Potencial, competência e talento: saiba o que as empresas mais procuram

Por Thomas-Chamorro Premuzic

Mais de 40 anos se passaram desde que David McClelland propôs que a melhor forma de prever a performance no trabalho de um candidato é dar foco às competências, ao invés da inteligência.

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Essa crítica do movimento em torno do QI estava baseada em um fato já bem estabelecido, de que a performance passada era um excelente indicador da performance future de um profissional. Se você quer saber o quão bem alguém dirige um ônibus – argumenta McClelland – faça essa pessoa dirigi-lo, e não dê um teste de QI.

Ainda que essa ideia tenha sido o pontapé para o movimento em torno das competências, e tenha levado vários profissionais de RH basearem seus descritivos em torno das competências, bem como as entrevistas de seleção, os argumentos originais de McClelland não são tão relevantes no mundo de hoje, e há três razões para isso.
Primeiro, na busca por predizer a performance future, empregados são geralmente forçados a avaliar o seu potencial ao invés de talento. Em outras palavras, se você está interessado em colocar em evidência o talento, antes que qualquer um o veja, então você precisa ser bom em medir a habilidade de uma pessoa em desenvolver o talento no futuro. Isso é particularmente importante quando os candidatos são muito junior, ou não têm qualquer experiência.

De fato, em alguns momentos os candidatos terão um passado muito parecido – por exemplo, ao recrutar novos funcionários de uma mesma instituição de ensino. Como resultado, a performance passada não é tão acurada em prever a performance future, e mesmo que haja algum critério de exclusão, o selecionador ainda terá a tarefa de diferenciar os candidatos entre melhor qualificados – mas sem qualquer experiência.

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Segundo, ainda que vivamos em uma economia baseada em conhecimento, as empresas não mais pagam um prêmio extra por aqueles funcionários que já sabem – pelo contrário, buscam aqueles que têm capacidade de aprender. Os esforços de aquisição de talentos, ao menos quando se trata das posições mais inovadoras, têm foco na habilidade das pessoas em encontrar e resolver problemas – para usar a frase do Google — as empresas buscam contratar “animais com alta capacidade de aprendizado”. Sendo assim, os descritivos de vaga tornaram-se uma mera formalidade. A realidade é que, devido às rápidas mudanças no cenário do trabalho, no topo da pirâmide intelectual, o desafio-chave para profissionais de RH é o de contratar pessoas que são muito boas em vagas que sem tantas especificações – porque o futuro não é tão previsível assim.

Em terceiro lugar, o jeito mais útil de se pensar em competências é em termos de disposições estáveis. A única alternativa é discutir habilidades transitórias, ou competências que podem ou não aparecer em situações críticas. Quem liga para o quão engraçado você é quando está com seus melhores amigos, ou para o quão educado você pode ser com seus clientes preferidos? Eu quero saber qual é o seu senso de humor padrão e qual o seu nível de educação. De fato, o que mais interessa mais a uma empresa é quando a sua força de trabalho mostrará esses comportamentos críticos, mais particularmente, se o tempo será quando eles realmente precisam aparecer. Além do mais, a informação mais importante que as empresas precisam, se querem vencer a guerra pelo trabalho, é um perfil detalhado de personalidade dos seus empregados.

As competências ainda estão vivas e ainda permanecerão conosco por um tempo. Mas a forma de avaliá-las mudou, porque os velhos métodos são úteis somente para vagas de trabalho que são claramente definidas. Discutir competências de forma mais genérica, ou seja, falar sobre personalidade, é o que cientistas independentes têm feito nas últimas três décadas. E essa abordagem representa o mais confiável e válido método para se prever a performance no trabalho. É apenas a partir dessa compreensão das pessoas que as empresas estarão aptas a tirar vantagem do seu capital humano e liberar o real potencial das pessoas no trabalho.

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Então, se as competências ainda estão vivas, é por causa do estudo da personalidade, o braço científico da psicologia que obteve avanços na compreensão e na previsão do que as pessoas fazem no trabalho (e em qualquer área da vida).

Fonte:  Thomas-Chamorro Premuzic é, CEO da Hogan Assessments

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