Caberia ao marido, noivo ou namorado desempenhar papel de melhor amigo?

por Anette Lewin

Resposta: As relações de amizade se caracterizam, ou deveriam se caracterizar, pela transparência, abertura, cumplicidade, confiança etc. As relações amorosas englobam tudo isso, mais sexo e mais o "jogo do amor". Talvez, então, os únicos diferenciais entre a amizade e amor sejam sexo e jogo. Sexo já é permitido nas amizades coloridas. Sobra então o jogo.

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E qualquer jogo envolve um lado escondido, uma carta virada, um elemento-surpresa. Assim, tirar da relação amorosa esse lado misterioso, trocando-o pela explicitude da amizade pode ser tirar da relação a sua essência levando-a ao fim.

Certamente nem todas as relações amorosas possuem em sua fórmula os mesmos ingredientes nas mesmas proporções. Algumas são mais parecidas com uma amizade, outras com um campo de batalha e outras lembram bastante um jogo de detetive onde os parceiros devem descobrir o que vai na cabeça do outro. Mas o estilo da relação, certamente, não é suficiente para caracterizá-la como bem ou malsucedida. O que vale é a harmonia entre os parceiros e a batalha pelo equilíbrio da relação. Fórmulas prontas e universais, a meu ver, são tentativas de convencer as pessoas a seguir cartilhas ao invés de procurarem suas próprias verdades. Ideias podem funcionar como pontos de partida para reflexão, não como um molde em que casais devem se encaixar.

Administrar amizades e amores certamente é muito diferente. Podemos ter um milhão de amigos mas poucos parceiros amorosos. O amor dá trabalho justamente porque envolve um jogo de poder alternado onde quem não administra direito, levando em conta suas necessidades pessoais e a do parceiro, acaba perdendo. E certamente nenhum casal fala explicitamente ao outro quais são suas necessidades. Primeiro porque nem sempre sabe; segundo porque quer ser olhado e compreendido pelo parceiro sem palavras; terceiro porque só suprir desejos do outro não é suficiente para resolver a questão amorosa.

Certamente o casal que conseguiu passar um bom tempo junto, e quer continuar sua jornada a dois, acaba desenvolvendo algo que lembra muito mais uma boa amizade do que os arroubos da paixão. Mas certamente existe nesse casal um profundo respeito pelo outro que faz com que exista a vontade de entender seu (sua)parceiro(a) cada vez mais a fundo. Afinal, mesmo depois de um longo convívio, o outro tem seus mistérios, suas meias-verdades e suas particularidades. Decifrá-lo com um real interesse, cuidado e sensibilidade faz parte do jogo. Quem não achar a descoberta do outro um jogo interessante que opte por ter um milhão de amigos. Dá menos trabalho.

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