Por que as mulheres andam tão bravas?

por Arlete Gavranic

Quantas dificuldades acontecem por problemas relacionados à comunicação entre os parceiros.

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Sempre ouvimos reclamações de mulheres sobre parceiros grosseiros, dos que não conversam, dos que são autoritários, ou daqueles que têm hábito de dar ordens, nunca de pedir ou colaborar.

Sempre entendemos isso como um problema sociocultural com explicações sobre atitudes machistas, diferenças de gênero, justificativas relacionadas a modelos familiares ou de grupos sociais.

Atualmente, chama atenção uma queixa crescente de casais relacionada a atitudes semelhantes a desse tipo de homem: mulheres bravas, falando em tom autoritário, com intolerância e agressividade.

O que vem acontecendo com essas mulheres? Por que será que isso ocorre? Já que as questões de aprendizagens socioculturais e de gênero nunca foram estímulo para esse padrão comportamental mais autoritário nas mulheres.

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Vamos pensar em vários fatores que parecem levar para as causas dessas queixas.

Muitas mulheres desenvolvem uma postura mais agressiva, com tom autoritário, por terem vivido situações onde se sentiram pouco atendidas ou pouco ouvidas por seus parceiros em suas necessidades. Muitas passam a alimentar uma mágoa (tristeza com raiva), o que alimenta esse tom autoritário, como se não adiantasse pedir ou esperar, então, às vezes sem consciência do que estão fazendo, passam a ter atitudes com alto nível de exigência e tom mais ditatorial, principalmente com seu parceiro.

Outro aspecto que observo bastante nesses conflitos conjugais, é que muitas vezes o cansaço acumulado com a tripla jornada (trabalho profissional, trabalho doméstico e ainda papel de mãe orientadora/professora particular), sem receberem ajuda na divisão das atividades doméstica e familiar, e nem sentirem a disponibilidade do parceiro em colaborar; acaba por estimular esse lado insatisfeito de muitas mulheres que passam a apontar criticamente e com tom autoritário essa falta de postura participativa dos parceiros.

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As mulheres que acumulam em seu repertório de insatisfações e mágoas a sensação ou o fato de terem sido traídas, podem também desenvolver uma postura de raiva que as leva a ter atitudes bem exigentes, controladoras ou autoritárias.

Há também um outro grupo, o das mulheres acostumadas em suas vidas profissionais a ter que tomar decisões, coordenar equipes, orientar grupos. Inclusive, vejo muitas pesquisadoras, professoras que em suas atividades desenvolvem uma postura proativa, às vezes em tom diretivo e acabam levando esse comportamento até para seus relacionamentos.

Aí vem a questão a ser trabalhada, essa postura mais proativa com tom mais diretivo ou autoritário passa a alimentar para as pessoas a imagem de uma mulher brava e/ou mandona.

Os homens reagem a essas posturas mais autoritárias das mulheres de diferentes formas. Muitos vão alimentar a ideia de que "mulheres ficam chatas" e passarão a ignorar as atitudes dessa mulher – o que poderá deixá-la mais irritada ainda. Outros podem se irritar, isso pode desencadear uma disputa de poder entre o casal, gerar atitudes agressivas que desgastam o vínculo e faz o afastamento se instalar na relação. Assim, tudo que for falado será interpretado como ordem, crítica ou será vivido como competitividade.

Afastamento: círculo vicioso

Em consequência, o homem se afasta por não sentir uma postura afetuosa da parceira, sexualmente também ocorre o afastamento, e aí se distancia ainda mais. Ela, por sua vez, se sente desprotegida e passa a ter atitudes com teor mais agressivo, o que aumentará sua necessidade de sentir-se no comando, pois se sentirá desamparada em suas necessidades práticas e afetivas.

Espero que mulheres e homens que se percebem vivendo esses padrões de relacionamento repletos de atitudes pouco afetuosas e com tom autoritário, com a sensação de desproteção ou de mágoas, parem de se enfrentar. Está na hora de parar para conversar e ouvir as necessidades do outro afetivamente! Se a mágoa estiver muito grande, talvez seja necessário uma terapia de casal para conseguir falar com a mediação terapêutica para que o ouvido e o jeito de falar seja afetuosamente treinado. Sim, nós precisamos tomar consciência de como falar, como ouvir, como demonstrar carinho e até aprender a pedir carinho, atenção e colaboração.

Aprender a falar do que se quer de bom para a vida é prioridade. Os casais precisam parar de alimentar mágoas e medos e ficarem sempre se acusando, cobrando com tom destrutivo. Se o foco for negativo será provável um afastamento, desentendimentos e até uma separação. Se aprendermos a dar oportunidade de valorizar o que cada um tem de bom e aprendermos a afetivamente investir nas mudanças necessárias, essa troca a dois poderá ser proveitosa para o crescimento individual e do casal, e uma reconciliação afetuosa torna-se uma possibilidade.