O poder transformador de aprender

Por Regina Wielenska

Numa queda, um idoso da minha família quebrou o pulso. Foram muitas semanas de um desconfortável gesso até a axila e umas tantas semanas imobilizado o cotovelo. Isso tudo reduziu o movimento e a força do membro, claro. Interessante foi o poder transformador de 12 sessões de fisioterapia, com 90 minutos cada, duas por semana. Os exercícios, bem planejados e graduais, foram restituindo de modo evidente a força e capacidade de movimentação do membro fraturado e até de seu contralateral, que coparticipava de muitos dos exercícios. A despeito da idade avançada, foi possível uma excelente recuperação.

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Vale narrar outra história, bem resumida, por sinal. Uma cliente minha permaneceu casada por um quarto de século até que a descoberta de uma infidelidade conjugal a levou a escolher por separar-se do marido, com quem já mantinha uma cordial, porém fraterna, forma de se relacionar. O processo do divórcio trouxe à baila muitas dores, frustrações, temores e desejos insatisfeitos. Ao longo da terapia, um trabalho que levou cerca de três anos, um dos temas discutidos seria a eventual busca de um novo parceiro. A cliente dizia estar sem nenhuma prática nas artes da paquera, e se apavorava com a ideia de conhecer intimamente um segundo homem em sua vida (casara-se com o marido desprovida de experiências sexuais, tudo que aprendeu foi por meio do cônjuge infiel).

A vida da cliente mudou muito a cada etapa, fez cursos, juntou- se a outras mulheres em situação similar, viajou, sofreu decepções, teve ótimos momentos e quando já estava a ponto de desistir no amor, conheceu um viúvo no clube. Quando ela parou a terapia o romance caminhava bem e completara alguns meses, e ela chegou a descobrir novidades na cama e parecia entusiasmada.

O que une ambas as histórias? A flexibilidade de aprendermos algo novo e de recuperarmos uma função perdida por meio da experimentação, empenho, persistência e uma pitada de esperança. Meu familiar e a cliente se submeteram a atividades cuja função era lhes reabilitar no que haviam sido lesados. A fisioterapia tem procedimentos bem definidos e testados. O paciente precisou atravessar um processo que cansa, aguça dores e reabilita. A complexidade das variáveis que influenciam o ser humano faz da psicoterapia uma ciência com nuances e incertezas. Quem garantiria que o viúvo cruzaria o caminho dela? E se ele fosse um ogro insensível e não soubesse ajudá-la a vencer inibições?

Na verdade, ela entrou em contato com suas dificuldades, conversando comigo, e por vezes chorando, ao longo de muitas sessões. Precisou, depois, se expor a um mundo com o qual mantinha pouca familiaridade, muniu-se de pessoas de apoio (incluindo a terapeuta), domesticou seus temores e os transformou em motivação a cada novidade.

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Assim é nossa natureza, podemos aprender sempre, coisas pequenas e grandes, fáceis e difíceis, relacionadas à saúde, ao mundo intelectual, ao amor, ao universo do trabalho ou qualquer outro setor. O requisito primordial é abraçar o processo e seguir em frente.