Que alimentos ajudam a digestão de quem tirou a vesícula?

O uso de enzimas digestivas que atuam na quebra de gorduras, como lipase e concentrado de bile bovina, pode ser necessário em alguns pacientes que passam por uma colecistectomia (cirurgia de retirada da vesícula). No entanto, para a maior parte das pessoas que tira a vesícula bastam ajustes na dieta. Especiarias, alimentos fermentados, amargos e azedos agem melhorando a digestão e facilitando a tolerância a gorduras essenciais. Alguns exemplos de ácidos e amargos: limão, toranja, vinagre de maçã, kombucha, kefir, chucrute, jiló, rabanete, chicória, escarola, mostarda, rúcula, dente-de-leão.

Especiarias e fitoterápicos

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Segundo estudos em animais, as especiarias como gengibre, cúrcuma, pimenta vermelha, pimenta-do- reino e feno-grego, reforçam a secreção de bile e a atividade da lipase pancreática (enzima que digere gorduras). A ação estimulante sobre as enzimas digestivas do pâncreas ocorre quando estas especiarias são consumidas na rotina diária. A cúrcuma é conhecida por inúmeras ações no fígado, agindo especialmente como potente anti-inflamatório e auxiliar do fluxo biliar. Todas as infusões herbais com ação digestiva ajudam, porém o destaque vai para os chás de hortelã, menta, boldo, gengibre e limão.

Lipase 

Abacate, coco, aveia, berinjela, noz e lentilha são alguns dos alimentos que contêm lipase, processando as grandes moléculas de gordura em partículas menores de ácidos graxos e glicerol. Embora a lipase seja produzida pelo pâncreas, consumir estes alimentos pode facilitar a digestão após uma refeição com gordura. Kefir (bebida láctea fermentada semelhante ao iogurte) contém muitas enzimas digestivas, incluindo lipase, protease e lactase. Kombucha (chá fermentado) tem alta concentração de ácido glicurônico, com efeito desintoxicante contra a bilirrubina e outras toxinas, além de grande ação enzimática e digestiva, devendo ser tomado logo após as refeições – 100 ml de cada vez são suficientes. 

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Taurina

Após a remoção da vesícula é importante dar suporte ao fígado para permitir que a bile siga fluindo de forma adequada, não fique retida no órgão e facilite a digestão de gorduras. Taurina é um aminoácido necessário para a produção de bile, auxilia no conforto digestivo após as refeições e reduz o risco de formação de microcálculos dentro do fígado. Os ácidos biliares conjugados com taurina são mais solúveis em água e menos tóxicos. Taurina é encontrada basicamente em alimentos de origem animal, como carnes, aves, pescados, ovos e laticínios. Ela também pode ser tomada como um suplemento. 

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Silimarina  

Extratos concentrados de plantas, como silimarina, dente de leão e alcachofra, estimulam o fluxo de bile (ação colerética) e ajudam a desintoxicar o fígado. A silimarina é extraída do cardo mariano, uma planta medicinal muito utilizada como protetor hepático e no tratamento de vários distúrbios do fígado, quando há comprometimento funcional ou intoxicação. Sua atividade hepatoprotetora é única, atuando em muitas frentes, incluindo ação antioxidante, anti-inflamatória e regulação da função celular.

Cúrcuma

A curcumina, além de colerética, possui potente efeito anti-inflamatório e acelera a recuperação após a retirada da vesícula. Ela funciona melhor se vier acompanhada de piperina (pimenta do reino) para ativar a sua biodisponibilidade, ou seja, será mais absorvida pelo organismo. O consumo da raiz ou do pó de cúrcuma deve ser diário, podendo ser acrescentada em qualquer tipo de preparação alimentar.

Beterraba 

Beterraba estimula a produção de bile. A beterraba contém um arsenal de benefícios mediados por antocianinas (ação antioxidante), betaína e nitratos. O nitrato é convertido pelo corpo em nitrito e óxido nítrico, e esta molécula contribui para a oxigenação do corpo e do fígado. Betaína é um aminoácido que permite a eliminação de toxinas pelas células hepáticas. Além disso, a betaína se concentra majoritariamente no fígado, onde mantém os dutos biliares funcionando corretamente, auxilia na reparação hepática e reduz os níveis de homocisteína, uma toxina associada com a esteatose hepática não alcoólica.

Maçã e gengibre 

A maçã é rica em pectina (fibra solúvel que facilita a eliminação de ácidos biliares) e floretina (ação antioxidante e hepatoprotetora, prevenindo danos no fígado), e também estimula a produção de bile. Gengibre, rico em gingerol, age como anti-inflamatório. Gengibre é conhecido por aumentar a produção de bile e reduzir a náusea de pacientes que tiram a vesícula. A associação de maçã e gengibre ajuda a normalizar as enzimas hepáticas.

Suco vegetal digestivo

A associação de frutas, legumes, folhas amargas e especiarias pode ajudar muito na digestão de quem tirou a vesícula e estimular a produção de bile. Receita do suco: passe uma beterraba com casca pela centrífuga. Coloque o sumo no liquidificador junto com 1 maçã sem sementes e com a casca (onde se concentra a floretina), 1 rodela de gengibre, ¼ de limão com a casca, 2 folhas de escarola, chicória ou dente de leão. Um punhado de rúcula ou espinafre também pode ser usado como opção. Complete com água de coco ou água. Bata bem e tome imediatamente. Se não tiver uma centrífuga, bata a beterraba com ½ copo de água e coe, antes de adicionar os outros ingredientes. 

Referências  

*Journal of Food 2018. A review on health benefits of kombucha nutritional compounds & metabolites. 

*Journal Science of Food & Agriculture 2012. Fat digestion & absorption in spice-pretreated rats. 

*Journal Paediatrics & Child Health 1994. Plant sources of acid stable lipases. 

*Clinical & Experimental Pharmacology & Physiology 2016. Taurine ameliorates cholesterol metabolism by stimulating bile acid production. 

*Electronic Physician 2018. Effect of oral ginger on prevention of nausea & vomiting after cholecystectomy: a double-blind, randomized, placebo-controlled trial. 

*Journal Food Science 2016. Choleretic activity of Turmeric & its active ingredients. 

*Biochimica et Biophysica Acta 2016. Betaine chemistry, roles, and potential use in liver disease.

 *Food Chemistry 2017. Specific bioactive compounds in ginger and apple alleviate hyperglycemia in mice with high fat diet-induced obesity.