Cocaína e tosse seca; entenda

E-mail enviado por uma leitora:

“Olá! Meu namorado usa muita bebida alcoólica quase todos os dias e usa cocaína também. Ele tem 30 anos e há uns seis anos ele tem uma tosse seca à noite. Há alguma relação entre o uso da cocaína e essa tosse seca?”

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Resposta: A cocaína é uma das substâncias psicoativas com maior potência para induzir quadros de síndrome de dependência. No Brasil, a taxa de prevalência de uso na vida (pelo menos 01 vez na vida) entre pessoas com mais de 14 anos gira ao redor de 4%. Serviços de emergência médica nos Estados Unidos da América têm reportado que a cocaína é a principal droga ilícita que impele a busca por tratamentos nos prontos-socorros, principalmente devido às complicações cardiorrespiratórias. Entre 14 e 25% dos pacientes que chegam aos prontos-socorros das grandes cidades com queixa de dor torácica não traumática apresentam cocaína ou metabólitos da cocaína na urina e 6% têm evidência enzimática de infarto do miocárdio (ou seja, aumento dos níveis séricos de enzimas relacionadas ao infarto).

Além dos efeitos da própria substância psicoativa cocaína, há que se considerar, de forma contundente, os efeitos dos chamados adulterantes incluídos nos pinos ou saquinhos contendo o famigerado “pó” pelos traficantes, a fim de obter maior lucro com as vendas.

Ingredientes tóxicos adicionados à cocaína
    
Os adulterantes são encontrados em todas as cocaínas distribuídas e vendidas pelas ruas ao redor do mundo. Análises químicas realizadas com diferentes amostras de cocaína têm encontrado, além da droga propriamente dita, outros compostos, tais como sílica, talco, ácido acetilsalicílico, açúcares, plástico, ingredientes altamente tóxicos como estricnina, dentre outros. Grosso modo, as taxas de pureza da cocaína vendida e distribuída nas ruas giram em torno dos 40%.

Desta forma, quando o usuário for inalar cocaína ou utilizá-la sob outras vias de administração, deve ter em mente que está inoculando nos seus tecidos corporais não apenas a lesiva cocaína, mas uma miríade de outras substâncias e componentes tóxicos e perigosos.

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Complicações respiratórias incluem tosse seca

As complicações respiratórias provocadas pelo consumo da cocaína dependem da forma como a droga é usada, da quantidade utilizada e da presença de contaminantes (como talco, maisena, pó de vidro, sílica etc). As complicações podem incluir tosse seca e falta de ar após a inalação, crises de asma, edema (inchaço) pulmonar, hemoptise (tosse produtiva com sangue), hemorragia pulmonar, hipertensão pulmonar, enfisema (diminuição da capacidade de elasticidade pulmonar devido à progressiva destruição do tecido), pneumonia por aspiração, bronquiolites (inflamação de tubos minúsculos dentro dos pulmões), fibrose pulmonar (devido à inalação de contaminantes, como a sílica – areia). Todos estes nefastos quadros relacionados ao consumo de cocaína apresentam sinais e sintomas próprios, mas a tosse está presente em praticamente todos eles. Claramente, as vias nasais e paranasais são primeiramente afetadas, com lesões no septo nasal e nos seios paranasais.

A inalação da cocaína causa lesões na mucosa das vias aéreas superiores, com possibilidade de necrose (dada à intensa contração vascular provocada pela droga) das estruturas que ligam o nariz à traqueia.

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O broncoespasmo é uma consequência comum entre os usuários de cocaína, provocando sintomas de tosse, sibilos (chiados) pulmonares e dificuldades respiratórias. Cocaína inalada causa contração dos brônquios, com início dentro de 3 minutos após a primeira inalação e durando, pelo menos, 15 minutos.

Hemorragia pulmonar oculta

Hemorragia pulmonar oculta (não sintomática) é bastante comum entre os usuários de cocaína inalada e tem sido vista principalmente durante autópsias de pessoas que morrem de overdose pela droga.

Os adulterantes, principalmente areia e talco, formam os chamados granulomas (ou nódulos inflamatórios) que permanecem no pulmão e podem crescer, mesmo se o usuário deixar de consumir a substância. Estes granulomas têm sido encontrados em até 11% das autópsias realizadas entre usuários de cocaína.

Tosse é um sintoma comum em todos os quadros

Tendo em vista esta enorme variedade de consequências do consumo de cocaína para as vias respiratórias e sendo a tosse um sintoma comum em todos os quadros, é fundamental que o usuário procure um médico pneumologista, contando, detalhadamente, todo o seu padrão de consumo de substâncias, com o objetivo de rigorosa investigação clínica.

É óbvio que o consumo das substâncias deve cessar. Embora cessar o consumo seja tarefa bastante difícil para o dependente, é necessária a busca por tratamento altamente especializado com a finalidade de promover a abstinência completa e a melhora da qualidade de vida. Seja rápida !!!

Atenção!

Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.