Sou confusa ou meu marido me confunde?

por Anette Lewin

Depoimento de uma leitora:     

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"Tenho um casamento de 24 anos, mas sinto que meu marido não me ama mais. Ele vive me humilhando, às vezes me agride fisicamente e com palavras. Depois me trata com carinho e isso me deixa confusa. Não sei se ele me ama e tem o prazer de me humilhar ou quer achar uma brecha pra eu pedir a separação. Ele já me traiu e eu o perdoei. Será que agi errado? Tenho três filhos e mesmo ele fazendo tudo isso comigo, continuo a amá-lo muito. Isso e normal? Por favor me ajude, preciso de uma palavra sua, pois estou cada dia mais confusa!"

Resposta: Para sair dessa confusão de sentimentos é necessário fazer uma avaliação mais profunda do que procurar culpados ou inocentes. Quando você pergunta: "será que agi errado?", ao perdoar a traição de seu marido, sinaliza que provavelmente se sente culpada por qualquer atitude que toma, mesmo a de perdoar. E acredita que seu marido, embora causando um grande sofrimento a você através de humilhações, está com a razão e merece ser amado.

A pergunta a ser feita é: você ainda ama seu marido? De verdade? Ou apenas acostumou-se com ele e tem medo de ficar sozinha? Tente responder essa pergunta de forma honesta com você mesma. As agressões de seu marido a machucam de fato? Por que ele a agride? Você faz alguma coisa que provoca nele essas reações? E quando ele a trata bem, por que isso ocorre? Você consegue enxergar o que desperta nele a vontade de tratá-la com carinho?

Talvez essas respostas possam ajudá-la a perceber o seu papel real nessa relação; possam esclarecer se os comportamentos dele são aleatórios ou estão ligados a posturas assumidas por você em diferentes momentos.

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Obviamente se você concluir que ele a agride e a trata bem sem nenhuma relação com o que você faz, está dizendo que ele apresenta oscilações de humor incontroláveis e você nada pode fazer com relação a isso. Se quer ficar com ele mesmo assim é uma escolha sua. Ninguém pode dizer a você o que fazer. Num caso como esse você é livre para escolher, mas responsável pela escolha que fez.

Se, porém, você concluir que certos comportamentos seus provocam a ira de seu marido e estiver disposta a mudá-los, talvez a relação possa atingir um equilíbrio mais saudável. Não se trata aqui de mudar sua forma de ser ou de sentir. Trata-se de mudar seu comportamento, suas reações. Tentar ignorar as atitudes agressivas dele ao invés de alimentá-las com discussões; reforçar os momentos em que ele é carinhoso com você retribuindo esse carinho e criando momentos significativos entre vocês; trazer novas propostas para o relacionamento, propostas fáceis de serem realizadas em pouco tempo como um passeio, um novo restaurante, um centro cultural. De nada adiantam nesses momentos, altos planos teóricos dos quais não se verá, a curto prazo, um resultado concreto. Eles mais frustram do que preenchem.

Verifique também a possibilidade de seu marido a agredir por culpa. Sim, talvez você não seja a única a deixar o sentimento de culpa envenenar seu interior e provocar reações de insegurança. Ele traiu e você o perdoou, mas talvez ele não tenha conseguido se perdoar. E uma das formas de lidar com um conflito interior mal resolvido é agredir a pessoa a quem se magoou invertendo a situação e agindo como se a pessoa traída fosse a culpada pela traição. Se esse for o caso, vale uma conversa sobre a necessidade de um esforço para focar a relação no presente e evitar que vivências passadas a inviabilizem. Talvez uma terapia de casal possa ajudar.

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Por fim, qualquer que seja sua decisão com relação ao seu casamento, lembre-se que você já realizou uma série de coisas em sua vida e, se quiser, tem muitas outras para realizar. Evite fazer do seu casamento o foco único de sua vida. Viva com intensidade tudo o que é seu. Ao lado dele ou não. Se seu marido não a ama mais, você não deve se abandonar nessa hora. Muito pelo contrário. Deve abraçar sua vida com intensidade e assumir suas decisões, suas vontades, suas mudanças e seus seus objetivos. Afinal quem gosta de si e se trata bem tem mais chances de ser gostada do que quem vive pelos cantos transitando entre a culpa e o lamento.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.