Faço tudo pelos meus enteados, mas eles não me aceitam. O que fazer?

por Silvia Maria de Carvalho

"Tenho dois enteados, faço tudo por eles e mesmo assim eles não me aceitam. Isto é natural? Como reverter esta situação?"

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Resposta: O casamento, por si só, pede mais que amor para durar. É preciso uma boa dose de elasticidade ou flexibilidade – como quiser chamar – para semear a planta que agora nasce: não é mais só você, nem só seu marido: é a relação de vocês.

O que diremos então dos recasamentos?

Confusos pelo sofrimento do divórcio, os que avançam na direção de novos relacionamentos esperam encontrar felicidade na segunda vez. Mas quando se trata de misturar os filhos de casamentos anteriores, a segunda vez é a primeira.

Os participantes dessa história não tiveram tempo para garantir um vínculo coeso no casamento. Os filhos já estão aí. É preciso trabalhar todas as questões ao mesmo tempo.

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A formação de uma família por recasamento não é verdadeiramente uma mistura de famílias. Embora seja bom querer ser "uma grande família feliz", a maioria das famílias realmente felizes é constituída de muitas partes, subgrupos distintos que precisam de tempo para partilhar confidências, brigar e compor, resolver problemas, trabalhar em projetos e funcionar juntos.

Há indivíduos com suas identidades e fronteiras a serem respeitadas. É preciso cuidado e tato.

Ansiedade é um grande erro

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Essa é a primeira grande dica que tenho pra te dar: entender o funcionamento e considerar a história existente antes de vocês, às vezes não é suficiente. É preciso aguentar, esperar sua vez e respeitar as lealdades anteriores entre pais e filhos. Na ânsia de acertar e conseguir afeto muitas famílias recasadas cometem um grande erro ao não fazer isso.

Outro ponto importante é não fazer de tudo para ser aceita rapidamente. Nada acontece de forma brusca. Os filhos do divórcio têm pensamentos realmente assustadores. Eles viram seus pais deixar de amar um ao outro. A possibilidade de abandono os aterroriza. A competição com a nova família é bastante séria.

O papel da madrasta não é simples pela visão dos filhos do marido num primeiro momento. Quando esse homem decide se casar, a mulher que está entrando em sua vida vai trazer novos hábitos, crenças e pessoas. Não existe família instantânea. Isso implica tempo de convivência. O vínculo entre madrasta e enteados é resultado de uma construção lenta e delicada. É um vínculo difícil de ser construído porque a relação é sobrecarregada por muitos tabus.

Em contrapartida, as famílias por recasamento são muito mais ricas em possibilidades – de competição, conflito, ciúme, ressentimento e amor renascido. As rivalidades familiares que surgem entre padrastos e enteados e entre irmãos e irmãs de um novo casamento, são apenas um lado do que pode ser uma série de novos relacionamentos mutuamente satisfatórios.

As famílias são mais frutíferas do que imaginamos e em nenhum lugar isso é mais verdadeiro do que nas famílias de recasamento.

Paciência e persistência! Sempre lembrando que seu amor próprio deve ser preservado desde o início, isso vai te ajudar a seguir!

No fim das contas, o que todos querem é garantia de amor.

Quatro dicas para superar a dificuldade de relacionamento com enteados:

1ª) Só entender o funcionamento e considerar a história existente antes de vocês, às vezes não é suficiente. É preciso aguentar, esperar sua vez e respeitar as lealdades anteriores;

2ª) Não faça de tudo para ser aceita rapidamente;

3ª) Seja paciente e persistente: o vínculo entre madrasta e enteados é resultado de uma construção lenta e delicada;

4ª) Seu amor próprio deve ser preservado desde o início; isso vai te ajudar a seguir em frente.

Referências:
A Cura da Família – Histórias de Esperança e Renovação contadas pela terapia familiar. Minunchin, Salvador. Artes Médicas. 1995
Os Meus, os Teus, os Nossos. Gladis Brun. Larousse. 2010