Qual esporte é ideal para o meu filho? Ele deve competir?

por Renato Miranda

O esporte pode ser considerado um valioso instrumento para o desenvolvimento dos jovens. Como tantas coisas na vida o esporte por si só não tem o “poder” de promover benefícios, sejam psíquicos, físicos ou sociais. Tais benefícios serão possíveis se determinada prática esportiva for desenvolvida através de uma excelente qualidade profissional e pessoal daqueles que orientam e influenciam o jovem, especialmente pais e profissionais do esporte.

Continua após publicidade

Abordarei apenas dois pontos, mas que são suficientes para muitas discussões: O primeiro é a respeito dos fatores influenciadores para a escolha do esporte a ser praticado pela criança e o segundo diz respeito à competição infanto-juvenil (especialmente a partir dos 12 anos de idade).

Para os pais um dilema natural é saber qual esporte o (a) filho (a) deve praticar. Essa questão é sempre polêmica, mas não muito difícil de resolver quando pensamos com tranquilidade.

Escolha do esporte depende de cinco fatores

O primeiro fator é diagnosticar se o (a) jovem tem algum problema de saúde que o impeça de praticar esportes. Resolvido essa questão devemos considerar que os pais podem influenciar seu filho (a) a praticar um ou outro esporte. Afinal de contas não só o esporte, mas muitas coisas na vida são “apresentadas” às crianças e jovens pelos pais. O que deve ser feito a seguir é avaliar, depois de um período de prática (definido pelo profissional em conjunto com os pais), se o filho (a) está feliz com o esporte em questão, isso se estenderá até o período de treinamento e competições típicos da adolescência.

Continua após publicidade

O segundo fator é com relação às possibilidades sócio cultural do local onde se vive. É óbvio que é difícil escolher praticar saltos ornamentais em uma cidade que não há piscina para saltos e profissionais para ensinar e treinar tal modalidade.

O terceiro fator é a condição econômica e cultural dos pais, ou seja, há uma tendência em escolher um ou outro esporte que a família tenha acesso ou possibilidade financeira e que tenha ao menos um sentido cultural em suas vidas. Em outras palavras, é difícil pais incentivarem o filho ou filha a jogar handebol se eles mal sabem o que seja, ou então praticar automobilismo, (por exemplo, Kart) se não há nenhuma possibilidade financeira.

O quarto fator esta relacionada à escolha pelo filho depois de algumas vivências novas e/ou inimagináveis, nesse caso a estrutura da escola, de clubes, da mídia e do poder público é que vão propiciar essa determinada possibilidade. Neste caso, os pais devem estar abertos, apoiarem os filhos e se envolverem com aquilo que será novo para eles.

Continua após publicidade

O quinto fator está relacionado à tendência da coerência entre a estrutura psicofísica da criança ou jovem e o esporte a ser praticado, em outras palavras a coerência da altura, velocidade, comportamento emocional, cognição e outros com as características específicas de um determinado esporte. É por isso que meninos muito grandes por volta dos 12 anos procuram praticar esportes como o vôlei e o basquete. Em resumo, a partir do início da prática esportiva e das competições o que mais importa é se a criança e posteriormente o jovem está feliz e se sua saúde psicofísica está assegurada.

Brincar ou competir?

Outro dilema que muitos adultos enfrentam é sobre as questões relativas à competição e à ludicidade. Muitos enxergam esses dois fenômenos conflitantes, embora não sejam. Explico: Não existe garantia que uma atividade seja lúdica ou não. A ludicidade de uma atividade depende da avaliação subjetiva daquele que a vivencia.

Aquilo que é lúdico para alguns pode ser visto por outras pessoas como algo aborrecedor e vice-versa.

Então, o que é lúdico? Tudo é lúdico quando atende os requisitos da espontaneidade (autoexpressão), funcionalidade (eficácia) e da satisfação (alegria, bem-estar). Quando uma atividade atende tais quesitos, aí sim ela pode ser considerada uma atividade lúdica. Nesse sentido até mesmo o trabalho pode ser lúdico. Acontece que existem atividades que carregam consigo uma tendência natural para o lúdico muito grande, como a música, as artes e o esporte. Assim como todas essas atividades, portanto, a competição poderá ser lúdica ou não.

