O que fazer quando uma doença muda a dinâmica do relacionamento amoroso?

Por Anette Lewin    

Depoimento de uma leitora:

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"Namorei e fui noiva de um rapaz. Nosso relacionamento durou aproximadamente 5 anos. Ele foi diagnosticado como Asperger e a partir daí tudo mudou. Eu sempre o aceitei, mas isso não foi o suficiente para ele querer levar o relacionamento adiante. Faz um ano que "terminamos" para as pessoas, porém ele ainda me procura e ficamos juntos, mas tenho me sentido usada. Não consigo por um fim nisso. Preciso ouvir uma outra opinião."

Resposta: Você não consegue decidir por um fim em seu relacionamento que, segundo sua colocação, mudou depois que seu namorado foi diagnosticado como Asperger.

Não fica claro por que esse diagnóstico prejudicou a relação; segundo seu relato você aceitou o diagnóstico sem maiores problemas.

O que houve então?

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Ele sofreu algum tipo de pressão por parte da família?

Interpretou o diagnóstico como incapacitante para uma relação amorosa?

Usou o diagnóstico para romper uma relação que já estava se esgotando?

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A primeira questão a ser avaliada seria a relação entre esse diagnóstico e o afastamento que ele propõe . E que você não aceita.

Uma pessoa portadora de Asperger pode apresentar uma série de comportamentos não convencionais. Tem dificuldade para se relacionar socialmente, tendência a se fixar em um determinado assunto de forma obsessiva, dificuldade para entender a comunicação subtextual como, por exemplo, ironias . Isso é importante para que você entenda que ao relacionar-se com ele, estará frente a uma pessoa que pode parecer estranha para você em termos afetivos. Mesmo que você tenha uma aceitação teórica da condição dele, tentar encaixar o relacionamento amoroso dentro de padrões convencionais pode ser difícil.

Neste momento ele tem encontros esporádicos com você e você se sente usada. Talvez ele não pretenda, conscientemente, usar você. Mas ele pode não conseguir se aprofundar numa troca afetiva tanto quanto você gostaria. E aí, estar com ele dentro dos limites afetivos que ele consegue vivenciar pode se tornar uma frustração constante para você. Pense se você aceitaria esse tipo de limite, uma vez que dificilmente ele mudará.

Avalie também por que você aceita esses encontros esporádicos. Quando ocorrem, eles ainda são interessantes? Ou você apenas os aceita na expectativa de que uma hora ele resolverá voltar a se relacionar com você formalmente?

Quando você diz " terminamos para as pessoas" o que exatamente quer dizer com isso? Vocês fizeram um pacto de excluir da relação as expectativas que, porventura, a sociedade pudesse ter com relação a vocês?

Isso foi ideia dele? Sim, porque é possível que ele consiga lidar melhor com você do que com a sociedade; é possível que, para ele, a relação de vocês funcione a dois, mas não dentro de um contexto social. Nesse sentido, um comportamento que numa pessoa sem dificuldades de se relacionar socialmente poderia ser interpretado como uma fuga do compromisso, numa pessoa com Asperger talvez tenha outro significado… E aí cabe a você, mais uma vez, decidir se está disposta ou não a enfrentar esse tipo de situação para poder continuar com ele.

Por outro lado, é possível que ele realmente não queira estabelecer um vínculo mais profundo com você. Existe a possibilidade do diagnóstico de Asperger ser apenas uma explicação que você inventou para explicar o afastamento dele. Nesse caso, de nada adiantará você ficar batalhando infinitamente por uma pessoa que não quer mais do que encontros esporádicos e convenientes para ele.

Resumindo, a decisão está em suas mãos. Só você pode avaliar e escolher um caminho a seguir. Lembrando-se que cinco anos de namoro é um período longo para se jogar fora. Mas seu futuro é mais longo ainda para ser desperdiçado com uma relação que não te faz feliz.
 

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.