O que é um ‘Mestre’?

por Carminha Levy

O quarto arquétipo do escudo do Caminho Quádruplo é o Mestre. O Mestre cultiva o doce território do silêncio. Este arquétipo pede que sejamos abertos aos resultados, mas que não nos prendamos a eles. Quando o xamã expressa o Mestre, desenvolve a capacidade de desapego, honra a sua herança e demonstra a sabedoria com seus componentes de clareza, objetividade e discernimento. A fonte de onde brota a sabedoria é a confiança. O Mestre nunca se abala pela incerteza e sente-se à vontade diante de situações desconhecidas e inesperadas.

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A figura mítica que personifica o inesperado é o Trapaceiro, que, como arquétipo, movimenta-se aos trancos e barrancos no ordenado mundo da realidade comum, trazendo boa e má sorte, lucros e perdas. Estas funções são trazidas por Hermes (O Trapaceiro), o patrono das viagens e dos ladrões. Ele é o senhor dos limites e transições e é por meio desse domínio que ele surpreende a realidade mundana com o inesperado e o milagroso.
O oposto do inesperado é tentar domar o incontrolável, pelo controle que é feito de perspectivas fixas e apegos.

O xamã Mestre pratica o desapego que, numa análise superficial, significa deixar seguir o rumo dos acontecimentos com senso de humor. Se analisarmos a perda do humor em determinadas situações, poderemos identificar os nossos apegos e não nos deixar levar por nossas emoções. Para praticar o desapego, o xamâ Mestre ensina quatro leis imutáveis:

1) quem quer que esteja presente é a pessoa certa;
2) seja quando comece, é o tempo certo;
3) o que quer que aconteça é a única coisa que poderia ter acontecido
4) quando acaba, acaba.

Outro importante ensinamento sobre o desapego vem através das perdas que podem ser de uma dessas seis categorias:

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1) perda de laços;
2) perda de rumo;
3) perda de estrutura;
4) perda de um futuro;
5) perda de significado
6) perda de controle.

Todas as perdas podem ser curadas com o bálsamo dos rituais. O ritual é o ato consciente de reconhecimento de uma mudança de vida que serve para honrar e sustentar; é uma forma de suportar os sofrimentos da perda através da ligação com o sagrado e com a ajuda da comunidade.

Quando o xamã Mestre permite que a sabedoria, no seu aspecto de aceitação de qualidades super ou pouco desenvolvidas, manifeste-se como um testemunho imparcial, ele alcança a sua Fonte. E sua sombra, como impedimento a esta Fonte, manifesta-se com atitudes repletas de justificativas de posicionamento, julgamentos e controle. Esses padrões baseiam-se no medo e revelam falta de confiança.

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O medo e a ignorância são fonte de confusão, o oposto da clareza. Quando estamos confusos, é melhor esperar do que agir; melhor procurar os pontos claros da situação e atuar somente nessas áreas. Saímos da sombra através do discernimento que nos leva sempre a considerar o contexto, tempo e conteúdo apropriados.

A grande ferramenta de poder do Mestre é o silêncio e é lá que sua orientação interna e experiências transpessoais vêm à tona. Assim, ele pode transformar-se numa grande árvore que se enraíza (quietude), que cresce ao lado de um rio (fluidez).

Prática

Chegamos ao fim do Caminho Quádruplo e podemos agora fazer o nosso escudo xamânico. Reúna todo o material dos quatro arquétipos e faça seu escudo pessoal definitivo. Você poderá usar couro, cartolina, madeira fina ou simplesmente um bastidor contendo um pano bem esticado. Divida o escudo em quatro pedaços iguais e determine um local para cada arquétipo xamânico. Ao fazê-lo, você irá impregnando cada parte com o seu axé pessoal e identificando-se com um deles, que será o seu xamã principal. Esta é uma bela manifestação dos seus recursos interiores e torna-se um grande objeto de poder e um mapa de sua personalidade. Aproveite estes ensinamentos milenares e torne-se cada vez mais consciente do seu papel na cura da Mãe Terra.