Quando a experiência competitiva gera excessiva ansiedade, saturação psicofísica, restrição ao lazer e ao convívio familiar, pressão exacerbada dos adultos e outras, o esporte competitivo se tornará um empecilho ao bem-estar do jovem. No entanto, quando a competição é encarada como divertimento, providencia o hábito de competir positivamente, proporciona participação efetiva, incentiva à autorrealização e a auto-superação do jovem, a experiência lúdica estará presente e o bem-estar do jovem providenciado.

A influência do esporte na vida dos jovens (notadamente entre 12 e 18 anos) poderá ser positiva para tanto, algumas qualidades devem ser promovidas pelo processo aprendizado-treinamento e competições: desenvolvimento de habilidades psicofísicas gerais, experiências de diferentes emoções, melhor auto-estima, melhoria dos níveis de aptidão física, socialização e coragem diante desafios. Ao adquirir consciência dessas possibilidades, pais e profissionais envolvidos no processo competitivo infanto-juvenil terão como objetivo básico o bem-estar e o desenvolvimento pessoal do jovem atleta. O desenvolvimento pessoal e as vitórias serão particularidades advindas de uma experiência prazerosa e duradoura.

Competição, diversão e espetáculo

Vários pais de atletas quando me procuram para algum tipo de consultoria, e a princípio, escutam coisas relativas ao que está exposto acima, ficam desconfiados por acreditarem que o esporte competitivo se resume em perder ou ganhar, vivenciar frustração ou glória. Mas na verdade, esse impulso emocional de desconfiança é resultado de uma ansiedade causada pela expectativa de sucesso do filho e, por conseguinte da família. Nesse instante, proponho a eles (os pais) que reflitam sobre a finalidade do esporte competitivo em qualquer nível (da iniciação ao alto nível!) e favoreço a conclusão que o valor do esporte competitivo está no divertimento. Ou seja, a competição existe para preencher uma lacuna de lazer para todas as pessoas (público em geral), para fazer bem às suas almas e tornar o mundo um pouco mais alegre, assim como as artes plásticas, a fotografia, o cinema, o teatro e a música.

Nesse contexto, profissionais, atletas e outras pessoas envolvidas na “produção” desse espetáculo – competição – precisam de muito esforço e dedicação e fazem disso o seu “ganha-pão”. Mas observem mesmo os grandes campeões que vivem do esporte, acabam por se divertir e muito.

É o caso de atletas que arriscam suas vidas nas pistas de automobilismo pelo mundo afora e, no entanto não param de competir, mesmo sendo ricos e sem necessidade da competição para viverem.

Com isso, tento convencer as pessoas envolvidas no esporte infanto-juvenil, que o sucesso no esporte é uma possibilidade que repercute não apenas a vitória em si ou a expectativa de se tornar um atleta profissional, mas é sucesso também utilizar o esporte para a formação de um adulto saudável, otimista, ético, sociável e modelo de cidadão. O que os jovens necessitam é de uma orientação de qualidade a respeito do treinamento e da competição. Competição não é problema, o problema é como os adultos à “apresentam” aos jovens.

Atitudes positivas dos pais

Além disso, proponho aos pais que exercitem influências positivas para com os filhos que estão em prática esportiva através de suas atitudes, aliás, mais valiosas do que as palavras. E no rol dessas atitudes positivas destaco:

a) Motivação em fornecer oportunidades e condições para a prática esportiva;
b) Mostrar que acredita nos valores positivos do esporte;
c) Ser ativo frente ao esporte atual (procurar ter conhecimento, frequentar, ser expectador e outros);
d) Reconhecer algum tipo de experiência positiva esportiva em suas vidas que lhes ajudou de alguma forma (saúde, auto-estima, por exemplo);
e) Participar, em algum momento, de atividades esportivas junto com o (s) filho(s).

Por outro lado, profissionais que trabalham com jovens no esporte competitivo precisam exercitar as funções de serem criativos, otimistas, conhecer bem o esporte, transmitir valores educativos e morais, mostrar que a competição é apenas mais uma etapa na vida, valorizar o jovem e ser um líder de alta qualidade profissional e pessoal.

Para finalizar, gostaria de dizer que o esporte competitivo pode proporcionar valores positivos ou negativos aos jovens. Honestidade, confiança, espiritualidade, humildade, esperança, liberdade, desonestidade, insensibilidade, vaidade, desrespeito, individualismo e opressão. Todos esses valores estão lado a lado no esporte, cabe aos adultos mostrarem e exemplificarem aos jovens qual a melhor escolha.