Tecnologia pode afetar vida afetiva e privada

por Marisa Micheloti

Os dias de hoje nos trazem novos acompanhantes para a vida privada. Estamos em um momento de intensa modernidade com a chegada dos computadores e outros avanços tecnológicos, atingindo uma grande quantidade de lares. Sem falar em outros objetos eletrônicos como o celular, a secretária eletrônica, a Internet, os pagers, os identificadores de chamadas telefônicas….

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Hoje é praticamente incomum as pessoas desconhecerem meios de comunicação ou até mesmo não tê-los em suas residências. Há uma grande luta para que a vida privada tenha espaço, mas ela tem perdido dia-a-dia o seu direito. O secreto não existe como um direito e a intimidade parece realmente não ter importância.

É muito comum todas as pessoas serem localizadas onde quer que estejam, tornando-se muitas vezes públicas as situações em que estão inseridas. São raras as pessoas que, ao se dirigirem a uma chamada celular, perguntarem se estão incomodando.

Todas essas situações vão piorando quando se trata de pessoas mais íntimas. Aí realmente a liberdade para invadir a vida do outro parece ter uma permissão maior. As pessoas se acham no direito de saber onde o outro está, o que ele está fazendo, qual é sua senha e aquilo que deveria ser secreto e privativo, passa a ter um caráter público. São situações que muitas vezes estão respaldadas pela possibilidade do outro ter acesso à vida do companheiro, que de uma maneira controladora tem um movimento abusivo violento.

Vantagens

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Todas essas transformações sociais trazem uma série de confortos e possibilidade de maior comunicação. Hoje muitos companheiros conversam diariamente pela Internet, o que jamais acontecia pelo telefone. Resolve-se problemas domésticos, convida-se para um cineminha, briga-se, resolve-se quem vai à reunião dos filhos, decide-se quem vai ao mercado, passa-se a lista de compras ou até mesmo faz-se o supermercado, o que soluciona as administrações domésticas com muita facilidade. A lista de benefícios sem dúvidas é enorme principalmente quando os parceiros moram distantes e podem se comunicar com o outro em qualquer lugar do planeta.

Desvantagens

Infelizmente não é só nessas situações que a Internet tem aparecido na vida dos casais. Hoje em dia temos o computador como mais um membro do contexto familiar, portanto tem sido também o grande causador de desavenças. Muitas pessoas trazem o trabalho diariamente para casa através da máquina. O limite entre trabalho e casa ficou muito tênue, as pessoas têm acesso aos afazeres do seu serviço através do computador, do celular, onde quer que o indivíduo esteja. A possibilidade de ter liberdade quando o indivíduo sai do trabalho e vai para casa, demonstra estar monitorada e essa é uma sensação que acompanha as pessoas causando tensão e estresse.

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As pessoas estão muito conectadas à tecnologia e sem dúvida hoje em dia não viveriam mais sem ela. Diariamente as pessoas chegam em suas casas e desejam verificar a caixa de e-mails e nem se dão conta de quantas horas por lá ficaram; que o parceiro ou a parceira já dormiu e que essa qualidade de relacionamento tem sido uma grande causadora de separações conjugais. As pessoas estão muito mais disponíveis para a Internet do que para um bom papo ou uma relação de comunicação pessoal.

A comunicação on-line é solitária e as pessoas que estão "matando o tempo" realmente estão fazendo-o e, quando isso implica em um lar com mais pessoas, como parceiro (a), filhos, família, a falsa sensação de estar presente apenas por estar em casa não é suficiente. É uma situação que traz um empobrecimento relacional muito forte. Sem falar nos casais que têm procurado terapia em função das descobertas de traições do parceiro ou parceira com envolvimentos via internet com os amantes virtuais.

Sem dúvida, algumas vezes tudo isso sinaliza um casamento em falência, mas também pode levar bons casamentos a falirem. A privacidade é muito importante para os seres humanos, mas não podemos deixar de realizar os momentos de relacionamentos íntimos, de comunicação verbal, de trocas afetivas. Essas atitudes são bem antigas, mas ainda são insubstituíveis para a saúde mental.