Zolpiden e clonazepan juntos não me fazem dormir

E-mail enviado por uma leitora:

“Fazia uso de zolpidem-10 mg com clonazepan-2 mg para dormir. Atualmente, as duas medicações em conjunto não estão me fazendo dormir. Aumentei o zolpidem para 20 mg e mantive o clonazepan-2 mg. Ainda não resolveu. Corro algum risco?”

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Resposta: O termo insônia significa dificuldades para iniciar o sono, perda do sono logo após o adormecimento, e/ou mesmo acordar precocemente. Qualquer padrão de insônia conduz a significativos prejuízos na qualidade de vida, abuso de substâncias para dormir, abuso de bebidas alcoólicas, aumentado risco para outros transtornos mentais, prejuízos no funcionamento cardíaco, prejuízos na concentração, atenção e memória. Portanto, trata-se de um problema que requer manejo médico.

Tendo em vista que a insônia induzida ou não induzida por outros quadros médicos, como depressão e ansiedade, é um problema altamente perturbador e, às vezes, desesperador para aqueles que dela padecem, os portadores procuram soluções imediatistas, antes mesmo de tentar abordagens não farmacológicas.

Abordagens não farmacológicas

Abordagens não farmacológicas para as insônias, tais como: desenvolvimento de um programa de higiene do sono, meditação, terapia cognitivo-comportamental específica para tal problema, mudanças no estilo de vida (tal como uma rotina de atividades físicas diárias e modificação dos hábitos alimentares) devem ser sempre orientadas e enfatizadas de forma clara. Infelizmente, para os imediatistas ou mesmo para aqueles que não respondem às abordagens não farmacológicas, os benzodiazepínicos e as medicações “Z” costumam entrar no cenário.

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Indicações e efeitos colaterais

Benzodiazepínicos, como é o caso do clonazepan, têm sido recomendados para o tratamento de vários problemas de saúde tais como insônias, ansiedade, epilepsias, dentre outros. Já as medicações ditas “Z”, comercializadas mais recentemente do que os benzodiazepínicos, tais como o zolpidem, zaleplon e o zopiclone são recomendadas apenas para o tratamento da insônia. Embora tais medicações sejam efetivas para o tratamento da insônia, elas apresentam vários efeitos indesejáveis ou adversos que precisam ser prevenidos ou mesmo manejados.

Há suficientes evidências científicas que o uso corrente das medicações “Z” e dos benzodiazepínicos está associado com prejuízos na memória, controle motor e executivo, quedas da própria altura e consequentes fraturas ósseas, fala empastada, acidentes automobilísticos e dependência fisiológica.

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Alguns estudos têm verificado a associação entre o consumo prolongado destas medicações com transtornos neurocognitivos persistentes (demências), alguns tipos de cânceres e infecções; todavia, não há suficiente evidência científica para confirmar estes dados neste momento.



O uso continuado destas medicações pode causar perda progressiva dos seus efeitos clínicos

As medicações “Z” são estruturalmente diferentes dos benzodiazepínicos e foram desenvolvidas para otimizar as propriedades farmacodinâmicas dos benzodiazepínicos, proporcionando mais rápido início de ação, menor tempo de atividade (com o objetivo de não provocar ressaca e sonolência diurna), e reduzir a chance de indução de quadros de abuso e dependência. Apesar disso, a experiência não confirma tal tentativa.

Os efeitos benéficos das medicações hipnóticas são evidentes; no entanto, os efeitos provocados por tais medicações, quando o uso é prolongado e não adequadamente supervisionado por médico especialista, podem ser altamente indesejáveis.

Benzodiazepínicos: efeitos

Os principais efeitos adversos dos benzodiazepínicos incluem cefaleia, visão borrada, perturbação do equilíbrio motor, retardo no esvaziamento gástrico e, por vezes, reações paradoxais (ou seja, ao invés de induzir sonolência, induz inquietação psicomotora).

Medicações “Z”: efeitos

Os efeitos adversos das medicações “Z” são comparáveis aos das medicações benzodiazepínicas, principalmente a tontura, náusea, cefaleia e sonolência diurna. A ressaca tem sido uma queixa muito frequente na prática clínica diária entre os usuários de benzodiazepínicos. A ressaca causada por esta classe de medicação depende da dose utilizada, dos tipos de medicamentos usados, de aspectos genéticos do insone, das condições de funcionamento hepático e renal.

Mais raramente, as medicações “Z” e os benzodiazepínicos (especialmente aqueles de curta duração) podem induzir sintomas complexos, tais como alucinações, pesadelos, sonhos vívidos e episódios de sonambulismo.

Também, ambas as classes de medicações podem causar depressão respiratória, efeito este aumentado se o insone também consumir bebidas alcoólicas.

Agências de saúde europeias aconselham que o usuário de zolpidem apenas dirija um veículo após 8 horas da tomada de uma dose. No entanto, outra medicação “Z”, o zopiclone, pode induzir prejuízos no controle motor e na atenção na manhã seguinte à sua tomada e permanecer à tarde.

Abuso e dependência

Todas estas medicações têm potencial para induzir quadros de abuso e síndrome de dependência. Estima-se que entre 20 e 30% daqueles usuários diários e prolongados de medicações benzodiazepínicas sejam fisicamente dependentes. Nesta situação, os dependentes quando cessam ou reduzem abruptamente o uso podem manifestar os famigerados sintomas da síndrome de abstinência:

a)  piora da insônia;

b) dores no corpo;

c) confusão mental;

d) irritabilidade;

e) agitação psicomotora;

f) ansiedade extrema;

g) crises convulsivas.

O uso continuado destas medicações pode causar perda progressiva dos seus efeitos clínicos. Esta perda é bastante evidente entre os usuários crônicos e, frequentemente, faz com que eles aumentem as doses por conta própria.

Existe uma percepção de que as medicações “Z” são mais seguras do que as medicações benzodiazepínicas. No entanto, esta percepção não é correta. Ambas as classes de medicações produzem similares efeitos colaterais e, nos casos de dependência fisiológica, similares sintomas de síndrome de abstinência.

Desta feita, todas as medicações hipnóticas devem ser utilizadas por curto período ou de forma intermitente, mas sempre supervisionadas por médico especialista.

Quando você associa a tomada de ambas as classes de medicações hipnóticas, os riscos apontados acima aumentam vertiginosamente.

Estas medicações somente podem ser adquiridas através de receitas médicas. Tendo isso como verdade, você deve estar sendo acompanhada por médico especialista e o seu diagnóstico deve estar correto. Portanto, converse com o seu médico e manifeste esse seu comportamento e preocupações. Não espere nem mais um dia para fazer isso.

Atenção!

Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.