Entenda o Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG

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“Tomo Alprazolam de 0,5mg há 3 anos e tenho descontinuado faz seis meses e estou sem tomar há duas semanas e suporto com Propranolol e Dramin. Isso tudo deveu-se a quadro de ansiedade generalizada e depressão e não quero mais tomar. Tomo magnésio com vitamina B6 também. O que mais posso fazer?”

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Por Danilo Baltieri  

Resposta: Considerando que este diagnóstico esteja correto, posso afirmar que existem medicações eficazes e seguras para o adequado manejo clínico do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), claramente aprovadas para este uso pela ANVISA (Agência de Vigilância Sanitária, Brasil) e pelo FDA (Food and Drug Administration, USA).

As medicações benzodiazepínicas, como o Alprazolam, podem ser utilizadas para o manejo de quadros de ansiedade, mas excepcionalmente de forma isolada para muitos destes grupos clínicos. Os benzodiazepínicos podem ser administrados, no início do tratamento, e associados com medicações indicadas, seguras e aprovadas para a condição vigente.

Você fez uso do Alprazolam, uma medicação benzodiazepínica, durante, pelo menos, três anos para tratar um quadro clínico que merece manejo diferenciado e complexo.
Os benzodiazepínicos, como o bromazepam, clonazepam, alprazolam, diazepam, lorazepam, são medicações importantes para o manejo de diversos problemas de saúde, como tenho repisado constantemente no Vya Estelarsaiba mais. Tais medicações sempre devem ser prescritas por médico habilitado, com indicações precisas e claras. Tempo de uso, acompanhamento rigoroso pelo médico, avaliação dos riscos e dos benefícios, observância quanto ao risco de dependência fisiológica e da síndrome de dependência/abstinência são itens básicos que merecem atenção real tanto dos profissionais da saúde quanto dos próprios pacientes.

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Grosso modo, as principais indicações médicas para o uso das medicações benzodiazepínicas são:

a) Transtornos do sono (insônias);
b) Transtornos de ansiedade;
c) Alguns quadros de epilepsia.

Na maioria das ocorrências, recomenda-se que, caso um benzodiazepínico seja aventado para prescrição, seu uso seja de curta duração (entre 1 e 2 meses), enquanto outras estratégias terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas sejam utilizadas e testadas para o tratamento da condição médica corretamente diagnosticada. Obviamente, existem situações graves nas quais tais medicações benzodiazepínicas precisam ser mantidas por tempo prolongado; nestas condições, o seguimento médico deve ser intensivo e continuado.

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Na Tabela 01, aponto os principais efeitos agudos dos benzodiazepínicos.

Tabela 01. Sintomas agudos dos benzodiazepínicos

•    Relaxamento muscular
•    Redução dos sintomas de ansiedade
•    Sonolência
•    Fala empastada
•    Prejuízo da coordenação motora
•    Lentidão do pensamento
•    Prejuízos da atenção, concentração e memória

É importante notar que os benzodiazepínicos podem diminuir a duração de uma das fases do sono (conhecida como fase REM), e provocar, em consequência, a sensação de sono não reparador.

Quando o usuário mantém o consumo das medicações benzodiazepínicas por tempo prolongado (superior a 3-6 meses), sintomas outros podem surgir. Na Tabela 02, aponto alguns deles.

Tabela 02. Sintomas do uso crônico dos benzodiazepínicos

•    Aumento da ansiedade (nervosismo)
•    Prejuízos duradouros nas habilidades cognitivas (memória, atenção, concentração)
•    Indução ou agravamento de sintomas depressivos
•    Amnésia
•    Síndrome de abstinência (quando o usuário cessa ou reduz abruptamente a dose usualmente consumida): ansiedade extrema, confusão mental, agitação psicomotora, tremores, crises convulsivas, diarreia, náuseas, vômitos, fadiga, alucinações, sensação de formigamento em pernas e braços, zumbido, sintomas semelhantes aos de um resfriado
 
Tendo em vista as duas tabelas acima, podemos concluir que as medicações benzodiazepínicas são efetivas, quando adequadamente prescritas e os pacientes rigorosamente acompanhados. Os problemas com tais substâncias provêm realmente do seu uso prolongado.

