Na infância, castigar é uma forma de educação

por Ceres Araujo

Castigos físicos foram, felizmente, expurgados na educação de crianças, na maioria dos países civilizados. Bater, em todas as situações, é uma forma de mau-trato.

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Bater no filho significa covardia, abuso de força física, falta de controle de si mesmo, reconhecimento de falência diante do comportamento da criança, atestado de fracasso como educador e é crime, passível de prisão.

A criança que apanha vive a humilhação, a impotência e alimenta mágoa e rancor.

Crianças que apanham têm muita chance de se tornarem indivíduos que batem. Bater não só não educa, mas legitima o abuso, a agressividade e a selvageria.

As "palmadinhas" no bumbum e os "tapinhas" nas mãos também não são lícitos em educação. É uma forma absolutamente errada de ensinar limites. Crianças precisam de limites. O ser humano nasce totalmente impulsivo, criancinhas mordem, empurram, puxam cabelos, batem e, para se tornarem seres civilizados, precisam aprender a controlar seus impulsos e a aceitar limites. Apanhar apenas ensina o bater, nada mais.

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Usar castigos não físicos é permitido e é educativo. Como contraposição à educação autoritária de antigamente, surgiram linhas teóricas na Psicologia que condenaram os castigos, assim como condenaram os "nãos". As crianças não deveriam ser limitadas em nenhuma de suas atitudes, sob pena, se acreditava na época, de terem sua inteligência e sua criatividade bloqueadas. Criadas em um ambiente totalmente permissivo, sem normas e regras, essas crianças não se transformaram em seres brilhantes e inovadores como se esperava, mas em pessoas desorganizadas, desorientadas, sem disciplina e sem objetivos viáveis.

No que diz respeito à educação, foi necessário voltar um pouquinho atrás. Hoje não se postula uma educação autoritária, mas também não se encontram justificativas para uma educação permissiva. As duas formas são lesivas às crianças.

Sempre digo que dizer não é a maior prova de amor que os pais podem dar a seus filhos. Dizer sim é fácil, mas dizer não dá trabalho, custa. Assim, regras, normas, princípios de conduta precisam ser ensinados aos filhos, para que eles se transformem em cidadãos dignos de viver na sociedade em qualquer parte desse mundo globalizado.

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Costumo, dizer também, que família não é democracia: pais mandam e filhos obedecem, isso para a segurança e proteção deles. Crianças não têm ética pessoal, não sabem o que lhes serve, não sabem o que lhes faz bem. Pais sabem.

Na infância, castigar é uma forma de educação. O bebê ao nascer se torna o centro das atenções do ambiente e costuma viver a sensação de onipotência, mas ao crescer percebe sua impotência diante do mando dos pais e apresenta birras, comportamentos inadequados com o fito de buscar manter a ilusão da onipotência dos primeiros tempos. Irá testar o ambiente usando todas as estratégias inteligentes que lhe são possíveis, para verificar até onde ele pode ir. Isso é fundamental para o estabelecimento inicial das fronteiras entre o próprio espaço e o espaço dos outros, aprendizado importante para o resto da vida.

No aprendizado do viver em família e em sociedade, a criança cometerá infrações frente aos códigos estabelecidos. Mas, a criança não pode vencer com birras e condutas inadequadas. Portanto, muitas vezes castigos serão necessários. Alguns educadores orientam que se deve evitar a palavra castigo. Assim, ao invés de dizer você está de castigo, deve-se colocar no quarto, na cadeirinha, etc. para a criança "pensar" no que fez. Isso, a meu ver, é contraproducente e apenas um eufemismo.

Quando um filho apresenta propositalmente uma conduta inadequada ele deve receber um castigo e estar ciente que está recebendo uma punição. Jamais uma ameaça de castigo, pois ameaças ou criam um clima de terror ou caem no vazio, pois, na maioria das vezes, não são cumpridas pelos pais.

O castigo precisa ser proporcionado à infração e ele precisa ser justo, firme, curto e dado com objetividade e muita calma. Quando a criança comete uma infração, ela entra em débito e sabe disso, o castigo estabelece o equilíbrio entre a "coluna de débitos e a coluna de créditos" e, se foi justo, é tranquilizador para a criança. Progressivamente a criança percebe que o castigo não significa que os pais não gostam dela, mas que não gostam do que ela fez e a estão educando para que, no futuro, ela seja uma pessoa que respeita e seja respeitada pelos outros.

Infrações graves

Existem infrações graves, moderadas e leves. Por exemplo, um dos castigos mais severos é a retirada da atenção total dos pais, o ignorar durante um tempo determinado, porque os filhos, na maioria das vezes, fazem o que não devem, justamente para chamar a atenção dos pais. Infrações graves são bater, chutar, xingar os pais e outros adultos responsáveis por eles.

São castigos para infrações menos graves retirar o brinquedo que o filho mais gosta ou não permitir a ida a um passeio ou impedir o uso de eletrônicos, sempre por um dia. Castigos que duram tempos prolongados são pouco eficazes, pois a criança se acostuma a brincar com outras coisas facilmente e pode esquecer do que foi privada.

Castigos não devem ser administrados na rua, na casa de familiares, na casa de amigos, sob pena de humilhar a criança. O castigo não tem essa função, pois não se educa humilhando. Também, é uma ação privada entre o genitor e a criança.

Castigos perdem a função educativa na adolescência. Os controles sobre o comportamento precisam ainda ser estabelecidos, mas devem ser ensinados de outra forma. Castigos apenas revoltam o filho adolescente. Como ele já está adquirindo uma ética pessoal, deve poder refletir a respeito do que lhe faz bem e do que lhe faz mal. Cabe aos pais ajudar na reflexão para que o filho pense e assuma as consequência de sua ação.