Dia dos Pais: eles deveriam ‘presentear’ os filhos

por Rosemeire Zago

O Dia dos Pais está chegando, e é claro que todos sabem que as comemorações, como qualquer outra, acabam por se perder nos apelos comerciais deixando de lado a reflexão do seu real significado. Não estou me referindo à origem da homenagem, mas sim como é ser pai nos dias de hoje. O papel de pai e mãe antigamente, ou até mesmo há pouco tempo atrás, era bem definido, a mãe cabia a educação e acompanhamento dos filhos e ao pai, o papel de provedor.

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Mas e hoje, quando ambos fazem de tudo um pouco? Sim, ainda temos homens (ainda bem que cada vez menos) machistas e autoritários, indiferentes às necessidades da esposa e, pior ainda, dos próprios filhos. Este artigo é dedicado a você que é pai, seja você presente, ausente, distante, companheiro mas, sobretudo, pai. Também é para você mãe, para que possa refletir um pouco e quem sabe entender e conversar com aquele que você escolheu para ser pai de seus filhos.

A figura paterna é de extrema importância, tanto quanto a figura materna, e temos exemplos de muitos pais que cada vez mais compartilham tudo que se refere a seus filhos, em igualdade de condição; independente de serem divorciados, terem outros filhos, afinal, pai sempre será pai.

Recebo com muita freqüência queixas de adolescentes, e na mesma proporção, queixas de pais. O que há em comum? A falta de compreensão. Antes de continuarmos a pensar sobre o assunto, te convido a pensar em sua própria infância e adolescência. Como foi, você se lembra? Quais os momentos que mais marcaram em sua memória? Faça uma breve viagem no tempo… Será que algumas atitudes que você tem com seu filho não são repetições do que viveu, apesar de ter prometido que não faria igual? Será que você passou por tantas privações e necessidades, que hoje trabalha tanto para que não falte nada a seus filhos que não consegue tempo para partilhar com eles suas próprias conquistas?

Pais que, quando crianças foram humilhados, envergonhados, não receberam atenção, carinho, amor, conseguem agir de maneira oposta com o filho, mas nem sempre se consegue isso facilmente, pois não é nada fácil mudar padrões de comportamentos, principalmente quando os sentimentos gerados foram reprimidos. E porque reprimimos, fugimos, negamos? Em geral, para evitar sentir a dor que provocam. E quanto mais se reprime, nega, foge, mais esses sentimentos se fazem presentes através de padrões que se repetem.

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Os pais de hoje, em sua maioria, tiveram pais rígidos, autoritários, ausentes, e sem perceber, podem estar repetindo esses comportamentos. Quem viveu a ausência da figura paterna sabe a dor que isso causa. A ausência não acontece apenas quando o pai morre, vai embora, se separa da mãe, ela muitas vezes se dá com o pai morando na mesma casa, porém não se divide nada além do teto. Medos, dúvidas, escolhas, sentimentos, nada é dividido nem compartilhado.

É importante lembrar-se da própria vida antes de julgar os comportamentos dos filhos, pois muitas vezes nos esquecemos como pensávamos com tal idade, e esperamos e cobramos que pensem como nós pensamos hoje… total incoerência, mas quantas vezes você não cobrou que seu filho agisse como você agiria? Será que foi levado em conta a diferença de idade e experiência?

É preciso, às vezes, exercitar a empatia e se colocar no lugar do outro. Muitas crianças e adolescentes buscam desesperadamente o limite, a demonstração do quanto se é importante, do quanto se é amado, e isso não se encontra quando se tem um pai ausente, distante, frio.

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Muitos pais se queixam da falta de diálogo com os filhos. E sempre peço que pensem o quanto eles próprios conversam com seus filhos, demonstrando que confiam neles, que se interessam pelo que fazem, convivem e, principalmente, se demonstram interesse pelo que sentem. Quantas vezes você perguntou a seus filhos o que eles estão sentindo?

Filhos rebeldes

Cada vez mais temos filhos rebeldes, que não respeitam os pais, irmãos, colegas, professores, enfim, não respeitam nada, nem ninguém. Na verdade, a falta de respeito com o outro, em geral é um reflexo do quanto não respeitam a si próprios. Mas qual é a referência que esses filhos receberam do que seja respeito? Será que foram respeitados em suas vontades, desejos, sua essência e seu jeito singular de ser? Qual o respeito que se teve com seus sentimentos desde muito pequenino? Ou quantas vezes você não cobrou comportamentos que sequer ensinou? Como pedir respeito a um filho se o que ele presenciou por anos foi a falta de respeito em forma de mentira, traição, indiferença, desprezo, com a mãe? Qual a referência de respeito que pode ter se formado em seus filhos na maneira, de você pai, tratar sua esposa?

Outra fonte de conflitos é a ausência de reconhecimento pelo que fazem, sendo facilmente substituídos pelos pais pela cobrança constante. Pais perfeccionistas, que sempre esperam que seus filhos façam mais e melhor, acreditando que assim estão estimulando-os, podem conseguir exatamente o resultado oposto, fazendo com que se sintam sempre devedores, nunca atingindo o que esperam deles. Crianças fazem de tudo para obter o reconhecimento de seus pais, e quando não o conseguem, sentem-se como se todo o esforço fosse em vão, chegando a desistirem no meio do caminho.

Os filhos fazem de tudo para obter atenção, se não conseguem por meio de situações saudáveis, podem inconscientemente, chegar a provocar machucados, acidentes, como se fosse a única maneira que encontram para obter a atenção tanto desejada. Há crianças que chegam a colocar o termômetro próximo de uma lâmpada para provar sua febre elevada, outras ainda adoecem, pois de outra forma não recebem a atenção. Parece loucura, mas é verdade. Quando não recebemos carinho, atenção, amor de nossos pais, inconscientemente, podemos provocar situações para receber o que não vem de outra forma.

Reflita sobre tudo isso, mas não fique triste se percebe não ter sido o pai que você gostaria, ainda há tempo, sempre há tempo para mudar atitudes para nos aproximar de quem amamos. Independente da idade de seu filho você será sempre o pai, portanto, se aproxime, brinque, fale sério, compartilhe os momentos e acima de tudo, dê aquilo que o dinheiro não compra: carinho, atenção, afeto, companheirismo, apoio, compreensão, amizade e muito amor! Afinal, a maior herança que um pai pode deixar a seu filho é uma só: amor!