Estudo aponta fatores que mais influenciam a deixar de fumar

Da Redação

Libertar-se do cigarro é um processo que envolve muitos aspectos. Isso porque quem fuma adquire mais de um tipo de dependência: desde a física, relacionada com a nicotina, até a psicológica, estando ainda associados fatores emocionais e relacionados à personalidade.

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Buscando entender como reagem os fumantes perante a privação do cigarro, estudo realizado em um centro de referência em tabagismo apontou a predominância dos fatores ligados à abstinência, ou seja, o que mais determinava o sucesso em manter-se longe do hábito de fumar.

O levantamento foi feito no Centro de Referência Especializado em Abordagem e Tratamento do Fumante, que é vinculado à Secretaria Estadual de Saúde do Pará. Lá, pesquisadores da própria secretaria e da Universidade Federal do Pará analisaram 532 prontuários de pacientes que procuraram a Unidade de Referência Especializada Presidente Vargas para se absterem do uso do tabaco.

Como método de pesquisa foi adotado a análise estatística com dados sobre o histórico fumante de cada um: número de cigarros/dia; nível de dependência química; tentativas de parar de fumar; e presença de gatilhos (situações que levam à recaída). Também foram considerados aspectos como sexo; idade; escolaridade; estado ocupacional; emprego formal ou informal e número de aposentados; os sintomas da síndrome de abstinência; os tratamentos – apenas comportamental ou comportamental e medicamentoso; e, por fim, o encerramento dentro do programa, optando-se pela terapia psicocomportamental ou terapia de manutenção.

O grupo analisado contou com maioria de fumantes mulheres (cerca de 57%), idade média de 50 anos, carga tabágica por volta de 30 maços/ano e tempo de tabagismo de 32 anos. Na análise de regressão, metodologia estatística que estuda a relação entre duas ou mais variáveis, os pesquisadores verificaram que fazer terapia de manutenção, não entrar em contato com gatilhos de recaída e apresentar dependência química mais baixa foram fatores significativamente associados a deixar o hábito.

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Os resultados da pesquisa mostram que a taxa de abstinência do cigarro foi de 75%, um resultado muito bom quando comparado a serviços semelhantes no Brasil. Observou-se que a maior dificuldade é a de quem tem dependência química elevada à muito elevada e convivência com situações que levam à recaída.

Os especialistas mostraram também que um acompanhamento específico é importante fator de motivação depois do tratamento, pelo menos por seis meses, segundo as Diretrizes para Cessação do Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, de 2008: “os pacientes que realizaram terapia comportamental de manutenção apresentaram 27 vezes mais chances de abstinência em comparação com os que realizaram apenas terapia cognitiva-comportamental”.

O longo tempo de consumo do cigarro e a alta carga tabágica “podem ter contribuído para que os pacientes tivessem mais consciência sobre seu alto grau de dependência, engajando-se efetivamente no tratamento”.

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Ações necessárias

Estudos frequentes “que influenciem no sucesso do tratamento, bem como futuras pesquisas para subsidiar as ações de prevenção e combate ao tabagismo” são as medidas necessárias apontadas pelos autores para lidar com essa relevante questão de saúde pública.

As autoras Samires Avelino de Souza França, Ana Ligian Feitosa das Neves, Tatiane Andressa Santos de Souza, Nandara Celana Negreiros Martins, Saul Rassy Carneiro, Edilene do Socorro Nascimento Falcão Sarges são pesquisadoras da Universidade Federal do Pará. Maria de Fátima Amine Houat de Souza faz parte da Secretaria Estadual de Saúde do Pará.

FRANÇA, Samires Avelino de Souza; NEVES, Ana Ligian Feitosa das; SOUZA, Tatiane Andressa Santos de; MARTINS, Nandara Celana Negreiros; CARNEIRO, Saul Rassy; SARGES, Edilene do Socorro Nascimento Falcão; SOUZA, Maria de Fátima Amine Houat de. Fatores associados à cessação do tabagismo. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 49, n. 10, 2015. ISSN: 1518-8787.

Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rsp/article/view/101788>. Acesso em: 10 ago. 2015.

Fonte: Margareth Artur/Portal de Revistas da USP