Como falar de morte com as crianças?

Por Edson Toledo

A mídia tem escancarado tragédias vêm acontecendo bem próximo de nós e outras nem tanto, onde a morte é o personagem principal. Dai temos que pensar em como é que as crianças expressam o seu sofrimento diante da morte de um familiar?

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A primeira questão a ser enfrentada é: quem vai contar para a criança?  Falar de morte com crianças não é mesmo nada fácil. Como a gente pode tentar explicar a morte – extremamente dolorida – para quem ainda não entende?

É consenso que, independentemente da idade e da situação, seja por que morreu um animal de estimação, um parente próximo ou um amigo, não se deve mentir ou esconder o fato das crianças. “As crianças são só crianças, não são bobas!”  

É preciso dar respostas adequadas ao nível de desenvolvimento da criança

Porém, a maioria dos adultos, e não só os cuidadores, consideram que a morte vai além da compreensão da criança e tenta protegê-la, evitando abordar o assunto. No entanto, é importante que sejam dadas respostas adequadas ao seu nível de desenvolvimento.

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Quando alguém morre, não podemos deixar de considerar o impacto desse momento no equilíbrio do sistema familiar, especialmente numa perda dolorosa, como quando se perde um dos pais, um irmão ou avós.

A criança pode participar do funeral?

Uma das principais preocupações que o adulto tem que lidar, é se a criança deverá estar presente no funeral. Especialistas dizem que a criança deve ter a oportunidade de ir, mas não deve ser obrigada. Também não existe uma idade específica a partir da qual se possa afirmar que a criança possa assistir a um funeral. Deve depender, sobretudo, do fato de isso ajudar, ou não, a criança a compreender e confrontar a experiência de morte.

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É de grande valia explicar antecipadamente o que irá ver, acontecer, ou o porquê de se ir ao funeral. As crianças em luto precisam também saber que irão ser cuidadas e estimadas, de se sentir importantes e envolvidas e de alguém, de preferência um adulto, que ouça as suas dúvidas.

As crianças expressam seu sofrimento de formas diferentes, sejam por mudanças emocionais, físicas ou comportamentais. Mas quais são então esses sintomas? E como devemos lidar com eles?

Estado de choque ou de negação

O estado de choque ou negação surge de forma mais intensa durante aproximadamente duas semanas após a morte e pode também ser observada em datas simbólicas. Nessa fase é importante o adulto proteger e apoiar a criança, com uma presença calma e estabilizadora.

Por vezes, a criança não sabe o que pensar ou sentir, mas essa falta de sentimentos deve ser reconhecida como forma de autoproteção, então não é aconselhável punir-se a criança por isso.

Mudanças fisiológicas como cansaço ou fadiga/falta de energia, alterações de sono e apetite, aperto na garganta, falta de ar, nervosismo/tremores, dores de cabeça, ou de estômago, são frequentes. É importante ajudar a criança a entender estes sintomas como uma reação normal e a expressar melhor o seu sofrimento. Um médico clínico pode ser consultado para descarte de causas físicas para os sintomas apresentado pela criança.

Comportamentos regredidos

Em alguns casos, surgem comportamentos regredidos, como dependência excessiva do progenitor e incapacidade de se separar dele, seja para brincar, ir à escola ou dormir; pedir ajuda para tarefas que já fazia sozinha ou regredir na linguagem. Deve-se tranquilizar a criança que o progenitor vivo não vai deixá-la sozinha.

Nos casos de Síndrome do “Homem grande” ou “Mulher grande”, que é quando a criança tende a crescer depressa para substituir o progenitor que perdeu, podendo usar palavras ou comportamentos típicos deste. Aí, devem apenas ser encorajadas as competências que são adequadas para o seu nível de desenvolvimento.

Pode acontecer, também, desorganização e pânico, seguidos de comportamentos inesperados, como sonhos, agitação, irritabilidade ou até dificuldade em concentrar-se. São necessários nestes momentos o reconforto e a presença física de alguém em quem confie.

Emoções explosivas

Quando as emoções se tornam explosivas, com sentimentos de desamparo, frustração e mágoa, a criança poderá sentir-se zangada com a pessoa que morreu, o que implica perceber e aceitar que a zanga é parte natural do sofrimento e irá desaparecer.

Pode surgir algum temperamento explosivo, conflitos com outras crianças ou irmãos, desafio à autoridade, ou diminuição do rendimento escolar. Aqui os sermões são pouco produtivos, embora seja necessário pôr limites, bem como satisfazer as necessidades de afeto e segurança.

A criança pode passar a ter medo de não haver mais ninguém que cuide dela, por ver outras pessoas sofrerem ou até medo da sua própria morte; sendo preciso reconhecer a necessidade de aceitação e ter sensibilidade para com os seus medos.

Sentimento de culpa

O sentimento de culpa pode se fazer presente. As crianças muitas vezes acham que por terem pensado uma coisa que depois aconteceu a culpa é sua. Deve-se evitar comportamentos que reforcem a ideia de que a morte é uma forma de punição e mostrar que é normal zangarmo-nos com as pessoas que amamos.
Podem ainda surgir sentimento de perda, vazio e tristeza. A morte de um ente querido pode levar à depressão, à falta de interesse nela própria e nos outros, à incapacidade de vivenciar o prazer e à baixa autoestima.

Ao longo do processo de aceitação da perda, o ente querido é lembrado e estimado e as memórias deixarão saudades, mas estes sentimentos não devem impedir a criança de descobrir novas formas de lidar com isso e ajustar-se ao seu dia a dia de uma forma adaptativa. O apoio do grupo familiar e escolar é fundamental.

Auxílio psicológico

Não nos esqueçamos de que a ajuda de um psicólogo pode ajudar em muito nessa difícil fase em que não só a criança, mas também os familiares vivenciarão. Ele pode atuar como um catalizador e sugerir possibilidades de intervenção que irá dar sentido ao processo de luto.  

Inegavelmente a morte de uma pessoa querida é difícil sempre e quem tem filhos se pega no dilema de como viver a sua própria perda, a sua dor sem que isso seja ruim para as crianças. Não esconda o que está sentindo. Se precisar chorar na frente de seu filho, chore. Isso mostrará a ele que não tem problema ele se sentir triste também. E que tudo bem mostrar as emoções. Pois é exatamente isso que prova que estamos vivos.