Desejos da mulher são simples

Dia Internacional da Mulher: mesmo com muitas conquistas e o empoderamento feminino, uma parcela das mulheres se sente infeliz; entenda

Estamos aí em mais um Dia Internacional da Mulher e, muito infelizmente, no momento mais letal da pandemia ultrapassando os 260 mil mortos no Brasil. Enfim, uma data que reservamos para comemorações, festas… Mas este ano ficará restrita às homenagens e aos braços de Deus a dar força para cada mulher que perdeu um ente querido neste triste e trágico momento.

De qualquer modo, me proponho aqui, como psicóloga, a falar um pouquinho sobre nós. Mas será então que, mesmo obtendo grandes conquistas, estas representam, de fato, o que se passa dentro de cada mulher?

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Infelizmente, ainda há a crença em muitas, que beleza é fundamental, como dizia o poeta Vinícius de Moraes, e fazem de tudo para conquistar seja um trabalho, promoção, ou um relacionamento afetivo, com o corpo e a sedução. Mas felizmente também há muitas mulheres que sabem reconhecer seu valor e sabem que a beleza externa passa com o tempo e o que conta mesmo, é o que há dentro de cada uma, coisas simples como: força, coragem, garra, luta, e principalmente, a sensibilidade e a capacidade de doar amor.

Um corpo bonito pode conquistar um trabalho ou alguém, mas não basta para manter absolutamente nada, a não ser relações superficiais e por um tempo muito curto.

Por que uma parcela das mulheres se sente infeliz  

Atendo remotamente mulheres bonitas, inteligentes, realizadas profissionalmente, mas no íntimo, infelizes, insatisfeitas, doentes. Questiono o porquê de tantos desencontros, tristezas e lágrimas. E percebo que as emoções sempre são a origem dos conflitos, brigas, infelicidade…

É mais do que certo que realização profissional e conquistas materiais não são suficientes para fazer alguém feliz. A emoção sobrepõe-se a todas as outras conquistas. Ainda buscamos uma relação saudável, um companheiro para dividir cada momento da vida, alguém para trocar acima de tudo, amor.

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Os homens, ainda hoje, contaminados por uma masculinidade tóxica, não se permitem chorar, não demonstram, negam cada vez mais o que sentem e, com medo inconsciente é claro, fogem. Eles fogem da entrega, do amor. E com isso homens e mulheres perdem. Assim ambos perdem a oportunidade de crescerem, e mais ainda, de serem amados.

Algumas mulheres podem dizer que isso não acontece com elas, são realizadas, tiveram filhos, um bom emprego, ou negócio próprio… Mas será que são felizes em sua relação afetiva? São correspondidas em seu amor? Devemos lembrar, que muitas vezes a imagem de alguém independente, livre, pode ser apenas superficial para proteger um lado emocional fragilizado e machucado.

Quantas mulheres desejam a separação, mas não têm coragem de seguir em frente?

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Quantas são as que amam e não se sentem amadas?

Muitas se sentem sozinhas mesmo acompanhadas.

Quantas estão sós e buscam alguém que as amem?

Ou ainda, mulheres donas de casa, que abriram mão de sua própria vida para cuidar da casa, dos filhos, dos pais, marido e não são sequer reconhecidas? Parece que somos capazes de cuidar de tudo, mas nesse tudo, parece que esquecemos, muitas vezes, de cuidar de nós mesmas. Por que fugir do desafio de cuidar de si mesma?

Na verdade, o que explica muitos dos conflitos, e que reflete diretamente nos relacionamentos, é a busca de simplesmente querer ser cuidada, protegida, ainda que inconscientemente. Alguém pode dizer: “eu não!” Você sim.

Qual o erro em querer um relacionamento baseado no companheirismo, amizade, cumplicidade, troca e acima de tudo, baseado no amor? Qual o erro em querer alguém que se preocupe com você tanto quanto você se preocupa? Que lhe dê atenção, carinho, afeto? Quem não gosta de poder contar com um abraço, um colo, depois de um dia difícil? Não há mal nenhum nisso, seja homem ou mulher.

É preciso acompanhar os sentimentos pela ação 

O que precisamos é sermos coerentes com aquilo que sentimos e demonstramos. Do contrário, viveremos em conflito, não só com o outro, mas com nós mesmas.

O que leva à verdadeira independência não é só ser capaz de se manter financeiramente, mas principalmente, ser capaz de enfrentar os medos, os desejos, de ser consciente do que sente e acreditar que é possível encontrar alguém que valorize tudo aquilo que você doa sem que seja pedido. Alguém que saiba reconhecer que, além de um corpo ou rosto bonito, existe um ser humano com sentimentos, que chora, reclama, pede, espera, mas também acolhe, cuida, torce, e deseja acima de tudo, troca.

Afinal, somos capazes de parar seja o que for e lembrarmos de dar um ligada ou enviar uma mensagem só para que o outro se sinta importante. Somos capazes de mesmo cansadas, lembrar de dar um abraço e perguntar como foi o dia, mesmo que o próprio tenha sido péssimo. É, somos capazes acima de tudo, de amarmos e continuarmos amando, mesmo machucadas.

Por isso e muito mais, é que temos que continuar demonstrando o que sentimos, sem negações, fugas ou culpas. Temos que valorizar cada vez mais o quanto somos únicas e especiais, para que assim possamos ser reconhecidas por quem amamos.

Quando acreditarmos em nós mesmas, não permitiremos mais sonhos vazios, relações doentes, falta de respeito e amor, nem mendigaremos por migalhas, pois neste momento seremos capazes de nós amarmos e estaremos finalmente livres para amar, ser amada e enfim… sermos felizes!

Um dia quem sabe encontraremos um homem que perceba e valorize a simplicidade de nossos desejos, nosso dom inato de doar e amar incondicionalmente. Tenha certeza, nosso ser é único!

Femincídio e Lei Maria da Penha

Nota do Editor:

Embora a Lei Maria da Penha esteja em vigor desde 2006, com objetivo de proteger a mulher contra qualquer tipo de abuso e violência, os crimes de femincídio, simplesmente matar uma mulher por ela ser do gênero feminino, são uma tragédia no Brasil.

Segundo monitoramento da violência feito por mídias independentes, agora na pandemia, uma mulher é morta a cada 9 horas no Brasil, Foram 497 casos de feminicídio reportados entre março e agosto do ano passado.


Psicóloga com abordagem junguiana com especialização em psicossomática. Desenvolve uma abordagem voltada para o autoconhecimento e criança interior.