Dormir é perder tempo? Como você dorme?

Por Regina Wielesnka

Reza a lenda que Napoleão dormia poucas horas por noite, cerca de três ou quatro. Isso não o impediu de ter muitas batalhas vitoriosas nem de sucumbir com seu exército em Waterloo.

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Você já conheceu alguém que afirma não ter problema pra adormecer, já que consegue dormir a qualquer hora do dia ou da noite em que se recostar na poltrona ou deitar na cama?

A questão do sono é tema frequente de discussões médicas e preocupa aqueles indivíduos que mal conseguem adormecer e logo acordam, passando a noite como bife na frigideira, virando de um lado para o outro e terminando a noite exaustos.

Na verdade, o sono pode ser perturbado de diferentes maneiras. Há aqueles que com dificuldade de pegar no sono, há pessoas com insônia inicial. Uns por terem a chamada síndrome das pernas inquietas, outros por terem ao seu redor um ambiente demasiado barulhento ou iluminado, um terceiro grupo dessa categoria pode passar boa parte da noite com a mente agitada, pensando em problemas reais ou imaginários, planejando o dia seguinte, remoendo arrependimentos. Há outras possibilidades, é claro.

O sono com problemas pode também se caracterizar pela insônia intermediária, no meio da noite a pessoa acorda, por vezes querendo ir ao banheiro, ou comer, ou checar que horas são, e perde um bom tempo acordada no meio da madrugada, tem dificuldade de retomar o sono. A pessoa acabará se pondo de pé pela manhã ainda cansada, caso não possa suprir o déficit dormindo até mais tarde. Existe ainda a insônia terminal, por volta das quatro ou cinco da manhã seus olhos abrem feito dois ovos fritos e nada de voltar a dormir, levanta por obrigação, quando o dever lhe chama.

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As manifestações de insônia são apenas parte do problema. O refluxo gastresofágico (GERD), uma condição do aparelho digestório, também pode perturbar o sono, causando tosse, sensação de engasgo, chiado no peito, queimação do estômago etc.  Quem dorme bem assim?

Os médicos, depois de avaliação completa do paciente, costumam prescrever certas medicações e recomendar medidas como evitar deitar com estômago cheio e manter a cabeceira da cama mais elevada. Esses cuidados tendem a recuperar a qualidade do sono do indivíduo com GERD.

A apneia do sono é outro problema sério. Geralmente são afetadas pessoas, mais homens do que mulheres, com sobrepeso, que roncam muito (atrapalhando muito quem dorme junto) e de tempo em tempo interrompem a respiração e depois apresentam um sobressalto, assim que voltam a inspirar. A pessoa pode não despertar conscientemente, mas registros feitos num exame de polissonografia sinalizam que a cada 60 minutos, por exemplo, a pessoa despertou 40 vezes! Não é à toa que alguns pacientes referem adormecer no semáforo fechado quando estão dirigindo veículos, no meio de uma conversa, em reuniões, andando de taxi, sentem-se constantemente cansados, até irritáveis, e adormecem a torto e a direito em situações inconvenientes e até perigosas. Esta é uma condição tratável, com resultados muito bons, e para cada causa (há várias) se planejará a melhor forma de tratamento.

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Transtornos psiquiátricos diversos, em especial a depressão, o transtorno bipolar e ansiedade patológica, entre outros quadros, podem ter como sintomas alterações na chamada arquitetura do sono. Fases do sono se alteram, em duração, frequência ou outros parâmetros. Imaginem como muda dramaticamente o comportamento global de quem, por exemplo, não consegue pegar no sono há 48 horas e sente-se eufórico, agitado, com a mente a mil por hora. Ou de quem está exausto e só pensa em arrependimentos, culpas e temores… Apenas com intervenção psicológica e médica um indivíduo assim poderá recobrar sua qualidade de vida e saúde.

Existem muitas outras causas para o sono se alterar. Por exemplo, rinites que causam espirros e nariz entupido, desvios do septo que perturbam a passagem do ar, sinusites (que podem até ser crônicas) que causam a sensação de sufocamento etc.

Hoje em dia um fator sociocultural tem causado estragos no padrão de sono e rendimento diário de crianças, adolescentes e adultos: a internet, com celulares, tablets e notebooks. Jogos em rede, unindo participantes de diferentes fusos horários, “namoros” virtuais, redes sociais, séries, há um sem número de razões para se ficar desperto um pouquinho mais apenas. Isso pode significar ver o sol nascer sem ter ido dormir! Sabe-se que adolescentes precisam de mais horas de sono e bem eles precisam acordar para a escola depois de dormirem pouquíssimo, imaginem seu humor, capacidade de prestar atenção e vontade de se envolver nas atividades. Isso sem considerar que o sono não torna o desjejum uma opção apetitosa. Jejum e déficit de sono são uma dupla perigosa.

O sono bem aproveitado facilita a fixar memórias relevantes, ajuda no rendimento escolar, regula o humor, promove processos hormonais envolvidos no crescimento infantil, tem uma infinidade de funções relevantes. Privação de sono pode prejudicar o metabolismo, favorecer hipertensão etc.

Como você se relaciona com seu sono? Não hesite em buscar ajuda profissional se desconfiar de que algo não anda bem.