Como amor e erotismo se relacionam?

A questão erótica é fundamental. Fundamental também é compreender como amor e erotismo se relacionam. E finalmente é fundamental perceber as associações que faço quando penso em erotismo.

Eros é um personagem da cultura grega e, no Banquete, Sócrates propõe uma leitura sensata a seu respeito. Nascido de Porus (o deus da abundância) e de Pênia (a deusa da necessidade), em circunstâncias pouco usuais, Eros é apresentado como um habitante de dois mundos. O mundo divino e o mundo mortal. Um mensageiro entre essas duas realidades; um intérprete e transmissor das coisas humanas aos deuses e coisas divinas aos humanos; súplicas e sacrifícios que partem daqui para o alto e dádivas que procedem do alto para cá. Deuses não se misturam com humanos.

Continua após publicidade

Eros é um mensageiro, um princípio vertical de ligação entre o que há em cima e o que está abaixo. Mas, atualmente, Eros se encontra praticamente indissociável da sexualidade e dos assuntos do mundo mortal. Nós o colocamos totalmente na horizontal e o comercializamos em sex shops e espaços afins – não me oponho nem me alegro por isso, apenas observo, constato e escrevo…

Convite

Fica o convite de observarmos na vida pessoal: o que fazemos de forma erótica e como desenvolvemos nosso erotismo? Na sexualidade e no gozo de seus prazeres ou no interesse pela compreensão e comunhão de alma com o mistério do mundo e tudo que transcende a matéria? Quando ouço falar de um erotismo vertical e de um erotismo horizontal, como me sinto?

A força erótica é a força criativa que nos move e reside em toda conquista material (horizontal) e toda possibilidade espiritual (vertical). Eros vive no amor apesar de não ser o amor; na mesma linha, pode haver sexo no amor, mas o amor não se trata apenas de sexo.

Continua após publicidade

Explicações sugeridas:

Erotismo é tudo o que diz respeito ao personagem Eros e que os percalços em nossa formação limitaram à esfera da sexualidade carnal. Quando falamos em uma força erótica falamos de um poder pessoal que possuímos enquanto mediadores (o Eros que habita em nós) entre duas realidades, a realidade terrestre (mortal, temporal) e a realidade celeste (imortal, eterna).

Quando uma pessoa está desconectada da realidade celeste, a força erótica se manifesta como necessidade de possuir ou ser possuído. Lembremos que no banquete, Sócrates nos ensina que Eros é filho da necessidade (Pênia) por um lado e da abundância (Porus) por outro. Quando a pessoa se desconecta da realidade celeste (mundo da qualidade), que é também a realidade da abundância, ela vivencia a realidade terrestre (mundo da quantidade) apenas. A realidade terrestre apenas, é aquela em que o ser é possuído pela matéria – o ser nessa situação só se reconhece como tal quando também possui ou é possuído.

Continua após publicidade

Orgasmo: morrer para si

O orgasmo, é a pequena morte (vide língua francesa) que permite à pessoa que o sente, passar por uma experiência de morrer para si, ou em outras palavras perder o controle. Assim, o ser eroticamente desconectado do alto (realidade celeste), busca a realização de seu erotismo (seu encontro com Eros) no prazer carnal do sexo. Nesse caso o sexo é a via a partir da qual o ser pode experimentar as duas realidades (antes do prazer – a necessidade (Pênia); depois do prazer a abundância ou saciedade (Porus)).

O ato sexual é a forma natural como parte do reino animal e o reino humano se reproduzem. No reino humano o ato sexual pode ser praticado com o intuito de sentir prazer, independente da intenção de participar do mistério da criação.

O amor é um ‘estado’

O amor é um estado de ser, um tecido onde tudo pode ser e se encontrar de forma plena, uma esfera de conhecimento onde a comunhão entre seres se faz possível em sua forma mais plena e impessoal. O amor é indefinível. Paulo nos lembra em suas cartas que o amor não passará, em contraste com as profecias e tudo o que hoje entendemos por ciência. Os percalços em nossa educação e a lei vigente do mínimo esforço, também conduziram o humano ao estado atual de compreensão de que fazer amor é manter uma relação de natureza sexual carnal. Para aprofundar essa compreensão sugiro meditar sobre a diferença entre o substantivo amor e o verbo amar – semelhantes e ao mesmo tempo tão distintos e distantes.