Gravidez, vitamina D e esclerose múltipla

por Jocelem Salgado

A gravidez é um dos momentos mais encantadores da vida de uma mulher. Sabendo da importância desse momento, abordarei um assunto bem atual: a relação entre vitamina D e a redução no risco de desenvolvimento da esclerose múltipla (EM).

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Já é sabido que fatores como idade, peso, altura, condições de saúde, fatores genéticos e ambientais, tabagismo, paridade e consumo abusivo de álcool e drogas podem influenciar diretamente no desenvolvimento normal do bebê. No entanto, além desses fatores, podemos destacar o estado nutricional materno como extremamente importante no crescimento e desenvolvimento do feto.

Nesse período devido às mudanças fisiológicas e da demanda de nutrientes ao bebê, a mãe apresenta necessidades nutricionais elevadas.

Dentre os nutrientes que não podem faltar temos a vitamina D. Infelizmente, a deficiência dessa vitamina ainda é um sério problema de saúde pública em diversos países, inclusive no Brasil. Com relação à deficiência em gestantes, durante esse período, as mulheres constituem um grupo de alto risco, sendo que essa prevalência abrange cerca de 20-40% das mulheres.

Estudos

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Diversos estudos já demonstram que a vitamina D é essencial para o metabolismo ósseo, no entanto, estudos recentes tem comprovado que essa vitamina também está relacionada a diversas doenças tais como, pré-eclampsia, resistência à insulina, diabete gestacional, vaginose bacteriana e aumento da frequência de parto cesáreo. Pode também acarretar em raquitismo congênito, osteopenia (perda precoce de densidade óssea que torna os ossos mais fracos) devido a uma mineralização deficiente do esqueleto do feto.

Além disso, estudos recentes têm enfatizado uma nova razão para as grávidas se atentarem ao seu nível de vitamina D: redução do risco de seus filhos desenvolverem  esclerose múltipla – EM.

A EM é uma doença crônica, neurológica e *autoimune, ou seja, as células de defesa do nosso corpo promovem o ataque. Até o momento, ainda não existe cura para esta doença e os seus sintomas mais comuns são disfunção intestinal e da bexiga, fraqueza muscular, alteração do equilíbrio da coordenação motora, fadiga intensa, dores articulares e depressão.

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Os estudos que conduziram a esta relação entre vitamina D e EM foram realizados na Finlândia e avaliaram centenas de pacientes que tinham como diagnóstico esta doença. Os cientistas identificaram 176 casos de filhos que possuíam a EM e compararam com os filhos que não desenvolveram a doença.

Ao quantificar os níveis de vitamina D, os cientistas descobriram que as crianças nascidas de mulheres que tinham deficiência em vitamina D durante a gravidez possuíam 90% a mais de chance de desenvolver a EM quando adultos do que as crianças nascidas de mulheres que não apresentavam essa deficiência.

Apesar da ligação entre vitamina a D e a EM não estar totalmente compreendida, uma vez que o estudo citato acima é inédito, já existem dados importantes que demonstram que essa relação realmente existe.

Como dito anteriormente, na EM o sistema imune ataca o sistema nervoso central e danifica consequentemente as fibras nervosas, interrompendo os sinais enviados para o cérebro. Dessa forma, o papel da vitamina D na doença provavelmente estaria envolvido na defesa do sistema imunológico, mas o mecanismo de ação dessa vitamina ainda deve ser extensivamente estudado.

Com certeza, ao ler todos esses benefícios que a vitamina D pode trazer no desenvolvimento do bebê, a primeira pergunta que você deve estar se fazendo é: quanto seria necessário consumir dessa vitamina? Porém, vai um alerta muito importante: segundos pesquisadores, ainda é cedo para recomendar uma dose específica de vitamina D para reduzir o risco de EM, já que pesquisas precisam ser cada vez mais aprofundadas neste tema.

Sendo assim, antes de realizar a suplementação com a vitamina D, é de extrema importância que você consulte seu médico para que ele lhe oriente.

Formas de adquirir vitamina D

No entanto, outras formas de adquirir vitamina D também estão disponíveis e são muito recomendadas. A produção de vitamina D é realizada basicamente por exposição solar (radiação ultravioleta B – UVB), sendo que 90% desta é produzida por síntese cutânea. O tempo de exposição ao sol varia muito de acordo com a cor da pele, hora do dia e estação do ano. No entanto, a recomendação universal para exposição ao sol é de um tempo médio de 15 a 20 minutos nos braços, abdômen, costas e pernas. A utilização de protetor solar pode impedir a metabolização da vitamina, sendo assim, neste intervalo de tempo, a exposição deve ser feita sem proteção solar. Mas, não se esqueça de proteger o rosto e, após este tempo, é imprescindível o uso do protetor.

Quanto às suas fontes dietéticas, apesar dessas serem escassas, é possível encontrar vitamina D em produtos de origem animais, como óleo de fígado de peixe, salmão, cavalinha, bacalhau, ostra, sardinha, atum, fígado, gema de ovo, leite e queijo e produtos enriquecidos.

Apesar da ligação entre a vitamina D e EM não estar totalmente compreendida, um estudo recente (2016), apresenta dados importantes demonstrando que essa relação realmente existe. Então, ressalto o alerta para a importância da vitamina D  não só durante a gestação, mas também durante toda a vida.  

* Doença autoimune: condição que ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis do organismo.