Bikram yoga: yoga para quem tem pressa

por Nicole Witek

Viajei muito nesses últimos meses. Geralmente, quando estou nas capitais da Europa, faço minhas caminhadas. Subo e desço na estação de metrô, ando nos parques, caminho, visito diferentes lugares, curto a cidade e a natureza.

Continua após publicidade

Só que estou, neste presente momento, em Dubai! Temperatura no pouso da aeronave: 33 ºC . Tudo bem, mesmo com o calor, existe um ventinho de primavera que sopra nas folhas das palmeiras. Resolvi exercitar-me um pouco na esteira da sala de ginástica, pois fica difícil caminhar nessa cidade. Nada é feito para o pedestre, além dos enormes shopping centers, um mais lindo do que o outro.

Estou na esteira, correndo. Consegui alcançar uma distância de 4km, só que não acho graça nenhuma. Correndo e pensando em fugir… Correndo e pensando: qual é a atividade que eu poderia fazer para exercitar meus músculos, substituir as caminhadas nos parques de Paris ou Xangai?

Costumo fazer minha sessão de yoga, sozinha. Vocês já me conhecem, faço “meu” yoga bem tradicional, com permanência, concentração, respiração, interiorização, sem forçar, trabalhando a imagem mental e o máximo de relaxamento em toda a musculatura envolvida na postura. Tranquilo e eficiente, meu hatha yoga clássico.

Já que odeio correr e gosto tanto de yoga, resolvi inscrever-me numa aula de Bikram Yoga. Já falei do Sr. Bikram Choudhury*. É importante mencionar que depois de ter sido um iogue fora de série, e nomeado “Rei do Yoga” por Swami Shivananda (uma outra lenda do yoga).

Continua após publicidade

Bikram, aos 20 anos, machucou o joelho e resolveu elaborar uma sequência para se curar. A partir do sucesso que obteve na reabilitação do joelho e outros eventos concomitantes, ele criou a própria marca com uma sequência de 26 posturas clássicas de yoga e duas respirações. Essa modalidade de yoga é também chamada “Hot yoga”, pois são 26 posturas em 1h30min. O tempo é curtíssimo para relaxar entre os exercícios, tudo é quase “emendado”. Os segundos de relaxamento são momentos de alinhamento e reequilíbrio no eixo vertical ou horizontal.


Bikram yoga, o fast-yoga: 26 posturas só em 1h30min

Dizem que todos podem praticar, mas acredito que deva ter um período de adaptação. E a primeira a ser feita é quanto à temperatura ambiente. A sala deverá estar 10 ºC a mais do que a temperatura externa, ou seja, em Dubai, a 43,3 ºC!

Continua após publicidade

É aqui que começa a minha lista de questionamentos: se a gente estivesse na Sibéria, encontraria uma vantagem fantástica em praticar, mas aqui em Dubai, onde todo mundo se protege do calor, parece piada ou loucura! Rapidamente começa-se a transpirar e a suar muito. Na minha primeira aula, o meu batimento cardíaco acelerou demais, precisei, de vez em quando, parar enquanto o resto da turma continuava no embalo.

Para compensar, deve-se beber água, pequenos goles, nos momentos que o professor indica. Geralmente nas grandes transições de posturas de equilíbrio, para posturas de fortalecimento das pernas ou para posturas sentadas e finalmente, posturas deitadas. Pequenas quantidades. É difícil beber muito. Por quê? Não há tempo, você não quer perder o bonde! Não tem postura sobre a cabeça ou sobre as mãos. Todas as posturas são tecnicamente possíveis de serem praticadas.
Não se toca nenhuma música, não tem nem incenso, nem decoração típica da Índia. Só existe um tipo de desodorizador de ambiente à base de óleo essencial para limpar os odores de transpiração abundante! Parece mais uma sala de fitness do que um centro de yoga.

Ao contrário do que se pratica normalmente, as paredes são equipadas de espelhos. Numa aula clássica, a interiorização nas sensações ajuda você a encontrar seu equilíbrio interno, a sentir. Aqui no Bikram Yoga você fica com o foco sobre sua imagem no espelho.

O professor dá o ritmo, explica de acordo com seu próprio estilo: tive uma professora que parecia uma narradora de jogo de futebol, e dois outros mais dedicados e atentos aos alunos. O que se torna importantíssimo quando a aula é feita nessas condições de grande calor e ritmo acelerado!

