Inatividade física prejudica cognição e comportamento em portadores de demência

por Ricardo Arida

Estudos epidemiológicos mostram uma correlação positiva entre atividade física e cognição – capacidade de assimilar e aprender) . Essa correlação tem sido observada em crianças, adolescentes, adultos e idosos saudáveis e em estagio inicial de demência*. Portanto, evidências científicas mostram que um declínio da atividade física regular provoca um efeito deletério na cognição e no comportamento em pessoas com demência.

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Estudos têm mostrado que em pessoas idosas, uma melhor condição física está associada a um maior volume do hipocampo (área relacionada a memória e aprendizado)**. Essa e outras áreas cerebrais são afetadas no mais prevalente subtipo de demência como a Doença de Alzheimer. Isso pode explicar porque o exercício exerce um efeito benéfico na função cognitiva em idosos com risco de demência, mas não em pessoas com estágios mais avançados de demência.

Uma explicação para esses achados negativos poderia também ser atribuída ao fato de que – em estágio mais avançado da demência ou idade, lesões isquêmicas no cérebro são mais frequentes, diminuindo as ações positivas do exercício físico na função cerebral. É importante ressaltar que o tipo de exercício físico pode afetar positiva ou negativamente a função cerebral em idosos. Por exemplo, exercício físico de alta intensidade para idosos pode ser estressante, aumentando os níveis de cortisol***, que consequentemente afeta regiões cerebrais como o hipocampo e córtex prefrontal.

O idoso é normalmente estimulado a ficar restrito de grandes atividades motoras e dessa forma, fica dependente da ajuda de outros para rotinas diárias com auto-higiene, etc.

De forma geral, um estilo de vida fisicamente ativo pode proteger contra a demência e ao contrário, uma diminuição dos níveis de atividade física, está associada com declínio da função cognitiva. A justificativa mais comum para a restrição física dessas pessoas está na prevenção de quedas e fraturas. Realmente, pessoas que são estimuladas a estarem restritas fisicamente apresentam menos oportunidades de interação social. Essas pessoas se tornam dependentes e alterações de humor parecem ocorrer mais frequentemente como resultado dessa dependência e sua interação social diminuída.

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É importante ressaltar que estudos também mostram que a atividade social pode diminuir o estresse emocional e é associada a reduzido risco de demência nesse contexto.

Embora devamos ter cautela e supervisionar as atividades motoras diárias de idosos para evitar ou diminuir o risco de fraturas ou lesões causadas por quedas, o nível de atividade física dessas pessoas pode estar muito reduzido quando esses cuidados são exagerados ou desnecessários. A restrição física, nesses casos, coincide com o estresse, agravando a neuropatologia já existente, o qual pode aumentar ainda mais o estresse e a ansiedade dessas pessoas – o exercício físico pode reduzir o estresse e a ansiedade.

* A demência é um transtorno cognitivo em que ocorre uma deterioração gradual do funcionamento do sistema nervoso afetando a memória (perda ou diminuição da capacidade cognitiva, de forma parcial ou completa, permanente ou momentânea e esporádica), o julgamento, a linguagem e outros processos cognitivos avançados.

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** Erickson, K. I. et al. (2009). Aerobic fitness is associated with hippocampal volume in elderly humans. Hippocampus,
19, 1030–1039.

*** Eggermont, L., Swaab, D., Luiten, P. and Scherder, E. (2006). Exercise, cognition and Alzheimer’s disease: more is not necessarily better. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 30, 562–575.