Enjoei dele ou de mim mesma?

Por Anette Lewin

Depoimento de uma leitora:

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“Eu sai de uma relação abusiva há 5 meses, passei um ano e meio antes tentando me desvincular dela, sofri violência psicológica. Desde então, todo novo homem que eu conheço, eu não consigo me apegar, e um desses que conheci quer uma relação séria e eu queria apenas sexo casual, e eu já enjoei após 15 dias com ele. Como posso identificar se é enjoo de mim mesma ou ainda um trauma da relação passada ou apenas ser idiota em ter um cara tão bom disposto a estar comigo?”
 
Resposta: Você já se perguntou por que aguentou uma relação abusiva por um ano e meio? Sim, porque alguma coisa interessante certamente essa relação trazia para você. Caso contrário, teria saído dela mais rapidamente, não é?

Vamos tentar entender: uma relação abusiva é sempre bastante mobilizadora. Mesmo que acabe tirando a liberdade da pessoa abusada e faça mal a ela, é uma relação cheia de “promessas”, cheia de emoções, mesmo que negativas, cheia de expectativas de uma relação maravilhosa que acontecerá “daqui para diante”, cheia de brigas com pedidos de perdão fantásticos. Resumindo: o que não falta nesse tipo de relação é aquele frio na barriga o tempo todo.

Pois bem, essas sensações viciam. Mobilização vicia. E se você se acostuma a “viver perigosamente”,  suportar uma vida estável, linear, ao lado de uma pessoa que não trará problemas ou desafios pode, num primeiro momento, parecer insuportável.

Talvez esse seja seu caso. Você se acostumou com o ritmo de uma vida sem garantias, sem respeito e sem futuro e a tranquilidade de ter ao seu lado uma pessoa que aceita e gosta do seu jeito de ser, parece sem graça.

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Bem, se isso estiver acontecendo, não se considere vítima de trauma, de baixa autoestima ou, segundo suas próprias palavras “idiota em ter um cara tão bom disposto a estar comigo”. Tente entender melhor o que você quer de um relacionamento neste momento de sua vida. Apenas sexo casual? Um namoro sério? Um homem para casar? Sim, porque ninguém é obrigado a seguir um modelo de relacionamento convencionalmente aceito. Não é porque você encontrou uma boa pessoa que é obrigada a ficar com ela.

Por outro lado, se você precisa de relacionamentos mobilizadores, existe a possibilidade e você tentar mobilizar a relação ao invés de esperar por parceiros que agitem a vida por você. Nada impede que você, estando ao lado de uma pessoa tranquila e bem resolvida, crie situações que não deixem a vida a dois cair na monotonia. Risco não é o único fator de geração de mobilização. Criatividade pode fazer esse papel também. Assim, considere descobrir em você mesma, formas de “agitar” sua vida pessoal e amorosa de forma saudável. Deste modo, sua busca por um parceiro amoroso não ficará restrita a alguém que agite sua vida, porque você se julga incapaz de agitá-la através dos seus recursos pessoais.

Além disso, já que você provavelmente precisa de bastante movimento em sua vida, busque atividades que possam trazer novas sensações desafiadoras: um novo curso, um novo desafio profissional, uma viagem para um lugar exótico. Enfim, certamente, se você encarar uma parceria amorosa como parte das suas necessidades e não como uma fonte única de mobilização as chances de se sentir realizada, amorosamente falando, serão maiores. Independentemente das características pessoais de seu parceiro.

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Finalmente, tente entender se você realmente está pronta e quer uma relação estável neste momento da sua vida; avalie se está disposta a abrir mão da liberdade de fazer o que quer quando quer; de se deixar guiar somente pelo seu prazer pessoal e não também pelo prazer do outro; se está disposta a trocar bons momentos por planos a dois. Essas reflexões ajudarão você a se conhecer melhor e tomar uma decisão coerente e consciente sem ficar eternamente arrependida dos passos amorosos que der em sua vida.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.