situações para nós mesmos. Ter uma escuta ativa e empática com o próximo nos faz aprender pela cartilha do(s) outro(s) e também desenvolver a habilidade de escutarmos a nós mesmos. (E por que não acolher a si com o mesmo cuidado e paciência?)

Colocar-se nessa posição de ouvinte empático é abrir as portas para sentimentos que, além de nobres, nos colocam na rota do florescimento humano proposto por Martin Seligman, pai da Psicologia Positiva.  Falo, primeiro, da compaixão pelo outro. Depois, treinando a escuta ativa de si, não é difícil desenvolver a autocompaixão. Enquanto uma pesquisa norte-americana com mais de 5 mil voluntários verificou a relação entre uma vida mais feliz e uma maior autocompaixão, nós aqui, e em outras partes do mundo continuamos pouco empáticos conosco e com os outros. Mas, principalmente, porque tendemos mais a falar e julgar, do que a escutar compassivos e atentos os dilemas alheios (e em grande parte os nossos).

A escuta ativa do outro, que começa beneficiando relações e grupos, vai sendo absorvida por indivíduos e, assim, transformando pessoas, gerações e sociedades em seres e grupos mais felizes e tolerantes consigo e com o próximo, e por certo mais assertivos em resolver problemas que exijam soluções coletivas, o apaziguamento de diferenças e embates de ideias e posicionamentos.

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Comece agora a ouvir o seu próximo. Com calma, sem apontamentos. Em lugar de direcioná-lo, questioná-lo, simplesmente o acolha. E faça o mesmo consigo. Pelo menos uma vez ao dia. Coloque seus sentimentos em um diário, que pode ser seu diário da escuta ativa e (auto) compaixão, se quiser. Siga por pelo menos um mês nesse exercício e compartilhe seus resultados. Tenho certeza de que haverá uma enorme transformação em sua vida!

*Para saber mais sobre (auto) compaixão, leia artigo a respeito na revista gratuita e digital de Psicologia Positiva Make it Positive (www.makeitpositivemag.com)