Tabu: transtornos de personalidade

Por Edson Toledo

Temos presenciado com certa frequência, manifestações de violência dentro de escolas, em eventos culturais, comícios políticos ou mesmo em ambientes religiosos. Fatos estes que têm chamado a atenção não só aqui no Brasil, mas mundo afora.

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O fato é que muito além da exposição oferecida pela mídia desses eventos, fatos dessa natureza costumam deixar marcas irrecuperáveis. Na visão de especialistas, uma das marcas pode ser justamente a abordagem superficial (falta de uma investigação mais acurada) que a imprensa dá quando se refere aos autores dos atos de violência. Algumas vezes, podemos levantar a hipótese de que o praticante do ato de violência apresente transtorno de personalidade, muita calma nesta hora, não amos generalizar, já que nem sempre seja essa a motivação que o leva à conduta violenta.

O médico psiquiatra e psicanalista Mário Louzã do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) diz que a divulgação indiscriminada dos transtornos como algo característico aos criminosos é danosa. Na verdade, as patologias mentais vêm de uma combinação entre predisposição genética e o ambiente em que o indivíduo se desenvolve, desde o seu nascimento. Além de afetar a credibilidade dos diagnósticos – que devem ser feitos com avaliações minuciosas do histórico da pessoa em questão –, Louzã alerta que estas condutas oferecem riscos.

A preocupação está no acesso ao tratamento, que fica comprometido pelo recorrente preconceito que gira em torno de doenças mentais. “Há um problema na sociedade sobre o entendimento da limitação do que é normal ou patológico. Qualquer atitude que fuja da moral e da normalidade já é considerada um transtorno, o que não é verdade”, afirma o especialista.

Atualmente, a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais da 5ª edição (DSM 5) trazem dez transtornos de personalidade, que se subdividem em três categorias, são chamados de clusters (ou grupos) por terem características predominantes que os interligam.

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Cada patologia apresenta sintomas específicos, vejamos de uma maneira bem resumida os três grupos:

Cluster A – Envolve pacientes com transtornos esquizoide, paranoide, esquizotípico. Em geral, apresentam características psicóticas.

Cluster B – Envolve pacientes que costumam apresentar sintomas de sociopatia. Transtornos de personalidade histriônica, borderline, narcisista e antissocial compõem o grupo.

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Cluster C – Envolve indivíduos propensos a transtornos de ansiedade. As alterações de personalidade são as dependentes, obsessivo-compulsivas e esquivas.

Como é sabido, temos que considerar que o diagnóstico de transtorno não pode ser definitivo antes da sua maioridade (18 anos de idade), já que entendemos que a personalidade de um indivíduo só é consolidada após esta idade. Mesmo assim, acionar uma avaliação profissional para identificar qualquer sintoma em adolescentes ou crianças poderá facilitar o tratamento.

Explica o psiquiatra: “É essencial interferir e tratar, inclusive com medicação, pois a doença ainda não está estabelecida. É neste momento que evitamos seu desenvolvimento”.

Quanto antes houver a intervenção de um profissional, psiquiatra ou psicólogo, com a intenção de frear o avanço dos transtornos, com o objetivo de evitar danos para o paciente e às pessoas que convivem com ele, pode ser uma medida que poderá contribuir para um bom prognostico.

Em estágios avançados, indivíduos com transtorno borderline (cluster B) tendem a automutilarem e têm o suicídio como um dos principais riscos associados. Já aqueles indivíduos tidos como antissociais, têm indiferença ao ser humano. Há a falta de empatia e suas atitudes são frias. Outro aspecto é o de que atos violentos não geram comoção nos portadores do transtorno.

O foco para aplicação do tratamento adequado firma-se no traço predominante disfuncional apresentado pelo indivíduo. Aqui cabe um esclarecimento, os transtornos, aliás, não têm cura, mas psicofármacos receitados com prudência, aliadas às terapias cognitivo-comportamentais, podem garantir qualidade de vida aos pacientes.

Para saber mais veja o livro de Louzã Neto MR. e Cordás TA. Transtorno de Personalidade.