Tocada pelo numinoso

Por Maria do Céu Formiga           

          Tenho interesse em perder a solidez,

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          por isso (sem discrição),

          olho muito para o céu.

          Por isso que insisto?

          Porque às vezes sinto tudo tão distanciado.

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           Nem barcos,

          nem pássaros.

          Tenho medo de que a vida não precise de mim

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          como os botões da tulipa

          não precisam de nada

          a não ser de setembro.

          O tempo se adiantou à vida,

          rompeu a semente,

          surgiu o broto

          (delicado e indefeso)

          e o que eu fiz com ele?

          Chamei Deus naquele céu azul

          esverdeado de pós-chuva

          e brindamos suavemente aquele aroma

          de eternidade

          que só conhece quem sabe bater asas

          como certas aves que,

          mesmo dormindo em pleno vôo,

          não perdem a noção do infinito.

          O tempo se adiantou à vida

          e o horizonte se encarregou do milagre:

          vi os trigos cobrindo as eiras,

          marcando a presença do mistério inefável

           que perpassa a existência e impregna

          o universo inteiro…

          Olhei o andar das estrelas

          E me senti habitada por Deus.