De fato, o Transtorno de Ansiedade Generalizada é bastante frequente, afetando cerca de  3 a 8% da população, com idade média de início aos 30 anos.
Nesta condição, o portador pode experimentar sintomas que variam em termos de intensidade e gravidade. Na Tabela 03, aponto alguns sintomas experimentados pelos portadores.

Tabela 03. Sintomas de Ansiedade Generalizada

•    Estado constante de preocupação
•    Dificuldade para relaxar ou apreciar um momento de diversão
•    Tensão e dores musculares
•    Sensação de estar estressado, fatigado repetidamente
•    Esquiva às situações que envolvem estresse (por exemplo, esquiva a trabalhos mais complexos, dificuldade em concluir atividades rotineiras)
•    Constante sensação de alerta e apreensão
•    Pensamentos intrusivos a respeito de fatos que causam preocupação e desassossego
•    Sensação de falta de controle sobre as próprias preocupações
•    Sono amplamente prejudicado
•    Sintomas físicos constantes, como fadiga, tremores, inquietação psicomotora, sudorese, boca seca, taquicardia
•    Sensação de dificuldade respiratória e sensação de morte
•    Irritabilidade persistente
•    Sensação de medo, como se algo ruim estivesse prestes a ocorrer

Claramente, dependendo da gravidade dos sintomas mencionados, notáveis prejuízos sociais, laborais, pessoais sobejarão na vida do portador. As medicações benzodiazepínicas aliviarão alguns dos sintomas; todavia, e infelizmente, não são consideradas medicações que “tratarão” per si e de fato a doença ao longo do tempo.
Aqueles que padecem deste transtorno de ansiedade podem também sofrer de outros transtornos psiquiátricos ao mesmo tempo, tais como sintomas de depressão (40-70%), abuso de substâncias psicoativas (50%), déficit de atenção (25%), síndrome do intestino irritável (35%). Dito isso, uma avaliação médica rigorosa deve ser desempenhada.

Também infelizmente, estando o portador desenvolvendo atividades laborais, evidentes prejuízos no seu desempenho poderão ser percebidos pelos seus empregadores, tais como procrastinação de trabalhos, falta de atenção, erros frequentes. Por vezes, os empregadores interpretarão tais problemas como “relaxo”, despreparo, desinteresse, intenção de mentir ou ludibriar para angariar vantagens outras etc.

É essencial que o portador, dado o sofrimento inerente ao transtorno e dadas as complicações decorrentes, procure tratamento médico especializado. Infelizmente, apesar dos sintomas perturbadores da doença, apenas um terço deles procura tratamento médico eficaz.

O tratamento geralmente exige tempo e adesão dos portadores às recomendações do médico e da equipe. É totalmente compreensível que aqueles que padecem de um transtorno de ansiedade fiquem muito apreensivos no aguardo de resultados terapêuticos imediatos. No entanto, infelizmente, esta não é a regra.

O tratamento recomendado exige medicações eficazes e seguras bem como o manejo psicoterapêutico. O portador deve evitar, sob quaisquer pretextos ou desculpas, a automedicação, o que pode prejudicar, de forma incisiva, o desfecho clínico.

O tratamento, geralmente, envolve abordagens farmacológicas e não farmacológicas:

•    Medicação antidepressiva com atividade ansiolítica;
•    Medicação ansiolítica não benzodiazepínica;
•    Benzodiazepínicos por tempo curto (se possível), mas sempre sob rigoroso escrutínio médico;
•    Psicoterapias;
•    Atividades físicas;
•    Atividades de relaxamento

Nenhum paciente deve fazer uso de medicações por tempo prolongado sem um adequado acompanhamento médico especializado. Outrossim, interromper um tratamento, sem a adequada supervisão médica, não parece prudente.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada é uma doença caracterizada por medo, esquiva a vários tipos de situações, preocupações recorrentes com fatos que não demandam tamanho desgaste, dificuldades para relaxar, episódios de sensação de perda do autocontrole. Embora o tratamento comumente demande alto investimento dos profissionais e dos portadores da doença, o fato é que existe tratamento médico e psicossocial para o problema.

Faça o certo!!!

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.