A ‘nova mulher’ e a ‘revolução sexual’

por Patrícia Gebrim 

Ainda hoje, apesar de tanta gente falando no assunto, observo que sexualidade ainda é, de muitas formas, um assunto com muito terreno a ser conquistado.

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Eu, como tantas mulheres da minha faixa etária, venho de uma educação repressora e machista. “Mulher de família fica em casa e senta de pernas fechadas”.

– Quantas de nós já ouvimos as mil variações dessa ideia?

Naquela época nos era transmitido que as mulheres existiam para agradar aos homens. E os homens, agindo como proprietários dos corpos femininos, queriam “boas moças” para se casar, e “más moças” para viver uma sexualidade livre e fora dos “padrões”.

Fomos educadas para sermos “boas moças”. Existia um extenso manual de “boamocice”.

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– Chegue cedo em casa, fale baixo, use roupas discretas, seja dócil, seja obediente, blá, blá, blá.

Isso acontecia com todas nós, e aquelas que se rebelavam e permitiam-se viver livremente sua sexualidade eram atribuídos termos como "galinha", "vaca", "piranha", "mulher fácil", e por aí seguia.

O tempo passou. Tudo parece ter mudado muito. Hoje as mulheres são mais livres para fazer o que quiserem. São donas de seus próprios narizes, pagam suas contas, moram sozinhas, se divorciam e finalmente são proprietárias de seus próprios corpos.

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Será?

Creio que não. Ainda não.

Continuamos agindo como se nossos corpos não nos pertencessem. Se antes, para agradar aos homens, precisávamos anular nossos próprios desejos, agora, para agradá-los, precisamos nos transformar nas “más meninas” que eles tanto desejam na cama. Precisamos concordar com tudo o que lhes dê prazer, virar de ponta cabeça, realizar suas fantasias, estar sempre dispostas e prontas a entregar-lhes nossos corpos.

Se antes as revistas femininas ensinavam receitas de bolo e formas de deixar cheirosa a roupa de nossos amados maridos, hoje ensinam "como satisfazer seu homem na cama".

Ou seja, mais do mesmo!

Será essa a nossa tão sonhada liberdade?

Não gostaria que estas linhas fossem lidas como se fossem uma espécie de manual moralista. Acredito que nós, mulheres, podemos viver sexualmente o que bem entendermos. Podemos virar de ponta cabeça, não uma, mas mil vezes! Podemos experienciar aquilo que desejarmos. Temos o direito inquestionável de fazer as escolhas que quisermos em termos de sexualidade.

Mas, ouçam, não para agradar aos homens, e sim para “agradar a nós mesmas”.

Desde que haja consenso, tudo pode ser vivido e experienciado. Compreender isso é fundamental para que sejamos verdadeiramente livres.

Cabe a nós, mulheres, nos darmos o direito de existir, de respeitar tanto nossos desejos como nossos limites.

Assim, quando um parceiro sexual desejar experienciar algo que você não goste, ou que não lhe faça bem, física, afetiva ou psiquicamente, é preciso que você seja capaz de dizer um alto e sonoro NÃO. Sem culpa. Não há culpa alguma nisso, entende?

Isso fará bem não apenas a nós, mas também aos homens, que precisam também aprender a reconhecer a si mesmos na beleza do ser que mora para além de seus desejos. Precisam ser capazes de descobrir sua doçura, sua profundidade e seu amor. Precisam, também eles, tornar-se livres dessa cultura machista que permanece escondida em seus DNAs, muitas vezes sem que tenham consciência disso.
Uma última ressalva. Não escrevo como feminista. Escrevo como mulher, e acrescento:

– A capacidade de dizer não ao outro para dizer SIM a nós mesmas é a base do amor-próprio, e é a grande revolução sexual que ainda não aconteceu.