‘Monstros’ debaixo da cama

Por Patrícia Gebrim  

Muitas vezes somos visitados pelo medo, não há como evitar. Medo da vida, da morte, do desconhecido, da falta de água, da violência, do caos, do silêncio, de baratas, do inesperado, de sermos abandonados, de andar de avião, de assalto, de envelhecer, do futuro. Medo de não saber que direção dar à nossa vida. Medo de um dia acordar e não saber quem somos. Medo de não existir, de nunca ter sido, de jamais virmos a ser.

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Às vezes o medo nos vence e, como todos os seres feitos de humanidade, sofremos e transformamos a vida em uma correnteza cheia de dores, agindo como fantasmas, arrastando por aí nossas correntes mal-assombradas. Não vou dizer que seja bom, mas vivenciar esses momentos nos torna humanos, e quando nos sentimos tão assustados quanto o resto da humanidade, nos tornamos capazes de sentir compaixão. Mas em outras vezes, nos momentos mais lindos e mágicos da vida, conseguimos a sanidade necessária para lembrar de que tudo o que vivemos é uma espécie de teatro. Olhamos para o medo e escolhemos não lhe dar poder.

Nesses dias, os melhores, os mais sábios; somos capazes de pairar sobre os dramas cotidianos e continuar sorrindo com a leveza da criança que brinca de ser outro alguém. Nesses dias, não importa o que esteja acontecendo ao nosso redor, respiramos fundo, olhamos para dentro e nos lembramos que não existe nada nem ninguém que possa nos impedir de confiar. Colocamos o medo em nosso colo e o abraçamos apertado. Saiba que é assim que curamos um medo. Derramando sobre ele todo o nosso amor e cantando uma linda canção de ninar.

Quando criança eu costumava fechar os olhos ao assistir cenas que me assustavam, mas hoje sei que precisamos ser corajosos o bastante para visitar até mesmo o inferno de olhos bem abertos.

Só o corajoso, capaz de sentir na pele toda a intensidade do mais assustador dos sentimentos, conhecerá a sutileza alada da alegria. Isso se chama confiança.

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Aos medrosos, que fecham os olhos à própria sombra e fogem dos próprios sentimentos, resta essa mortalha triste, essa caricatura, a morte disfarçada de vida.
 

Extraído do livro de Patrícia Gebrim “Deixe a Selva para os leões – Inspirações para bem viver nos dias de hoje” – para ler capítulo anterior – clique aqui.