Estou grávida de um usuário de crack. Isto afetará o bebê?

por Danilo Baltieri

"Estou grávida de um mês, infelizmente o pai da criança é usuário de crack."

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Resposta: Tem havido muitas pesquisas avaliando os efeitos indesejáveis e altamente nocivos ao feto do consumo de nicotina, álcool, maconha, cocaína/crack, heroína e outros opióides (dentre outras substâncias) pela mãe durante a gravidez.

Carência de estudos

No entanto, menos estudos têm dedicado esforços na avaliação dos efeitos nocivos sobre o feto do consumo dessas substâncias apenas pelo pai. Mesmo porque, em muitos casos estudados, os dois genitores fazem uso de substâncias ao mesmo tempo.

Evidências

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Embora pesquisas sobre o relacionamento entre o uso dessas substâncias pelo pai e os efeitos sobre a cognição, comportamento e saúde física do bebê têm sido limitadas, algumas evidências científicas sugerem que o consumo de drogas pelo genitor pode influenciar negativamente o feto.

Por mecanismos ainda não plenamente esclarecidos, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pelo pai afeta negativamente o feto tanto em termos comportamentais quanto cognitivos, mesmo quando a mãe não consome bebidas alcoólicas. Prejuízos de memória, linguagem, desempenho acadêmico e atenção têm sido observados entre filhos de pai alcoolista.

De fato, é realmente muito difícil formular uma explicação para esta situação. Alguns autores têm apontado que os filhos de pai usuário de álcool e/ou outras substâncias, durante a gestação, sofrem várias influências ambientais e sociais negativas (estresse da mãe, exposição da mãe às drogas e inadequado suporte do pai durante a gestação). Realmente, o fato do genitor fazer uso de cocaína/crack frequentemente está associado com maior desgaste físico e psicológico da mãe, maior chance de comportamentos agressivos pelo pai, maior risco de complicações legais pelo usuário e várias dificuldades relacionais entre o pai e a mãe. Tudo isso, seguramente, afeta o período da gestação.

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Por outro lado, alguns autores aventam que filhos de pai com dependência química apresentam maior chance de desenvolver quadro clínico de dependência química no futuro e, muitas vezes, alterações comportamentais e cognitivas discretas podem ser vislumbradas na infância.

Outros estudos têm verificado que pais usuários crônicos de cocaína podem apresentar alguns defeitos nos espermatozóides, como redução da mobilidade, diminuição da produção e maior risco de anormalidades morfológicas. Alguns estudos experimentais, realizado em ratos, têm mostrado que ratos (machos) que fizeram uso de cocaína cronicamente podem gerar uma prole com baixo peso e tamanho, além de aumentar o risco de morte neonatal. Mas, repetindo, esse estudo foi experimental.

Trata-se de assunto bastante vasto, onde inúmeras variáveis podem interagir em um resultado bastante insatisfatório. De qualquer forma, a sua preocupação é bastante pertinente e você deve sempre fazer seu acompanhamento pré-natal de forma adequada. O pai da criança deve imediatamente procurar ajuda médica e psicológica para cessar o consumo dessa substância. Isso, seguramente, amenizará quaisquer prejuízos futuros para o seu filho.

Abaixo, forneço interessante recomendação de leitura sobre este assunto.

Frank, D. A., Brown, J., Johnson, S., & Cabral, H. (2002). Forgotten fathers: an exploratory study of mothers' report of drug and alcohol problems among fathers of urban newborns. Neurotoxicol Teratol, 24(3), 339-47.