Meu noivo morre de ciúme de meu casamento anterior. Estou desesperada. O que faço?

por Anette Lewin

"Estou desesperada. Já fui casada, tenho uma filha de 8 anos e hoje sou noiva. Vivemos um relacionamento maravilhoso, o amo como jamais pensei que fosse possível e tudo isso é reciproco. Porém, meu noivo é extremamente machista, e não suporta a ideia de eu ter sido casada e de repente em momentos de crise, isso vem à tona. Ele quer saber de tudo, diz que não foi o primeiro e esses pensamentos tomam conta dele de tal forma que diz que apesar do amor que sente, não sabe se é capaz de vencer isso. Ele me pede ajuda, diz que não queria sentir isso, pede que eu me abra, fale do passado e eu não sei o que fazer mais. Ele também está desesperado, pois diz que o que sente por mim é essencial para vida dele: nossa amizade, respeito, tudo é perfeito; exceto essa situação onde me sinto mal, pois eu não o conhecia."

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Resposta: Você já percebeu que existe uma grande ambiguidade no comportamento do seu noivo. Por um lado, ele quer saber de seu passado amoroso, e por outro não aguenta ouvir o que aconteceu entre vocês. E você fica entre a cruz e a caldeirinha: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come…

Situação difícil mas muito comum em homens que cultivam a fantasia de serem os primeiros na vida de suas esposas. E que deixam as regras morais e psicológicas se tornarem mais importantes do que seus reais sentimentos.

Você me pergunta como lidar com isso.

Como diminuir a importância do passado no presente?

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1º) Talvez você deva usar o pedido de ajuda dele para direcionar seu comportamento. Ficar contando em detalhes como foi sua vida pregressa não vai adiantar muito, pois sempre haverá, por parte dele, a sensação de que você está omitindo alguma coisa. Assim, seus relatos, ao invés de tranquilizar seu noivo, acabarão por alimentar sua obsessão e aumentar sua ansiedade.

2º) Tente combinar com ele que o que você tinha a dizer sobre o passado já foi dito e, de agora em diante, vocês tentarão apenas conversar sobre as vivências de vocês e fazer delas a parte mais importante do relacionamento.

3º) Diga que ficar falando sobre suas experiências no primeiro casamento traz para a vida de vocês um assunto que atrapalha e não permite que vocês construam sua história amorosa com a tranquilidade necessária para isso; explique que ninguém, mesmo que quisesse, conseguiria lembrar de todos os detalhes do passado, e ficar cutucando para ver se existe algo que foi omitido acaba se tornando mais uma tortura do que um esclarecimento.

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4º) Combine com ele que, pelo crescimento do relacionamento de vocês, ele vai ter que aprender a se controlar e evitar tocar no assunto e você vai ter que aprender a se controlar e não responder se ele tocar. Assim, a tarefa de controle será distribuída entre os dois e você terá estabelecido um objetivo onde o desafio é diminuir a importância do passado na vida presente. Como se fosse um jogo onde vocês são parceiros e não rivais. Muitas vezes isso funciona.

5º) Ao mesmo tempo, tente construir e ressaltar os bons momentos que vocês vivem juntos: os passeios em familia, os momentos a sós, os planos para o futuro. Procure descobrir novos programas, novos lugares, novas viagens. Evite, por motivos óbvios, frequentar os mesmos lugares que ambos frequentavam no casamento anterior.

Afinal, pelo que você escreve vocês se dão bem e existe reciprocidade na troca de afeto. Assim, a construção de vivências que deixem um gostinho de quero mais não deve ser tão difícil assim. Invista nelas para desenhar um relacionamento onde o passado ocupe cada vez menos espaço, já que para ambos o primeiro casamento não deu muito certo.

Lembre-se porém, que mesmo com toda a boa vontade do mundo, um comportamento neurótico, como o do seu noivo, pode se mostrar resistente e acabar por inviabilizar uma relação saudável. Como ele mesmo diz, ele entende racionalmente que esses sentimentos são infantis mas não consegue controlá-los. Assim, se depois de tentar enfrentar o problema com empenho, dedicação e boa vontade você notar que as coisas não mudam, sugira a ele que procure ajuda profissional.

Muitas vezes uma terapia pode abordar o problema de uma forma mais técnica, ajudando-o a tomar consciência de seus mecanismos internos e dando a ele a possibilidade de desenvolver o controle sobre seus sentimentos que ele ainda não tem.