Isso requer uma mente “yoguica”: não competir, nem com os outros, nem com você. O calor e o ritmo geram quedas de pressão para certas pessoas, e cansaço para outras. Então, mais do que nunca, faz-se necessário respeitar as mensagens do seu corpo e não pensar quando o corpo enfraquece: imediatamente deitar-se e esperar sentir-se melhor.

Porém, com um pouco de paciência e de vontade, você encontra seu próprio ritmo interno e consegue aproveitar ao máximo os segundinhos de relaxamento. E, finalmente, quando a porta da sala abre, você sente um ventinho a uns 20 ºC e sua recompensa chega: você foi até o último segundo da aula, esquentou todos os seus músculos, alongou, esticou, respirou, transpirou e agora sente-se bem!

Pratiquei três vezes nesta semana e constatei três pontos:

Primeiro

Estou acostumando-me ao calor da sala. Esse calor é feito para ajudar seu corpo a se livrar das toxinas. Pelos litros de suor que deixei na toalha e no colchonete, não duvido de ter desintoxicado meu corpo totalmente e mais eficientemente do que em qualquer sauna!

Segundo

Estou mudando de opinião. Acho que se trata de uma forma de yoga que tem toda validade. Essa modalidade de yoga clássico é intencionalmente proposta para o homem moderno que sofre de sedentarismo e de distúrbios corriqueiros, tanto digestivos como dores nas costas. A sessão oferece uma estimulação organizada de cada víscera, uma tonificação excepcional da coluna vertebral e uma concentração diferente. O tempo todo você fixa sua imagem no espelho, e para quem não tem muita consciência corporal, isso ajuda a integrar as mudanças internas do yoga. No yoga tradicional, o que você sente é seu medidor de equilibrio, você muda de dentro por fora. Não é o que você enxerga por fora que conta. Ao contrário, o mais importante não é visível e acontece num nível profundo que não aparece à luz do espelho.

No Bikram yoga, à medida que você pratica, você procura ver as mudanças: melhoria no comprimento dos músculos, mais firmeza na estática da perna… Você procura ver no espelho seus progressos. No espelho você "vê" seu desempenho físico com seus olhos e você entende que algo está mudando no físico gradativamente.

Ninguém explica que corpo e mente formam um "casal" e que essa mudanças que voce vê no espelho, um belo dia, se transformaram em mudanças internas como uma melhoria da saúde dos orgãos e do equilibrio psicofísico.

Terceiro

Fiz meu exercício cardiovascular de maneira muito mais interessante que correr na esteira. Foi um yoga rápido, diferente do que pratico, mas com certeza colhe-se muitos frutos desse yoga também. É um yoga que eu chamaria de **“metroyoga”: o yoga para quem vive na cidade, tem pouco tempo e precisa incorporar exercício físico para desativar o estresse e estimular o sistema cardiovascular!

Para concluir, trata-se de uma modalidade de yoga eficiente, rápida para a manutenção geral do corpo e da mente – espírito? Deixo esse de lado até minha sessão em casa.

A prática possibilita flexibilidade garantida a médio prazo e mantém a mente focada. Cada postura prepara para a seguinte, existe uma ordem precisa: os alongamentos atuam sobre os órgãos, as glândulas e os nervos. A circulação do sangue é intensificada, o sangue é abundantemente oxigenado. Os benefícios serão sentidos tanto no sistema imunológico, como no nervoso, digestivo, cardiovascular, hormonal e respiratório. O calor da sala ajuda a eliminar as toxinas e prepara o corpo para os alongamentos de maneira responsável, sem risco de machucar-se. Os exercícios de respiração propostos compensam as horas no ar- condicionado e a poluição da cidade.

Volto à minha opinião anterior e contradizendo artigos anteriores, nomeio o Bikram Yoga um yoga de utilidade pública, um “metro-yoga”. Yoga das cidades grandes para quem está com pressa!

Parabéns, Bikram Choudhury, as pessoas não sabem ainda, mas você fez uma obra de saúde pública!

* Ver na internet a biografia completa e interessantíssima de Bikram Choudhury

** Metroyoga: neologismo que vem da palavra "metrópolis". É e o yoga de quem mora na cidade e não tem tempo para nada. Essa modalidade de yoga une ao mesmo tempo: exerc[icio cardiovascular, treino muscular e uma pincelada de concentração. Nenhuma profundidade, mas o suficiente para se sentir responsável pela sua boa saúde fisica num mundo cruel.