Meditar não é parar a mente, mas sim ter atenção plena

por Stephen Little

Alguns anos atrás eu li o seguinte verso: “Se você quer saber o significado da vida, pare de correr atrás de tantas coisas”.

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Sou da Irlanda, mas moro em São Paulo agora. Eu estou aqui faz oito anos. Dezenove anos atrás encontrei o Budismo e a meditação budista em Dublin, cidade onde nasci. Desde aquela época, tenho morado em várias comunidades e lugares. Eu trabalhei em várias situações, praticando a vida de um budista ocidental ordenado.

Mesmo morando numa cultura diferente aqui no Brasil, nada mudou. Os mesmos princípios guiam a minha vida. E essas palavras, escritas no século 18 por um poeta japonês, Ryokan, ainda falam diretamente para mim. Parece que mesmo na época de Ryokan – quando as coisas eram mais “simples” – as pessoas viviam a vida delas no piloto automático, como nós fazemos hoje. Talvez, a única diferença hoje em dia é que nós temos uma lista mais comprida de coisas possíveis para encher as nossas vidas: um novo carro, o shopping mais atual, a dieta do mês, a próxima experiência sexual, cursos de desenvolvimento, uma outra religião oriental.

A instrução de Ryokan é simples. Em vez de usar ameaças de pecado ou de punição, apenas fale “Pare”.

Todo o meu trabalho com meditação é sobre parar. É sobre viver o momento presente. É sobre respirar. Porém, para a maioria das pessoas (e estou me incluindo), parar não é fácil. É como se o momento presente, mesmo as sensações de nossa respiração, fossem um país exótico, longe daqui, sobre o qual nós escutamos de vez em quando.

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Muitas pessoas querem ir lá e, intuitivamente, sabem que a meditação é uma das melhores maneiras de chegar lá.

Nós procuramos um professor de meditação ou um livro achando que meditação é sobre desligar a mente, ou esvaziar a mente, ou controlar a mente. Porém, mesmo que muitos livros e professores expliquem a meditação assim, a minha experiência direta de meditação eficaz, e de viver plenamente no momento, é completamente diferente. Falar “Pare!”, também, não ajuda muito – especialmente se você não sabe COMO, e se você já tem uma mente cheia de expectativas.

Bom. Tudo isso faz parte do processo. É normal. No meu caso, aprendi a meditação com alguns dos melhores professores de meditação na Europa. Mesmo assim, eu ainda estou aprendendo.

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Atenção plena

Neste artigo curto, não vou conseguir passar a minha experiência disso para você. Você precisa ter contato pessoal com alguém que saiba o princípio básico. Você precisa passar algum tempo, num curso ou retiro talvez, com alguém que possa apresentá-lo à sua própria respiração, e ao princípio e espírito da meditação. Chamamos esse princípio de Atenção plena. É a prática de prestar atenção, intencionalmente, sem julgar, no momento presente.

Esta é a definição de Jon Kabat Zinn, o famoso instrutor de Massachusets, EUA. Talvez aqui eu possa dar um vislumbre desse princípio e prática para você.

Quando você medita, você não precisa fazer nada, nem ir para nenhum lugar. Realmente, você apenas senta. É um pouco como sentar numa cadeira à noite em sua casa. É calmo. Ninguém está perto. Você acabou de jantar e não tem nada para fazer. Você está simplesmente sentado, digerindo a sua comida. E daí, aos poucos, algo começa sair do espaço atrás das pinturas e quadros nas paredes: as lagartixas. Elas aparecem e começam viagens estranhas através da sala. Talvez você não goste das lagartixas, mas quando você percebe o lado engraçado do comportamento delas, quando você observa os pequenos hábitos loucos delas sem querer aniquilá-las com o seu sapato (ou outro objeto), é uma coisa engraçada. Especialmente se você tem uma atitude curiosa. E é isto que a gente faz na meditação.

Nós apenas ficamos parados, com a atitude de olhar curiosamente, profundamente – investigando os movimentos da nossa mente, sem tentar manipulá-la ou mudá-la. Tente deixar a mente parada. Tente impedir os pensamentos. É como segurar a sua respiração por mais tempo do que o possível. Não dá. Tente e veja.

Porém, quando você senta sem expectativas, apenas estando presente com a sua experiência, apenas olhando o que o momento presente traz, a experiência é totalmente diferente. Você não precisa forçar nada. Apenas esteja aqui e agora. Tente, e veja se é verdade… veja por si mesmo. Experimente o contraste entre o modo de fazer e o modo de ser. E, enquanto você está sentado aqui, em vez de lutar contra a sua mente, aprecie-a. Respire gentilmente e naturalmente com ela.

Se você quiser saber o significado da vida, você precisa parar fisicamente. Você precisa estar presente, sem julgar – observando o fato que é a sua mente que está dirigindo toda essa corrida maluca que chamamos a nossa vida. E, se você aprender a sentar aí quieto, a não lutar contra ela, pouco e pouco a mente vai se acalmar.