O que mantém a motivação?

Por Renato Miranda

Motivação é seguramente uma das habilidades psicológicas mais estudadas na psicologia do esporte. Quando me perguntam sobre a relação entre treinamento e motivação eu procuro responder o mais objetivamente possível ao sintetizar que tal relação se dá na interdependência entre o grau de dificuldade da tarefa e a habilidade do atleta que implicará na intensidade da motivação do mesmo.

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Ao pesquisar montanhistas praticantes de trekking no final dos anos 90, que originou a tese de doutorado intitulada: Motivação no trekking: Um caminhar nas montanhas e depois em outras pesquisas, artigos e livros tenho convicção que a compatibilidade entre o potencial psicofísico (habilidades gerais: físicas, cognitivas e emocionais), a percepção de capacidade de realização (autoeficácia), necessidade e interesse, compõem a estrutura para a motivação no esporte.

Uma das questões mais desafiadoras é justamente o treinamento para a prática esportiva, especialmente para atletas em seus diversos níveis de atuação em destaque: iniciantes, avançados e profissionais.

Assim sendo, treinamentos com grau de dificuldade muito baixo tende a gerar um nível mínimo de motivação, e com a insistência da pouca exigência em questão, a repercussão será de tédio ao invés de motivação.

Isso porque um baixo nível de exigência em relação às habilidades psicofísicas de um atleta, por exemplo, não proporciona nenhum tipo de tensão e, por conseguinte, mobilização de habilidades para a execução de tarefas. Com isso, uma pequena energia geral será suficiente para dar cabo ao desafio e note-se que a intensidade da energia psicofísica e o envolvimento rigoroso do atleta é que repercute o quão o mesmo está motivado. A baixa exigência, portanto, nesse caso terá como consequência o tédio!

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Noutro sentido, tarefa com grau de dificuldade muito alto em relação ao potencial psicofísico do atleta, também trará pouca repercussão motivacional. O atleta ao perceber que, por mais que mobilize todo seu potencial físico e psicológico, o mesmo não será suficiente para a realização da tarefa (treinamento) e com isso seus níveis de motivação tenderão a diminuir com o decorrer do tempo.

Em consequência, o atleta por mais que se esforce perceberá que a alta ansiedade dominará sua energia e com isso as repercussões negativas da ansiedade, será estabelecida como nervosismo e desânimo.

O desafio dos treinadores a partir desse pensar, é justamente equacionar o grau da dificuldade da tarefa com as habilidades psicofísicas do atleta. Este dito equacionamento pode ser muito bem resumido na percepção que o atleta tem em relação à atividade a ser realizada.

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Ou seja, a medida ideal para a motivação para as tarefas do treinamento está relacionada à percepção que o atleta tem de potencial de realização da mesma. Em outras palavras, significa dizer que quando o atleta percebe ser capaz de realizar uma determinada tarefa (desafio), é uma questão de tempo, aí está o sentido da medida do que se convencionou chamar de medida ideal de exigência.

Em exemplo: se um atleta tem como tarefa realizar dez movimentos de um determinado exercício e de princípio ele consegue realizar sete movimentos. Está claro que conseguir realizar a tarefa é apenas uma questão de tempo. Ou seja, ele percebe que tem potencial para tal.

Em resumo, na medida em que a atividade do treinamento é mantida por um determinado período de tempo e o atleta percebe que sua mobilização de energia psicofísica é suficiente para “avançar”, terá como feedback que a realização da tarefa é uma questão de tempo. A partir do momento em que as ações do atleta começam a fluir (movimentos com energia ótima, com controle e sem dispêndio desnecessário de energia), seu envolvimento e em consequência sua motivação terão níveis ótimos.

Portanto, grau de dificuldade se estabelece conforme a duração (volume) da tarefa em questão, da potência de execução (intensidade), da complexidade (habilidade motora), da exigência de compreensão da tarefa (cognição) e do nível de tensão (emoção) promovida pelos objetivos das tarefas a serem realizadas.

Naturalmente a atmosfera do ambiente de treinamento traduzida por um ambiente, seguro, confortável, funcional e de relações profissionais em alto nível, contribuem consideravelmente para que o treinamento, por mais árduo que seja, proporcione prazer nos atletas.

Quando o atleta aumenta suas possibilidades de conquistas pessoais e sua memória registra uma notável quantidade de experiências exitosas, decerto, sua motivação para o treinamento e sua percepção de autoeficácia se manterá em ótimo nível.

É evidentemente notório que o atleta não conseguirá estar sempre motivado, mas com treinamentos que promovam possibilidades de aumentar suas habilidades constantemente, decerto haverá muitas chances de vivências em ótimo nível de motivação e envolvimento.