Reflexões em dias nublados: sobre o destino e as formas de lidar com as tempestades da vida

Por Sandra Midori Kuwahara Sasaki

Dentre tantas riquezas que encontrei nos escritos de Rainer Maria Rilke, uma frase sobre o destino continua ressoando em mim:

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“… aquilo a que chamamos destino sai de dentro dos homens em vez de entrar neles. Muitas pessoas não percebem o que delas saiu, porque não absorveram o seu destino enquanto viviam, nem transformaram em si mesmas […]. O futuro está firme, caro Kappus, nós é que nos movimentamos no espaço infinito.”

Eu estava numa ilha quando li esse livro…  chovia torrencialmente. Aquele tipo de tempestade que parecia mobilizar tudo o que está dentro e fora da gente. A tempestade movia fortemente as águas do mar, impedindo aqueles que teimavam em ficar apenas na superfície. Era necessário mergulhar e encontrar um lugar nas profundezas de si mesmo.

Observei as gaivotas e as andorinhas no céu. Elas plainavam durante a tempestade, aproveitando o movimento da natureza a seu favor. É bom aprender também com os pássaros…

Neste momento, a natureza em mim pediu um pouco de silêncio… e quando me aquieto, consigo perceber que os pássaros cantam também em dias nublados. Fecho os olhos e ouço uma sinfonia lá fora, junto com o vento, as folhas das árvores, as ondas do mar. Como é bom sentir a alma dialogar com tudo lá fora.

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“Jung sabia que no interior profundo de cada ser humano repousa um sereno silencio […] Aparece então um novo céu, denominado estado de transcendência. […] Para Jung esse vazio era na verdade a plenitude, o ouro dos alquimistas.[…] A verdade psíquica só pode ser encontrada por quem a procura de cabeça baixa, sem arrogância intelectual. […] Os mais preciosos insights que emergem das camadas profundas do inconsciente e se oferecem a quem souber procurá-los e reconhecê-los, são verdadeiras pepitas de ouro.” (Gambini, 2008)

E sobre o destino, já o sinto há tempos dentro de mim… a cada re-visão de alma, um novo mundo se apresenta lá fora. É a vida pedindo apenas para ser vivida, da forma mais plena que conseguirmos viver.

Portanto, não tenha medo de dias nublados, nem de tempestades. Aproveite a sincronia da natureza para aquietar-se. Ou faça como os pássaros: continue cantando e aprendendo a voar em meio ao caos…

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Gambini, Roberto. A voz e o tempo: reflexões para jovens terapeutas. Sao Paulo: Ateliê Editorial, 2008

Rilke, Rainer Maria. Cartas e um jovem poeta: a canção de amor e de morte do porta estandarte Cristóvão Rilke. 4 ed. São Paulo: Globo, 2013.