Pânico e agorafobia

Por Regina Wielenska

Tratar adequadamente os sintomas de pânico requer uma extensa avaliação psiquiátrica – veja texto anterior. Em alguns casos são também solicitados exames, que permitem ao médico excluir causas não psiquiátricas. O principal instrumento de avaliação é a própria entrevista, na qual o médico vai investigar os sintomas presentes, em termos dos contextos nos quais eles surgem, mas também a intensidade, frequência e duração deles. A ansiedade pode ser atenuada com duas classes principais de fármacos (há outras opções, usadas em casos específicos): a curto prazo os benzodiazepínicos e a longo prazo os inibidores de recaptação de neurotransmissores como serotonina e noradrenalina.

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Benzodiazepínicos (BZD) costumam funcionar rapidamente para controle da ansiedade, em cerca de meia hora. São úteis por trazerem alívio rápido e ajudarem a evitar a formação de uma vivência traumática associada ao local ou atividade onde o pânico se manifestou, que é a origem da agorafobia. Os BZD possuem um potencial de desenvolvimento da dependência física e devem ser usados com moderação, estritamente nas ocasiões e doses determinadas pelo médico. Comportamentos de abuso e automedicação com benzodiazepínicos devem ser evitados a todo custo.

Os inibidores de recaptação da serotonina e noradrenalina (ISRs), por sua vez, oferecem ajuda de longo prazo, reequilibram a biodisponibilidade de neurotransmissores, regulam processos neuroquímicos, sem risco de dependência física e um perfil geralmente moderado de efeitos colaterais. Demoram a fazer efeito, levam de duas a três semanas, ainda que um eventual efeito colateral, como sonolência, por exemplo, possa surgir inicialmente.  A introdução dos ISRs pode até induzir uma piora inicial da ansiedade, e por tal razão se faz uso temporário dos BZDs, prevenindo novos ataques. Os ISRs deverão ser regulados gradualmente em termos da dose necessária para cada cliente.

O tratamento começa com a dose mínima, que será elevada gradualmente apenas a critério médico, em caso de resposta clínica parcial. Alguns desses fármacos são incompatíveis com a gravidez, pelo risco de má-formação fetal, especialmente nas etapas iniciais da gestação. Um diálogo entre obstetra e psiquiatra resultará na melhor decisão para a cliente grávida. Não se recomenda abusar de álcool durante o uso da medicação. O ISR será usado por ao menos um semestre após se atingir a remissão completa dos sintomas e o indivíduo se sentir plenamente recuperado. A retirada será planejada, com redução escalonada das doses.

O paciente não deve estranhar se descobrir que uma pessoa deprimida ou com TOC, por exemplo, também faz uso dos mesmos remédios. O ácido acetilsalicílico (popularmente conhecido como Aspirina) também é assim: reconhecidamente indicado para controle da dor e febre, também é usado na cardiologia e medicina vascular, prevenindo a formação de agregações plaquetárias, os trombos. Na psiquiatria um remédio pode igualmente ter indicações diversas.

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Outras alternativas farmacológicas estão ao dispor do médico, caso essas classes de medicamento acima mencionadas funcionem em níveis abaixo do ideal. De todo o modo, a adesão ao tratamento é o que se espera do paciente, e qualquer problema ou mudança será avaliada em consulta.

Na próxima coluna discutirei sobre a importância da psicoterapia no tratamento do pânico.