Meu irmão é viciado em ‘beréu’. O que faço?

Por Danilo Baltieri

Depoimento de uma leitora:

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“Tenho um irmão dependente químico já com 51 anos. Disseram-me que ele está agora consumindo beréu e que essa droga tem efeito muito pior do que o crack. O senhor poderia me ajudar, explicando os efeitos dessa droga? O motivo da pergunta é porque estamos (a família), tentando uma abordagem e gostaria de saber se temos algum tempo para agir, ou se temos de intervir de maneira drástica na vida de meu irmão, como, por exemplo, tentar uma internação involuntária. Muito obrigada.”

Resposta: Existem diversos nomes atribuídos para uma mesma substância psicoativa, especialmente nas ruas (isso é conhecido como “street names”). A prática de referir-se a uma determinada substância psicoativa por meio de um tipo de “código” é bastante comum entre os usuários. Com os “street names”, os usuários podem tentar esconder o próprio consumo dos familiares e dos não usuários, bem como promover uma comunicação rápida e fácil com outros usuários e traficantes.

Nos dicionários informais, o termo “beréu” refere-se ao cigarro de maconha. Todavia, há referências esparsas de que o dito “beréu” possa também referir-se a um cigarro feito com a combinação da maconha com outras substâncias, como o crack (esta combinação da maconha com o crack é mais conhecida como “mesclado”).

No site Vya Estelar, existem várias respostas sobre os efeitos e as consequências do consumo da maconha bem como da cocaína/crack – veja aqui. Nesta coluna, falaremos a respeito do “mesclado,” já que se trata de uma combinação altamente deletéria de substâncias psicoativas (maconha e crack).

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Na realidade, usuários de crack/cocaína costumam usar outras substâncias concomitantemente, como álcool, tabaco, maconha e substâncias ditas lícitas, como os benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, alprazolam etc). Alguns usuários de crack têm declarado que a mistura desta droga com a maconha aumenta os efeitos prazerosos de ambas, diminui comportamentos agressivos ou violentos e diminui sensações de desconfiança (paranoia) durante e após o consumo.

Outrossim, o “mesclado” tem sido consumido com fins de diminuir a fissura e os demais efeitos ansiosos e estimulantes do crack, de maneira a permitir descontinuar o seu uso e facilitar ao usuário o retorno às suas atividades de rotina. O uso combinado do crack com a maconha é também feito objetivando compensar a diminuição dos efeitos psíquicos do crack.

De fato, no Estado de São Paulo, principalmente entre os jovens, o uso do mesclado tem sido uma das principais formas de consumo de crack. Infelizmente, dados sobre prevalência do uso de mesclado propriamente não são confiáveis no nosso meio.

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No entanto, a combinação de substâncias com efeitos diferentes (às vezes, díspares) e purezas indefinidas pode produzir variados sintomas nefastos para o usuário, tais como:

a) aumento do risco de overdose pelo crack/cocaína;

b) alterações prolongadas da frequência cardíaca e da pressão arterial, com maior risco de arritmias cardíacas;

c) indução e recrudescimento de sintomas depressivos e/ou ansiosos;

d) aumento do risco de suicídio.

É importante saber quais são as substâncias realmente abusadas pelo seu familiar. Em um tratamento médico especializado, o profissional da saúde seguramente deverá determinar o tipo de substância abusada, bem como o padrão e a gravidade do consumo. A partir de tais dados, acrescidos de informações clínicas e de história familiar, os profissionais poderão propor um tratamento individualizado para o portador de problemas relacionados com o consumo de substâncias.

A internação em hospital geral ou clínicas especializadas é apenas uma das formas de tratamento, com indicações claras. Tente conduzir seu irmão a um especialista, objetivando a realização de um adequado procedimento diagnóstico e, subsequentemente, de um plano terapêutico. Os familiares devem, como tenho repisado nesta coluna, participar ativamente do tratamento, estando, também, inseridos em manejo psicossocial corretamente direcionado.

Não perca tempo!!

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.