Por que a relação entre dinheiro e felicidade é, no mínimo, muito fraca

Por Luiz Gaziri

“Dinheiro não motiva as pessoas. O que elas realmente querem é reconhecimento.” Quantas vezes você já ouviu esta frase? A verdade é que tanto o dinheiro quanto o reconhecimento são muito poderosos na nossa motivação e felicidade. Porém, antes que você saia correndo para a fila da lotérica ou que lote a caixa de entrada do seu chefe para mostrar tudo o que fez hoje, eu gostaria que você conhecesse melhor o que a ciência tem a dizer sobre estes fatores.

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Você sabe qual é o país com a população mais feliz do mundo? As cores da bandeira desta nação são vermelho, azul e branco. Adivinhou? Pelo oitavo ano consecutivo, o Paraguai foi ranqueado como o país com a população mais feliz do mundo, de acordo com uma das mais relevantes pesquisas sobre a felicidade global, feita pelo Gallup. O fato curioso é que o Paraguai está em 101º lugar no ranking do PIB global, entre 211 nações. Este e muitos outros estudos científicos revelam que a relação entre dinheiro e felicidade é, no mínimo, muito fraca.

Adaptação hedônica: o que é?

Cientistas das mais prestigiadas universidades do mundo já chegaram à conclusão de que o dinheiro aumenta a sua felicidade apenas quando ele te tira da pobreza, quando ele te salva de uma situação de insegurança constante. E o motivo do dinheiro e a felicidade não andarem sempre juntas é uma característica nomeada como Adaptação Hedônica – o ser humano se adapta rapidamente ao dinheiro e aos bens materiais. Pode parecer surpreendente o fato de que muitos milionários não são satisfeitos com suas vidas, apesar dos seus milhões na conta, casas, carros, roupas, barcos, joias e aviões.

Adaptação hedônica acontece independentemente do nível de riqueza que você possua. Viver uma vida com estes valores é uma corrida que você nunca irá ganhar! Não por acaso, as pessoas que colocam os bens materiais como uma prioridade em suas vidas são as que reportam sofrer mais com ansiedade e depressão. Isto, sem falar no fato de que as pessoas que valorizam o sucesso financeiro são mais suscetíveis às trapaças, comportamentos antissociais, falta de empatia, falta de espírito de equipe e inflexibilidade em suas opiniões. Estes comportamentos são consequências de um fato que poucos conhecem: dinheiro motiva as pessoas demais, fazendo com que o comportamento das mesmas piore.

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Por outro lado, pessoas que gastam seu dinheiro com viagens, presentes para familiares e amigos, jantares, doações para a caridade, passeios e outras experiências que aumentam os laços sociais, reportam um bem-estar invejável. Acumular riquezas e bens materiais pouco fará para aumentar a sua felicidade, porém, gastar o seu dinheiro da forma certa te trará um retorno que nenhuma bolsa de valores jamais conseguirá.

Certo, mas o reconhecimento gera felicidade e motivação, não é mesmo? Nem sempre. Esperar o reconhecimento do seu chefe, esposa, marido, amigo e outras pessoas também pode fazer você embarcar na Adaptação Hedônica. Para não cair nessa armadilha, você é quem deve reconhecer aos outros ao invés de esperar com que os outros te reconheçam. Uma das formas mais estudadas pela ciência para reconhecer aos outros e obter retornos imensos na sua felicidade, é escrever uma carta de gratidão para alguém que te ajudou no passado.

A gratidão gera enormes benefícios para a felicidade e redução do estresse, porém, apenas ser grato não é o suficiente. A força do reconhecimento é exponencial quando você inicia o ciclo de gratidão, ajudando aos outros. Visitar um cliente com o seu colega de trabalho para ajuda-lo no fechamento de um negócio, dar a sua vez no elevador, deixar as pessoas passarem na sua frente no desembarque do avião ou ajudar alguém a carregar algo pesado são formas simples de iniciar o ciclo.

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Lembre-se que você também deve reconhecer que as pessoas existem. Interagir com gentileza com as pessoas “invisíveis” – o frentista do posto, caixa do supermercado, jardineiro, porteiro – é uma forma extremamente efetiva de aumentar a sua felicidade e motivação.

Apesar da felicidade ser o principal objetivo de vida de qualquer pessoa, todos os dias tomamos decisões contrárias a este objetivo. A ciência nos possibilita fazer as escolhas certas, porém, estas escolhas são muito diferentes do que a sociedade e a mídia nos vendem.

Ser feliz exige esforço e atitude. Lembre-se, você tem uma quantidade limitada de dias para fazer as escolhas certas e deixar a sua marca neste mundo. A forma como irá usar o restante dos seus dias é de sua escolha.

Fonte: Luiz Gaziri é autor, palestrante, consultor organizacional e professor da FAE Business School e da PUC-PR em Curitiba/PR. Seu novo livro, Escolhas Felizes, irá explorar a ciência da felicidade e da motivação e tem lançamento previsto para Julho de 2019.