De mãe para filha: o que está por trás dessa relação e como essa convivência reflete na relação com outras mulheres

Por Blenda de Oliveira  

Sem dúvida, a mulher sofre inúmeras pressões, mas nunca vi algo tão cruel quando se trata da maternidade.

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O mais triste de tudo isso é que a coação provém das próprias mulheres. Mulher tem uma enorme facilidade para criticar outra mulher – fato raro entre os homens que se protegem e se defendem.

Em quase todos os pontos em que a mulher sai da forma social e culturalmente que lhe é atribuída, com certeza, sofrerá severas críticas.

Tenho uma hipótese de que esse processo quase sempre se inicia em casa, por meio da matriz: a mãe. A relação mãe e filha talvez seja uma das mais complexas, carregadas de sutis conflitos, de pontos muito sensíveis. De certa rivalidade?

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Não é incomum mães e filhas entrarem em embates dos mais simples aos mais complexos. Não é incomum filhas, quando adultas, cobrarem das suas mães o que não puderam receber quando jovens e crianças. Não é incomum mães vigiarem e exigirem de suas filhas adolescentes e jovens adultas, continuamente, que se adequem ao modelo materno de ser e viver.

As diferenças e os antagonismos podem ser tomados por ambas como uma espécie de desamor, abandono, desrespeito etc.

Assistimos a brigas infinitas todos os dias por qualquer coisa a qualquer momento.

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Sem dúvida, a relação mãe e filha é uma daquelas que inaugura aspectos importantes no que diz respeito à forma como mulheres se relacionarão, na vida adulta, com outras mulheres e com a própria mãe.

Claro, há mães que abusam da sua autoridade e do seu “amor”. Em nome desse último, veem-se outorgadas a quase tudo, como invadir a privacidade e as escolhas da filha. Fazem isso sem qualquer cerimônia.

Há outras mães que simplesmente cometeram erros, como qualquer pessoa pode cometê-los, mas os delas são vistos pela lente das filhas como algo imperdoável e de proporções acima do real. Carregam até a velhice as reclamações quanto às atitudes da mãe. Tornam-se adultas, mas permanecem infantis em suas demandas. O contrário é também verdadeiro: há mães que esquecem que suas filhas precisam crescer ou já cresceram.

Não tem jeito: mães são mais sujeitas aos variados tribunais. Aqui, não há qualquer vitimização, apenas uma observação.

Notem quando uma mulher engravida e tem o seu bebê. Já viram quantas teorias qualquer mulher tece e bombardeia sobre a outra? Sobre o parto, a amamentação, a alimentação etc, etc.

E quando uma mulher não quer ter filhos? E quando, por qualquer razão, precisa fazer um tratamento? Já perceberam o falatório em torno de tudo isso?

Não, não é fácil amadurecer essa relação de mãe e filha e de mulher para mulher. Seja por parte da mãe e/ou por parte da filha. É desafiador encontrar o ponto em que ambas, adultas, possam ter a noção da realidade e respeitar a história e o tempo de cada uma.

Chega um momento em que a mãe precisa abrir mão de suas necessidades serem plenamente atendidas pela filha.

Chega uma hora em que a filha pode se dar conta de que, ao se tornar mãe (se quiser) ou não, estará vulnerável a erros e acertos bem semelhantes àqueles que tanto criticou e critica.

Não tenho dúvida de que uma boa relação entre mães e filhas pode facilitar muito os caminhos de independência e autonomia de ambas. Em consequência, de maior solidariedade entre todas as mulheres.