A cada década, mudamos a forma de ver a vida

por Antônio Carlos Amador

Vamos imaginar uma linha da vida, na qual podemos ver nossas experiências passando. O que nos faz querer empreender essa jornada? Podemos ser abastecidos por um desejo interior de alcançar um objetivo na vida ou por uma promessa de tudo que desejamos.

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É fascinante como ao longo do ciclo vital, cada um de nós parece desenvolver uma espécie de senso da própria idade em relação aos demais.

Quando crianças percebemos os adultos como gigantes poderosos e logo cedo descobrimos como agradá-los, incorporando suas regras de conduta e seus valores. Aprendemos "quem somos" ouvindo pessoas importantes em nossa infância dizerem aquilo que elas pensam e falam de nós. Isso tem uma influência muito forte em nossas vidas.

Na adolescência, uma fase que pode parecer caótica e anárquica, começamos a aprender sobre nós mesmos e com o que realmente queremos nos identificar. Sentimos que estamos num limiar, somos mais independentes dos adultos, mas muito vulneráveis às opiniões de nossos colegas, como se o mundo inteiro estivesse nos espiando. A experimentação passa a ser a nossa prática mais corriqueira.

Depois dos 20 anos buscamos relacionamentos genuinamente íntimos, lutamos para nos estabelecer e viver por conta própria. Podemos experimentar uma sensação agradável de independência, de estar no apogeu físico e mental e, ao mesmo tempo, verificar que nem sempre é fácil superar os obstáculos. Ocupamos um espaço no mundo, mas somos simultaneamente mestres e aprendizes.

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Dos 30 aos 40 anos passamos a querer o reconhecimento dos outros por nossas contribuições e realizações. Sentimos que o modo de obter mais da vida não é pela acumulação, mas pela participação. Cresce um sentimento de que é mais importante o que somos e não o que temos. Estamos menos dispostos a posicionarmo-nos como aprendizes e nos esforçamos para corresponder aos nossos papéis de profissional, sócio, amante, parceiro ou pai. Podemos olhar para trás, avaliando nossa experiência, ao mesmo tempo em que nos projetamos para o futuro.

Entre os 40 e os 50 anos começamos a nos dar conta de que já vivemos aproximadamente metade da nossa vida e de que podemos olhar igualmente para trás e para frente, nos questionando se estivemos construindo coisas realmente valiosas, se era esse o caminho. Também tomamos consciência de que uma geração mais nova avança na vida e tomará nossos lugares.

A partir de então, à medida que os anos passam, começamos a reconhecer o envelhecimento físico, quando nossas energias começam a declinar. Essa deterioração é a base da meia-idade; o tempo está passando e não podemos deixar de reconhecer a inevitabilidade da morte. Tal reconhecimento é útil e pode nos ajudar a reavaliar nossa vida e valorizar o presente.

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