Como as emoções influenciam a memória

por Elisandra Vilella G. Sé

Fatores chamados de não cognitivos influenciam no desempenho de memória de maneira significativa. Os estados afetivos, o humor ou emoção alteram o processamento das informações. Ou seja, nossos sistemas de memória podem estar funcionando adequadamente, mas se estivermos em estado de tensão, estresse, depressão ou ansiedade teremos dificuldades na recepção e registro de informação.

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Do ponto de vista biológico, durante o momento de estresse, liberam-se grandes quantidades de corticóides (substância química que nosso corpo produz) pela glândula supra-renal que inibem todos os processos de produção e evocação de todo tipo de memória, o que causa o famoso "branco".

A atenção e a concentração são outros fatores que se não estiverem bem alertas prejudicam o desempenho de memória. Na dificuldade de atenção a pessoa não consegue focalizar num ponto sua atenção, impedindo a recepção da informação. Tal fato é comum quando estamos lendo um livro e pensando no almoço, na namorada, no filme de ontem, etc… Essa pode ser uma dificuldade passageira de atenção, mas que influência a memória.

A memória é fortemente influenciada por fatores afetivos e psicológicos, isso acontece por um mecanismo de autodefesa do ego, uma forma de proteger a pessoa das emoções prejudiciais. Porém, em casos de transtornos de afetos, um tratamento com profissionais especializados, psiquiatras e psicólogos torna-se fundamental. A meditação também tem se mostrado muito importante para o equilíbrio e estabilidade mental.

Crenças negativas e baixa autoestima também alteram o funcionamento da memória. Muitas pessoas se titulam como esquecidas ou com uma memória ruim. A crença negativa sobre sua capacidade impede você de alcançar ou realizar o que realmente gostaria de realizar.

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As crenças sobre os desempenhos de memória são importantes para saber o quanto as pessoas percebem suas potencialidades e limitações, ou seja, é o quão você acredita que sua memória é boa ou não. As crenças têm um papel adaptativo. Elas contribuem para que o indivíduo forme opiniões sobre si mesmo, sobre outrem, definições, percepções sobre suas capacidades e como devem se posicionar frente às atividades do dia-a-dia.

Autoeficácia

A crença da própria capacidade é definida como senso de auto-eficácia que significa saber o quanto você é capaz em suas habilidades. É uma espécie de autoestima da cognição. A autoeficácia ajuda a organizar e executar as ações necessárias para se obter os resultado que deseja. A eficiência da memória é influenciada pelo senso de autoeficácia. Ela ajuda a perceber o quanto mudou sua habilidade de memória. Em determinadas situações a pessoa fará julgamentos de sua capacidade baseados em sua crença de auto-eficácia para a memória. Por exemplo, em tarefas que exigem esforço e perspicácia, o indivíduo que apresenta maior autoeficácia poderá ter bons desempenhos, porque apresentou maior esforço e persistência. Por outro lado, se ele tem baixa autoeficácia pode apresentar fraco desempenho. Isto é, o baixo senso de autoeficácia pode levar a piores resultados. Pessoas com baixa autoeficácia para a memória percebem-se menos capazes para memorizar algo ou lembrar.

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O julgamento de competência de pessoas idosas está muito relacionada com os mitos que ainda estão presentes no senso comum. Na nossa sociedade ainda vigora o pensamento do declínio da memória entre outras funções cognitivas associado ao avanço da idade e a aceitação desse mito pode interferir no senso de auto-eficácia dos idosos. As crenças de autoeficácia são influenciadas pelas percepções pessoais e pela vida social.

A autoeficácia é uma função mental e faz parte do nosso sistema de crenças pessoais que se relaciona com fatores psicossociais e ao funcionamento da saúde física. O funcionamento físico é importante para o desempenho de algumas tarefas e sabemos que a capacidade física dos idosos muda com o processo de envelhecimento.

Porém, pessoas motivadas e com reservas fisiológicas são altamente capazes de apresentar bons desempenhos em suas atividades. Existem pessoas que desenvolveram na infância habilidades e estratégias que facilitam a boa memorização, mas qualquer pessoa pode conhecer essas estratégias e praticá-las.

As experiências acumuladas ao longo da vida também podem influenciar nos desempenhos de memória. O conhecimento que a pessoa tem de sua memória, de suas condições, a utilização dela, as emoções relacionadas com situações *mnêmicas e a confiança em sua memória aumenta a eficiência da memória.

Outro fator que também faz parte do nosso sistema de crenças é a crença de controle pessoal ou senso de controle, trata-se de outro mecanismo de auto-regulação que também é importante para os desempenhos de memória. O senso de controle ou controle percebido significa atribuir a causa de um determinado comportamento a um controle interno ou externo. Quando a pessoa percebe que a consequência de seu comportamento dependeu somente dela, o controle é interno e quando ela atribui as consequências a algo fora dela, que ela não teve o controle chama-se de controle externo.

A pouca percepção do seu controle interno sobre suas capacidades e baixo nível de autoeficácia podem levar as pessoas ao estado de ansiedade e tensão, o que resulta em fracos desempenhos.

O convívio social, as regras do grupo, circunstâncias históricas e sociais têm influência direta sobre a construção e a manutenção das nossas crenças. As crenças que temos sobre nossas capacidades servem para entender melhor nossos desempenhos em diversas tarefas do dia-a-dia, em especial a memória. Crenças positivas sobre suas capacidades são fundamentais para o desempenho bem-sucedido em uma atividade.

Fatores como motivação, humor, estados afetivos, níveis sociais, educação, condições de saúde física, relações familiares e com amigos, atividade física e suporte afetivo são fundamentais para o senso de autoeficácia e bem-estar que conduz aos bons desempenhos melhorando a qualidade de vida dos idosos.

Algumas teorias psicológicas consideram o esquecimento um mecanismo de defesa do ego, como se atuasse como um protetor para situações e emoções difíceis de serem sentidas por uma pessoa. Desta forma, um agente psíquico seleciona o que deve permanecer armazenado ou não.

Outro fator psicológico importante para o bom funcionamento da memória é a motivação. Sem motivação a comunicação entre os neurônios não tem vida própria. Tem que existir um motivo para o indivíduo ficar atento e receber determinada informação. Todo aprendizado e toda atividade devem ter um propósito. As atividades que são orientadas à meta, realizamos com mais entusiasmo e motivação. Como podemos constatar a memória é fortemente influenciada por fatores afetivos e psicológicos.

*mnêmicas: Segundo a literatura sobre a Epistemologia da memória, a palavra mnemônica vem do grego “mnese” que significa memorizar e capacidade de lembrar. Portanto técnicas mnmônicas ou mnemotécnicas significa sistema de educação da memória. São técnicas ou estratégias para melhorar a retenção da informação.

Fonte: Gleitman, H. (1999). Psicologia (4ª ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Goof, L. J. (1990) História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp.