Desemprego carrega estigma de preguiça e inadequação

por Antônio Carlos Amador

Um problema que se coloca frequentemente na sociedade atual é o da qualidade de vida. Em outros tempos os interesses eram dirigidos para a obtenção de conforto e progresso material, mas as pessoas começaram a se dar conta de que muitos sacrifícios não tinham sentido, já que provocavam uma deterioração em sua qualidade de vida.

Continua após publicidade

A qualidade de vida inclui muitos fatores inter-relacionados: o conforto, as disponibilidades materiais, o tempo de trabalho, o tempo de lazer, o tempo para dedicar a nossos familiares, filhos e amigos, o contato com a natureza, com a cultura etc.

Para muitas pessoas, trabalhar é a maneira de ganhar dinheiro, possibilitando a realização de seus desejos materiais. Um dos paradoxos da situação econômica atual é que enquanto muitas pessoas sofrem com o desemprego, outras padecem do estresse causado pelo excesso de trabalho. A linha divisória entre trabalho e lazer está de tal forma clara nas nossas mentes que uma atividade determina a outra. Não podemos nos divertir a não ser que trabalhemos, mas chegamos a trabalhar tão intensamente que não somos mais capazes de nos divertir. E se não temos trabalho, o lazer deixa de ter significado, e achamos difícil usufruir dele.

A ameaça do desemprego, a dificuldade em se encontrar emprego é uma experiência devastadora para muitas pessoas, chegando a afetar o espírito, a mente e o corpo.

Adquirimos um senso de identidade a partir do nosso trabalho, que é muito importante para a nossa autoestima. O desemprego carrega ainda hoje um estigma de preguiça e inadequação, restringindo a culpa unicamente ao desempregado. Mas na maioria das vezes as causas são mais complexas e se encontram na conjuntura política e econômica. A necessidade de sustento próprio e da família, de arcar com as demandas de alimentação, abrigo e segurança quase sempre suplanta qualquer desejo de prazer, diversão e lazer.

Continua após publicidade

Contudo, quando alguém se depara com uma crise, seja ela o desemprego, uma perda, ou divórcio, é possível usar tais circunstâncias para reexaminar valores, direção e objetivos. Isso não significa depreciar as necessidades humanas básicas de dinheiro, alimentação e abrigo, nem diminuir a importância dos distúrbios emocionais que tais crises acarretam.

A maneira como encaramos nossa realidade pode determinar como reagimos a ela. Em outras palavras, a maneira como encaramos nossos sofrimentos determina a formas como reagimos a eles, incluindo a capacidade de suportar a dor. Assim, para que possamos examinar alguns aspectos de como o trabalho e o lazer influenciam as nossas vidas, talvez seja útil identificar ou tomar consciência de nossos objetivos e ambições.

Há pessoas que geram recursos econômicos importantes, mas que carecem de tempo para desfrutar dos benefícios resultantes da boa utilização dos mesmos e não têm tempo para se dedicar a outras pessoas. Podemos considerar que essas pessoas têm pouca qualidade de vida, mesmo que recebam altos salários e vivam cercadas por conforto material.

Continua após publicidade

O que é qualidade de vida?

A qualidade de vida surge como um ponto de equilíbrio em uma equação que mede o tempo e o esforço que dedicamos a uma atividade em relação aos benefícios que podemos obter mediante o exercício da mesma.

Qualquer excesso no que se refere a algum dos fatores citados anteriormente leva a um desequilíbrio que irá deteriorar nossa qualidade de vida por falta de meios econômicos, excesso de trabalho, estresse, falta ou excesso de tempo livre, difícil acesso à natureza, perda excessiva de tempo causada pelo transporte etc.

Conseguir uma certa qualidade de vida implica uma certa capacidade para organizar-se e avaliar o que realmente desejamos, o que nos é imprescindível e as coisas que realmente não precisamos para nada.