Burnout afeta mais quem trabalha em contato direto com clientes

por Edson Toledo

Voltou de férias e já se sente esgotado? Se você respondeu sim caro leitor, acho que está na hora de falarmos sobre o assunto, especificamente sobre o desequilíbrio na sua saúde profissional que pode estar associado desde uma insatisfação até o fato de levá-lo a sentir exausto. Pois bem, o tema de hoje é síndrome de burnout.

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O termo burnout, segundo a língua inglesa é a união de dois termos: burn (queimar) e out (fora) cuja tradução menos literal pode ser algo como "ser consumido pelo fogo", mas segundo o psicólogo Herbert Freudenberger que cunhou o termo em 1974, burnout é falhar, desgastar-se ou sentir-se exausto devido às demandas excessivas de energia, força ou recursos.

Em 1982, a pesquisadora Christina Maslach definiu essa síndrome de forma avassaladora ao dizer: "O burnout é uma síndrome de fadiga emocional, despersonalização e de uma autoestima reduzida, que pode ocorrer entre indivíduos que trabalham em contato direto com clientes ou pacientes.

Assim, o burnout pode afetar várias classes de profissionais como médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, advogados, dentistas, professores, bancários, profissionais de telemarketing, vendedores, recepcionistas, entre outros.

A música intitulada Burnout, da banda californiana de punk rock Green Day, nos dá uma concepção sintética e popular dessa síndrome, traduzida no sentimento que a letra expressa tão apropriadamente.

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Abaixo à versão traduzida da letra:

Eu declaro que não me importo mais
Estou "queimando" e ficando ENTEDIADO.
Em meu ABORRECIDO quarto enfumaçado
Meu cabelo está entrando em meus olhos
Arrastando meus pés para a rua esta noite
Para dirigir entre as luzes dessa cidade de merda
Eu não estou crescendo, estou só "queimando"
E me alistei para caminhar entre os MORTOS.

Choveu apatia em mim
Agora eu me sinto como um sonho ensopado
Tão perto de me afogar, mas EU NÃO LIGO.

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Eu vivi nessa caverna de metal
Atiro meus sonhos no túmulo
INFERNO, quem precisa deles, afinal
Eu não estou crescendo, estou só "queimando"
E me alistei para caminhar entre os MORTOS.

Burnout é um conceito multidimensional; entenda seus componentes

exaustão emocional: ocorre quando a pessoa percebe nela mesma a impressão de que não dispõe de recursos suficientes para dar aos outros. Surgem sintomas de cansaço, irritabilidade, propensão a acidentes, sinais de depressão, sinais de ansiedade, uso abusivo de álcool, surgimento de doenças psicossomáticas;

despersonalização: corresponde ao desenvolvimento por parte do profissional, de atitudes negativas e insensíveis em relação às pessoas com as quais trabalha tratando-as como objetos;

diminuição da realização e produtividade profissional: geralmente conduz a uma avaliação negativa e baixa de si mesmo;

depressão: sensação de ausência de prazer de viver, de tristeza que afeta os pensamentos, sentimentos e o comportamento social. Estas podem ser breves, moderadas ou até graves.

Como a grande maioria dos casos de adoecimento psicológico com consequências de somatização, o tratamento da síndrome de burnout deve compreender uma estratégia multidisciplinar: farmacológico, psicoterapêutico e médico. É sempre importante ressaltar a relevância de um diagnóstico realizado de maneira adequada seja por um psicólogo, seja por um médico psiquiatra, para evitar que se cometam erros diagnósticos, como a confusão entre burnout e depressão, bastante comum nos estágios iniciais, pela similaridade de sintomas.

Com relação ao uso de medicamentos, o tratamento normalmente associa-se a antidepressivos e ansiolíticos. Esse tratamento deve estar vinculado ao acompanhamento psicológico que potencializa os efeitos do uso de medicamentos através da ressignificação e da retomada dos sentidos da história de vida do sujeito. Além desses, o acompanhamento médico e a alteração de hábitos são dimensões importantes. O encaminhamento para novas práticas cotidianas como exercícios físicos e de relaxamento podem ser importantes aliados no tratamento.

Síndrome de burnout pode ser confundida com estresse

Um dos grandes problemas que surge quando se fala da síndrome de burnout é que ela pode ser confundida com o estresse. Assim vale um breve esclarecimento mostrando as diferenças entre o burnout e o estresse.

Síndrome de burnout Estresse Burnout envolve atitudes e condutas negativas com relação aos usuários, clientes, organização e trabalho, é assim uma experiência subjetiva, envolvendo atitudes e sentimentos que vêm acarretar problemas de ordem prática e emocional ao trabalhador e à organização. Estresse envolve mais atitudes e condutas. É um esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho.

Estudo realizado por especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS), considerou o burnout como uma das principais doenças dos europeus e americanos, ao lado do diabetes e das doenças cardiovasculares. Já um levantamento alemão estimou-se que 4,2% de sua população de trabalhadores era acometida pela síndrome.

O impacto em relação ao declínio da integridade da saúde mental mundial está se intensificando. De acordo com as Nações Unidas, o mundo será mais velho, mais populoso e mais pobre aproximadamente em 2050. Como as condições ao seu redor criam tensão (estresse) e ansiedade, mais pessoas serão suscetíveis a transtornos mentais e segundo a OMS, "Nossa saúde mental tem um impacto opressivo em nossas habilidades para funcionar e participar na sociedade. Temos de começar a colocar mais de nossos recursos a favor da saúde mental".

Então fica ai a dica, para que não nos esqueçamos de que o trabalho é uma atividade que pode ocupar grande parte do tempo de cada indivíduo e do seu convívio em sociedade e que ele nem sempre possibilita realização profissional, pode, ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão.