Bebês e as telas digitais: como lidar com essa exposição

Por Ceres Alves de Araujo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou recentemente um guia com orientações para crianças de menos de 5 anos, a respeito do tempo em frente das telas digitais. Pesquisas têm demonstrado o prejuízo que os bebês e crianças mais jovens sofrem pela exposição às telas digitais. E o que se tem observado é que, cada vez mais cedo, o ser humano tem sido exposto de forma intensa e frequente aos celulares e tablets; aparelhos eletrônicos menores que têm sido carregados junto a ele.

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A OMS recomenda que até aos 2 anos os bebês têm que ser mantidos afastados das telas. Preconiza que entre 2 e 5 anos, o tempo diante das telas não pode superar uma hora por dia.

Cinco diretrizes da OMS

As diretrizes elaboradas pelo grupo de especialistas da OMS alertam para o risco do sedentarismo e do sono inadequado das crianças pelo uso abusivo dos eletrônicos. Visando inserir hábitos saudáveis nos primeiros anos de vida, importantes para o bom desenvolvimento motor e cognitivo da criança, propõem:

•    Diminuir o tempo que o bebê fica sentado em carrinhos ou cadeirinhas na frente de aparelhos eletrônicos;
•    Impedir que as crianças façam as refeições na frente da TV ou com o tablet ou telefone celular ao lado;
•    Não permitir que as crianças sejam expostas às telas digitais antes da hora de dormir;
•    Cuidar da distância entre a tela e os olhos da criança;   
•    Garantir os tempos necessários de sono em função da faixa etária da criança.

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O guia ainda oferece orientações de atividades que podem ser realizadas pelos pais para evitar o sedentarismo das crianças, como jogos ao ar livre, jogos com bola, jogos de correr, de se esconder etc. Sugere também, para os períodos nos quais as crianças permanecem sentadas, leituras, contar histórias, jogos de montagem, quebra-cabeças etc.

Sabe-se que quanto mais experiências ao ar livre, em espaços amplos, experiências sensoriais prazerosas na natureza e estímulos ricos do ambiente, mais facilitado será o desenvolvimento do cérebro e da mente da criança.

Experiências dos relacionamentos interpessoais

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Entretanto, o que o guia não ressalta, e o que é ainda mais fundamental para o desenvolvimento desejável das crianças, são as experiências dos relacionamentos interpessoais necessárias desde os primeiros tempos de vida.  

As relações que são estabelecidas, em função das primeiras interações mãe-bebê, começam a construir as redes neurais do cérebro, nos primórdios do desenvolvimento. Ao nascer, o bebê está pronto para os relacionamentos intersubjetivos e é na relação com um outro ser humano que ele constrói  sua mente ao longo do processo do desenvolvimento, relação esta que é sempre mediada pela emoção.

A empatia no relacionamento entre o bebê e seu cuidador é a base para a modulação afetiva do relacionamento do novo ser humano com outras pessoas. As emoções regulam os processos do desenvolvimento ao longo da primeiríssima infância e, para o resto da vida, os processos de apego permanecem no centro de todas as funções emocionais e sociais do ser humano.

Como a comunicação não verbal repercute no desenvolvimento psicológico  

O desenvolvimento psicológico do ser humano é moldado e expresso pela comunicação não verbal. Assim, tocar, pegar, acariciar, embalar o bebê, olhar para ele, falar, cantar para ele são recursos fundamentais. O bebê não consegue entender o conteúdo e sentido do que lhe está sendo dito ou cantado, mas aconchega-se ao corpo do outro, amolda-se ao contato físico, liga-se à entonação e ao ritmo da voz,  aprende o relacionar-se olho a olho e se sente seguro.  

A mente e sua função simbólica emergem no processo do desenvolvimento e na experiência dos relacionamentos interpessoais iniciais. Gradualmente são construídos os modelos mentais sobre o mundo ao redor, organizando-se a experiência do dia a dia em padrões que, então, dirigem as expectativas da vida em todos os aspectos.  

Portanto, é uma pena observar o quão frequente é, nos dias de hoje, as situações nas quais os bebês estão presos às telas digitais e seus pais e cuidadores presos às telas de seus celulares.  Não é dessa maneira que se constroem padrões de relacionamentos seguros e amorosos.