A importância das primeiras experiências da mãe com o bebê; entenda

Por Aurea Caetano

Já conhecíamos a importância das primeiras experiências com a mãe e/ou cuidadores do ponto de vista da relação psicodinâmica, mas essa importância tem sido corroborada e acentuada a partir do ponto de vista científico. Os estudos da neurociência têm trazido conhecimentos muito importantes acerca dos primeiros meses de vida de um bebê.

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Piaget, pensador do desenvolvimento infantil já dizia que nascemos seres biológicos, mas a relação com nossas raízes sociais vai moldando o ser que seremos e a mente que desenvolveremos. Sabemos hoje em dia, a partir dos estudos da Epigenética, que a expressão genética de um ser humano é modulada pela relação com o meio ambiente, daí a importância fundamental das primeiras relações com a mãe e/ou cuidadores. Genes formatam apenas em linhas gerais as funções mentais e comportamentais, a herança dá certas direções, mas fatores ambientais, principalmente os relativos ao cuidador primário, afetam o modo mediante o qual os genes se expressam.

A mente do bebê emerge a partir das atividades do cérebro cujas estruturas e funções são formadas a partir dessa relação do biológico com as experiências interpessoais. Padrões de relacionamento e comunicação emocional afetam diretamente o desenvolvimento do cérebro. A emoção funciona como um processo organizador central da estrutura neurológica e, a capacidade do indivíduo para organizar emoções, que são produto das relações afetivas iniciais, determina a capacidade da mente para integrar experiência e se adaptar a futuros estressores.

Padrões de comunicação muito precoces entre pais e criança vão determinar as formas através das quais a autorregulação será possível desde o início do desenvolvimento. Estabelece-se desde o início da vida uma intersubjetividade que envolve a mútua interpenetração de mentes, o que permite dizer que uma mente pode “ler” o conteúdo de outra mente. A descoberta do sistema de “neurônios espelho” ajuda a comprovar, de forma científica, essa capacidade que é uma das formas básicas de cocriação da mente do bebê.

Representações internas dos estados corporais associados com as ações, emoções e sensações são evocadas no observador “como se” tivesse realizado uma ação similar ou experimentado emoções ou sensações similares. Bebê e mãe, ou cuidador primário, através desse sistema afinam suas interações, permitindo que a mãe perceba as necessidades do bebê que ainda não consegue falar e que a criança também vá “lendo” a mente da mãe e imitando seu comportamento. Desta forma suas trocas se tornam mais harmônicas possibilitando uma relação de empatia imprescindível para o desenvolvimento neurofisiológico e social da dupla bebê-mãe/cuidador.
A descoberta acidental dos neurônios espelho, o trabalho com epigenética e a possibilidade de estudos sobre a dinâmica e neurofisiologia do cérebro, ampliam, enriquecem e corroboram a forma como compreendemos as primeiras relações, mãe-bebe por exemplo, mostrando a interconexão dinâmica entre natureza e experiência.

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