Comportamento: o que tirou o Brasil da Copa do Mundo?

Por Renato Miranda

A recente eliminação do Brasil na Copa do Mundo de Futebol de 2018 realçou mais uma vez a constatação de que ser campeão do mundo não é nada fácil. Um torneio de curta duração com vários jogos eliminatórios faz com que a cada evento dessa magnitude a carga emocional seja um dos grandes desafios a serem enfrentados pelos atletas de 32 países que sonham serem campeões.

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O Brasil sabidamente é sempre um dos favoritos, como também, ao menos diversos outros países, como a Alemanha, França, Argentina e sempre quando estão presentes, Inglaterra, Holanda e Itália pertencem à lista dos prováveis campeões. Sempre é bom reafirmar que tal favoritismo é baseado nas conquistas anteriores, ranking mundial e na tradição futebolística dos mesmos.

Na Rússia começou, em pressuposto, a se ampliar o rol dos times considerados de primeira linha ou em hipótese a aproximação de outras equipes a esse patamar, como é o caso da Bélgica e Croácia.

Muito embora tenhamos tal cenário, a seleção brasileira parece acreditar que lições de fracasso do passado não servem para muita coisa. É um grande equívoco!
O Brasil foi eliminado em um jogo com a Bélgica que poderia ter ganhado. De modo peculiar, a mídia de um modo geral argumentou que a Bélgica foi superior e mereceu vencer. Apenas isso. Não teve a tradicional “caça às bruxas”, o que é salutar, mas por outro lado, faltaram boa críticas.

No entanto, mais uma vez foi observado que a falta de preparo psicológico da equipe brasileira foi um dos grandes motivos do fracasso e não somente o reconhecido mérito do adversário. Mais uma vez a falta de autocontrole dos atletas é que desencadeou o processo da derrota nas quartas de final.

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Isso significa dizer que em uma competição cujos aspectos mental e emocional são fundamentais aquele time que não se prepara adequadamente nesse importante elemento do treinamento esportivo dificilmente vencerá.

Autocontrole significa que todo atleta precisa ser preparado para controlar a consciência e associar várias emoções relacionadas a comportamentos positivos e funcionais (eficazes).

Em explicação é dizer que o atleta precisa centrar a mente a fim de envolver-se completamente em cada ação não dando espaço para dúvidas e incertezas no enfrentamento de qualquer situação de jogo. Portanto, centrar a mente é deixar evidenciado que a mesma está repleta de diversos mecanismos de soluções de problemas e com uma variada possibilidade de tomadas de decisões.

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Ou seja, em um ambiente cuja incerteza de resultados é o que promove uma das maiores magias do jogo; a tensão precisa ser ali vivenciada com um programa mental altamente sofisticado e rico de estratégias de ações para que a equipe se mantenha na luta.

Em resumo, uma equipe bem preparada mentalmente ou simplesmente consciente quando surpreendida por um gol inesperado, um pênalti não marcado, uma expulsão de um colega, uma eventual falha do goleiro no início do jogo, um tática inesperada do adversário e outros eventos, não causam um abalo significativo na equipe.
O controle mental, no entanto, depende sistemicamente do desenvolvimento das habilidades psicológicas associadas às diversas emoções. Em outras palavras, motivação, controle dos níveis de ansiedade e estresse, concentração, percepção de controle (autoeficácia), autoconfiança, coragem, sentimento de fluxo etc.

Assim sendo ao reunir as condições de controle pessoal para o enfrentamento das incertezas de uma disputa o atleta estará preparado para agir sob “o fio da navalha”, ou seja, sob pressão constante e terá seu desempenho sem ansiedade excessiva ou apatia. Por outro lado, apresentará segurança no comportamento e um ótimo nível de concentração e motivação.

Ademais, ao equacionar as emoções o atleta libera sua consciência, para utilizar sua inteligência para agir: O que fazer? Como fazer? Quando fazer? E mais, ampliar as possibilidades de criatividade para o desenvolvimento da técnica e tática. Em resumo, a inteligência é útil para enfrentar desafios (problemas) novos, pois para situações ou problemas conhecidos e para agir em um ambiente que está tudo sob controle, o atleta utiliza os hábitos e as repetições, ele não precisa da função inteligente.

Nesse cenário, podemos dizer que em caso de “pane” o atleta não entra em pânico, ele permanece mobilizado física e mentalmente (mantém a energia que o mesmo tem de melhor) e descobre a ótima maneira de agir diante as situações novas e inesperadas (incertezas).

Observe que em várias copas do mundo (1998, 2006, 2010, 2014 e 2018), o Brasil foi eliminado, tirante o mérito dos adversários, em derrotas solidificadas pelo descontrole mental e emocional de nossas equipes, quando fomos surpreendidos e então entramos em pânico. Nesses casos só sobraram desespero, ansiedade excessiva, apatia e claro, choro!

Para terminar é bom lembrar que aquilo que serve para os atletas serve também para os treinadores! Portanto, hora de voltar pra casa!