Quem é adolescente?

Por Edson Toledo

No meio de uma ampla discussão sobre maioridade penal, o foco central recai sobre o adolescente. A questão aqui é: quem é adolescente? Responder essa pergunta requer um certo esforço, pois quando procuramos definir adolescência, encontramos várias formas de se analisar essa específica fase da vida.

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Vejamos como alguns saberes a define: para a sociologia, a adolescência estaria na dependência da inserção do homem em cada cultura, variando, portanto, conforme a cultura.

Já a antropologia enxerga como uma fase de transição entre infância e idade adulta, envolvendo rituais de passagem e iniciação, presentes em diversas culturas. Por outro lado, o Direito define essa fase baseado nas questões de maioridade e menoridade, que variam, de acordo com a legislação vigente.

A medicina vê a adolescência como o período no qual ocorre o processo de crescimento e desenvolvimento corporal, caracterizados por grandes transformações biopsicossociais, que se iniciam na puberdade e terminam no final da segunda década de vida.

Uma outra forma de entender a adolescência é considerá-la como o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual, social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos relacionados às expectativas culturais da sociedade em que vive. Ou ainda, a adolescência se inicia com as mudanças corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo progressivamente sua independência econômica, além da integração em seu grupo social.

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Os limites cronológicos da adolescência são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 10 e 19 anos (adolescents) e pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 15 e 24 anos (youth), critério este usado principalmente para fins estatísticos e políticos. Usa-se também o termo jovens adultos para englobar a faixa etária de 20 a 24 anos de idade (young adults).

Atualmente, usa-se mais por conveniência agrupar ambos os critérios e denominar adolescência e juventude ou adolescentes e jovens (adolescents and youth) em programas comunitários, englobando assim os estudantes universitários e também os jovens que ingressam nas forças armadas ou participam de projetos de suporte social denominado de protagonismo juvenil. Nas normas e políticas de saúde do Ministério de Saúde do Brasil, os limites da faixa etária de interesse são as idades de 10 a 24 anos.

Vejamos no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e define a adolescência como a faixa etária de 12 a 18 anos de idade (artigo 2o) e, em casos excepcionais e quando disposto na lei, o estatuto é aplicável até os 21 anos de idade (artigos 121 e 142). O adolescente pode ter o voto opcional como eleitor e cidadão a partir dos 16 anos. O conceito de menor fica subentendido para os menores de 18 anos.   

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Evelyn Eisenstein em sua tese de doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) enfatiza que, devido às características de variabilidade e diversidade dos parâmetros biológicos e psicossociais que ocorrem nessa época, e denominados de assincronia de maturação, a idade cronológica, apesar de ser o quesito mais usado, muitas vezes não é o melhor critério descritivo em estudos clínicos, antropológicos e comunitários ou populacionais.

Menarca

A menarca caracteriza a primeira menstruação da adolescente, vulgarmente conhecida pelo termo ficou mocinha, e ocorre em média aos 12,8 anos de idade, com a diferença significativa de 12,18 anos para as áreas urbanas e 12,89 anos para as áreas rurais do país segundo o Perfil de Crescimento da População Brasileira de 0 a 25 anos do INAN/MS de 1992.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) consideram a adolescência uma área de especialização dentro da pediatria, inclusive em relação a treinamentos de graduação, residência médica e alojamento hospitalar.

O Ministério da Saúde, através de sua Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem (ASAJ) implantou o Cartão do Adolescente nas versões masculina
(http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_adolescente_menino.pdf) e feminina  (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_adolescente_menina.pdf ), cobrindo a faixa etária dos 10 aos 19 anos, 11 meses e 29 dias, incluindo uma mensagem final dirigida ao jovem adulto, e que incluirá vários dados sobre crescimento e desenvolvimento para acompanhamento; inclusive de imunização e prevenção de doenças transmissíveis, visando a um futuro melhor de uma população estimada em 35,3 milhões de brasileiros residentes no país.

Retomando o início do texto, agora que sabemos quem são os adolescentes, relembro o que disse em 2011 Anthony Lake, Diretor Executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que no Brasil, as reduções na taxa de mortalidade infantil entre 1998 e 2008 significam que foi possível preservar a vida de mais de 26 mil crianças. No entanto, no mesmo período, 81 mil adolescentes brasileiros, entre 15 e 19 anos de idade, foram assassinados.

Com certeza, não queremos salvar crianças em sua primeira década de vida apenas para perdê-las na década seguinte.